Objeto-presença: poesia

         [Francisco Miguel de Moura*]      

         Convidado a fazer a apresentação do livro “OBJETO PRESENÇA”, de autoria de Luiz Ayrton Santos Júnior, na Livraria Anchieta, nesta Capital, cujo convite muito me honrou, não levei nenhum discurso escrito e falei simples e francamente como fala um poeta a outro poeta e a seus ilustres convidados. Ainda mais porque, não obstante numa distância considerável, ainda somos parentes pelo seu lado paterno. Já conhecia Luiz Ayrton, claro, mas esse conhecimento também era de um bom tempo: Ele era estudante de Medicina em Recife e eu trabalhava no Banco do Brasil, em Teresina, onde editava a revista Cirandinha.  Ele já escrevia bons poemas, e um dia me visitou em casa, onde trocamos amigável “papo” sobre o assunto que queríamos: Poesia. Em Pernambuco, ele se dispôs a divulgar a revista. E, se me lembro bem, passou a colaborar com poemas para a publicação. Foram poucos, um ou dois, seu interesse maior era divulgá-la, o que fez muito bem, na sua ousadia de jovem.

      Como tenho dito, não faço mais crítica literária – eis a razão deste parágrafo introdutório. Hoje, dedico-me apenas a escrever poemas, artigos e crônicas. Mas não posso deixar de afirmar que o poeta Luiz Ayrton é um senhor poeta. A. Tito Filho tinha razão: “os médicos escrevem bem.” Poeta sem jaça, como Ayrton Júnior, são poucos. Devem ser olhados com carinho. Ele é um poeta de si mesmo, como todos os bons poetas, e escreve para o mundo, razão por que, como ele próprio afirma aos seus convidados, no livro não há sequer uma dedicatória deste ou daquele poema a fulana ou a fulano.

        Linguagem simples para um poeta forte. E eu digo: o leitor que disser que não entende a mensagem de “OBJETO PRESENÇA” precisa aprender a ler, ou reaprender. Porque, no nosso mundo de tevê e internet, há muita gente que aprendeu a ler na escola, depois esqueceu por falta de treino, de uso da leitura.  São poemas curtos e densos, linguagem trabalhada como está na lição de Drummond: “lutar com a palavra / é a luta mais vã / no entanto, lutamos, mal rompe a manhã”. Também seu trabalho não deixa vestígio, aquele que bem lembrava Olavo Bilac, no famoso poema “Profissão de Fé”.  Outra característica importante que quero apontar é que há uma sensualidade latente em quase todos os seus poemas, por conta talvez da sua profissão de médico, cujas mãos abençoadas parecem sentir mais do que as nossas. Simpatia pela vida, pela criatura humana, amor, em nenhum momento podemos dizer que seja amargo, embora com palavras duras, sérias. O poeta brinca com a vida, porque a vida deve ser sempre alegre, gostosa, a vida é nosso mistério e todo mistério vem de Deus: é divino.  Se assim escrevo, e creio estar certo, não é para apontar nenhum viés religioso na sua poética. Ao contrário, ela é muito mais universal que a de outros que se passam por grandes. Sem preconceitos.  Nele, tudo é poema, desde que haja palavra, e mesmo que não haja palavra fala com os interditos. Poeta inventa, a poesia é a divina satisfação de dizer a verdade que ninguém disse. Poeta originalíssimo, não há como não aplaudi-lo, elevando-o à ordem de grandes poetas da nova geração de poetas brasileiros como Aricy Curvello e Alcides Buss, aquele de Minas, e este de Santa Catarina.  Entre os já falecidos citaria Paulo Leminsky e Torquato Neto. E basta, pois não são tantos dessa categoria.

           Pra dizer mais, só mostrando o poema “PRODUTO”, justamente o que abre o livro:

 “Tenho / mesmo valor / umbigo / padrão adjetivo / mercadoria vendida / diferida // tenho / artigo teoria / registro digno / família / minas / complico esquinas / abrigo terezinas / socialismo // não interesso / ditar métodos / modos modelos / poeta fruto / não só trabalho / sou produto”. (pg. 17). 

      Outro poema muito sentido, que selecionaria para uma novíssima e universal antologia, seria “PULSO CONTIDO”.  Tudo contido, sem sentimentalismo. Infelizmente, não dá pra mostrar mais.  E creio que é o suficiente para que desperte o interesse que todos nós devemos ter pela poesia, em minha opinião, “A EXPRESSÃO MÁXIMA DA BELEZA DA ALMA HUMANA”.

 

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*Francisco Miguel de Moura, autor deste artigo, é escritor e membro da Academia Piauiense de Letras (APL), da União Brasileira de Escritores (UE-SP) e da International Writers and Artists Association, com sede em Toledo, OH, Estados Unidos.