Em breve assistiremos ao filme baseado no livro O Código Da Vinci, de Dan Brown. O Opus Dei, entidade que aparece como vilã na trama do best-seller, tem procurado desmoralizar filme e livro, alegando que se trata de mero ataque à Igreja católica. Bela meia-verdade.

Meia-verdade, porque ao Opus Dei pouco importam os ataques diretos ou indiretos feitos à Igreja. O Opus Dei está preocupado com sua própria imagem e “reputação”, isto sim. Se de fato estivesse atento ao que ocorre na literatura chamada “anticristã”, teria lançado campanhas semelhantes quando foram publicadas obras como O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago, ou O Evangelho segundo o Filho, de Norman Mailer, ou The Christ Clone Trilogy, de James BeauSeigneur, ou o bizarro Os astronautas de Yahev, de J.J. Benítez, em que se relata a intervenção de extraterrestres em várias passagens do Antigo e do Novo Testamento, como a travessia do Mar Vermelho e a concepção virginal de Jesus.

O que incomoda mesmo o Opus Dei é a possibilidade de que a Igreja perceba, em meio aos aspectos ficcionais e até caricaturescos da história, aquilo que uma passagem do livro, no capítulo 100, deixa entrever de realmente preocupante e verossímil: o prelado da Obra conta os motivos pelos quais o novo papa decidira separar o Opus Dei da Igreja.

As práticas de proselitismo agressivo com menores de idade, o modo como as mulheres são tratadas na instituição e a insistência na mortificação corporal obrigatória (cilício e disciplina) constituem algumas razões sérias para que a Igreja repense seu apoio ao Opus Dei. Os livros de Saramago ou de Benítez vão e vêm. O que continua, e continua dentro da estrutura eclesiástica, é uma organização cujo perfil arrogante, mentiroso e passadista escandaliza os próprios fiéis católicos.

No Opus Dei, exerce-se controle contínuo e obsessivo sobre a consciência de seus membros, pratica-se a coação psicológica contra quem deseja desligar-se da prelazia, e as “crises de vocação” decorrentes desta coação passam a ser encaradas como distúrbios psiquiátricos. Tudo isso a Igreja católica repudia, em teoria. Agora, precisa descobrir que, na prática, queira ou não, está aprovando essa conduta.

Diante da cúpula da Igreja (leia-se papa e bispos), o Opus Dei se apresenta como instituição certinha pra chuchu. Para além da fachada, porém, lá nos fundos, a realidade é bem outra.
 
Gabriel Perissé é doutor em educação pela USP e professor do mestrado em educação da Uninove-SP.