Pegaram o telefone celular de Sandoval sem sua autorização. Aconteceu outro dia. Para ele, tratava-se de um bom aparelho, pois tinha uma agenda folgada e uma prática câmera fotográfica. Não contava com essas modernidades tipo mp3 player, bluetooth, infravermelho, gravador e reprodutor de vídeo, envio e recebimento de e-mails, tecnologia wireless, 3G, escambau.
     Quanto ao aparelho propriamente dito, não foi um prejuízo material muito grande. É que ele havia migrado, meses antes, de uma operadora para aquela e, graças a um processo de fidelização com a nova concessionária, conseguira-o quase de graça, após, claro, comprometer-se de que permaneceria utilizando seus serviços pelo tempo que ela lhe exigira. A propósito, depois do sumiço do telefone, pôde perceber que essa jogada de repactuação contratual nem sempre é um bom negócio. No seu caso, mesmo tendo documentado o desaparecimento do equipamento, para obter um modelo mais avançado, com as mesmas facilidades e, imediatamente, somente contratando uma conta pós-paga de muitos minutos e, claro, de boa monta financeira.
     Como o celular sumira de um recinto familiar, um clube social tradicional onde praticava esportes há anos, julgou conveniente não registrar a ocorrência na polícia para não melindrar companheiros de convívio, espalhando a cizânia e a desconfiança entre eles; afinal, filosofava: não se deve duvidar da honestidade de amigos.
Outro fato que descobriu em consequência da perda: a burocracia que o cidadão honesto enfrenta para bloquear a utilização do bem extraviado. Perde-se um tempo razoável junto à operadora até se conseguir registrar o extravio, furto ou roubo. Manifestando interesse em continuar com o mesmo número, aí, minha gente, haja paciência, que, diga-se de passagem, nosso amigo não teve.
     Os passos que a operadora exige sejam executados por quem deseja a manutenção do número antigo vão, desde a aquisição de um chip virgem, solicitação de desbloqueio do telefone surrupiado/perdido, anteriormente bloqueado, até a requisição de ativação do novo chip para liberação da linha, que pode levar mais de um dia.
     Sandoval não perguntou à cessionária porque lhe pareceu óbvio, se, também no interstício entre o desbloqueio e a reativação do novo chip, o substituído permaneceria inutilizado. Apesar de ter ficado cabreiro com a história de pedir para desbloquear um chip bloqueado pouco antes, sem que o mesmo houvesse sido localizado.
     Descobriu Sandoval que o pior para quem perde um celular e, principalmente, um chip que possuía há bastante tempo, não são as fotografias não apreciadas, as mensagens não lidas, nem mesmo o prejuízo financeiro, mas a agenda com os números de contatos de parentes, amigos ou clientes.
     Por isso, em seu nome e, certamente, no de todos que estão em situação parecida, pediríamos aos que encontraram ou, inadvertidamente, se apropriaram de telefones que não lhes pertenciam que, caso ainda estejam com eles ou, por acaso, saibam de seu paradeiro, que devolvam os chips. Permitam que os donos recuperem as agendas perdidas. Uma sugestão: deixem-nos no setor de achados e perdidos dos Correios ou para lá os remetam. Se quiserem, destinem-nos à caixa postal do Sandoval: ele dará um jeito de localizar os demais proprietários. Querem que peçamos por favor? Tudo bem: por favor, façam isso.
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal e escritor piauiense ([email protected])