O Vieira de Amélia Pais





ACABEI DE LER O SEU EXTRAORDINÁRIO "IMPERADOR DA LÍNGUA".
UMA PERGUNTA: A AVÓ DE VIEIRA QUE ERA NEGRA ERA ESCRAVA?
SEU LIVRO É MUITISSIMO BOM, E ESPERO VE-LO PUBLICADO NO BRASIL.
JÁ ESCREVI QUE VIEIRA "ERA BRASILEIRO" (RISOS) - VEIO COM 7 ANOS, ESTUDOU AQUI, LUTOU POR NÓS, POR NOSSOS INDIOS, E DIZEM QUE SEU PORTUGUÊS SOAVA ABRASILEIRADO...
MAS O BRASIL NAO PREZA NEM OS AQUI NASCIDOS...
VOU ESCREVEU E PUBLICAR UM TEXTO SOBRE SEU E NOSSO IMPERADOR.
OBRIGADO,
ROGEL SAMUEL

Ainda bem que gostou do Vieira, que é também o meu último livro publicado nos 400 anos...Em relação a eventual publicação no Brasil, o meu actual editor está a tratar disso. O Fernando Pessoa para jovenzinhos, esse, será publicado pela Companhia das Letras - não sei é quando...espero que brevemente. Outro que gostaria de ver aí publicado é Os Lusíadas em prosa - a meu ver o melhor dos 3 que lhe enviei e que já existe desde 1996. Mas a minha outra editora não é assim tão de propor edições no Brasil. A menos, creio, que para tal fosse solicitada a partir daí.
Sim, Vieira é o primeiro luso-brasileiro de enorme importância para a nossa língua. Não sei ao certo se a avó de Vieira era ou tinha sido escrava - Na realidade nem sei bem ao certo se era negra, se mulata. Vivia, sim, já em Portugal e, se não era escrava, em todo o caso tê-lo-ia sido - casou cá e com branco e cá deixou descendência - o nosso Vieira destacou-se entre todos os seus descendentes (o próprio Vieira era mestiço) pelo fulgor que deixou nos seus sermões e cartas - e também pela vida extraordinária e ideias algo contraditórias(no que à religião tocava, apesar de jesuíta, na sua crença no 5ºimpério- o Vieira visionário que tanto agradou a Pessoa). Por incrível que possa parecer-lhe,a obra completa dele em Portugal só agora está a surgir, lentamente -saiu edição crítica do I volume a preço proibitivo. Eu comecei a ler 3 volumes de sermões escolhidos e 2 de cartas aos meus 16 anos .É um prazer ouvir ou ler a sua prosa barroca .
Nas nossas escolas secundárias apenas se trabalha o Sermão de Santo António aos Peixes - e mesmo assim na visão redutora de «como modelo literário do texto argumentativo»?.Cada vez o ensino da literatura é mais abandonado: saber ler é ajudar a saber pensar e isso é perigoso - hoje, como diz G.Steiner, a educação tornou-se uma amnésia planificada...Claro que alguns bons professores conseguem ultrapassar as orientações programáticas recebida. Por exemplo, Camões - o lírico - aparece como modelo literário do discurso autobiográfico, de 1ªpessoa, e apenas com alguns sonetos...A noção de literariedade não conta para os autores dos programas...E ainda menos a questão dos conteúdos...(percebe-se porquê)- falo do ensino secundário - de que me aposentei há uns 5 anos.
Costumo dizer que Vieira está para a prosa como Camões para a poesia ...e tenho um amigo poeta que diz que se Vieira tivesse escrito em francês na sua época teria sido mais unanimemente reconhecido do que Montaigne...

Um abraço - quanto a mim, ainda não comecei a ler o seu livro: ando ás voltas com mais um Philip Roth(o último, bom, mas menos interessantes que A Mancha Humana e outros e outros ou como O animal moribundo, por exemplo...)
Lerei, logo que tenha uma folga entre os vários que me aguardam.Esta semana reli 3ª ou 4ª vez A morte de Ivan Ilich de Tolstoi - e quase estou em dizer que ele supera as suas obras mais famosas - de que gosto muito, aliás.
De momento não penso escrever sobre mais nenhum autor.

Tenho pena de não poder enviar-lhe os outros livros que escrevi, para público mais crescido, embora sempre em registo didáctico - mas não tenho exemplares. Talvez qualquer dia,,,Creio que, talvez, o Para compreender os Lusíadas(o meu 1º livro - e que é sucessivamente reeditado e o Para compreender Fernando Pessoa talvez se possam encontrar no Brasil...sei que há livrarias e distribuidoras que o tinham- ou têm.

Um abraço e bom domingo, o 1º de março, o das «chuvas de verão» aí.
Amélia