O VALOR DA VIDA HUMANA

     Na teoria, o valor da vida humana, qualquer uma, é incomensurável. Na prática, a vida dos ricos e bilionários vale muito mais do que a vida de um refugiado, por exemplo. Desde 1960, ou seja, há 63 anos, pessoas fogem de Cuba em barcos improvisados com destino à Flórida, nos EUA. Muitos (Quantos? Centenas? Dezenas? Milhares?) já morreram nessa travessia, mas ninguém se emociona nem se indigna com essas mortes. Também não há notícias de que a guarda costeira dos EUA tenha manifestado algum interesse de resgatar barcos e pessoas que fogem de Cuba. Por quê? Por que já viraram lugar-comum essas mortes? Somos, como pessoas, apaixonadas pelo ineditismo? Será que só nos interessamos por notícias sobre fatos inéditos?

     Quantas pessoas lamentaram o fuzilamento de refugiados que tentaram escapar da extinta Alemanha Oriental, querendo ir para a Alemanha Ocidental entre 1961 e 1989?

     A guerra na Síria começou em 2011. Milhares de pessoas têm fugido desse conflito e muitas têm morrido. Mas o único falecimento que emocionou  as redes sociais foi o do menino Ayslam, encontrado sem vida numa praia, na Turquia, em 2015.

     Grandes levas de refugiados têm sido barrados na fronteira dos EUA com o México, principalmente durante o governo de Donald Trump, cujo avô foi um imigrante que entrou nos EUA para melhorar de vida financeiramente. Essa melhora de vida é o mesmo objetivo daqueles que tentam entrar hoje nos EUA. Nada a estranhar nessa tentativa, pois melhorar a vida financeira é objetivo de todos os seres humanos. No entanto todos os refugiados do mundo, que são pessoas carentes, têm a indiferença das redes sociais, da imprensa, dos governos dos países ricos. Quem ainda lhes dá um pouco de atenção é a ACNUR, a agência da ONU para refugiados.

     Para comprovar a supervalorização da vida de quem tem muito dinheiro, lembremos a implosão do submersível Titan. Quatro bilionários pagaram, cada um, 250 mil dólares para fazer uma viagem turística até o Titanic, naufragado em 2012 e que está a quase 4 mil metros de profundidade no oceano Atlântico. A partir do momento em que se soube que o Titan perdeu o contato com a Ocean Gate, sua empresa em terra firme, montou-se uma verdadeira operação de guerra para encontrar esse submersível. As guardas costeiras dos EUA e do Canadá foram mobilizadas imediatamente. Sofisticados navios de busca e salvamento em águas profundas entraram em ação também. Até agora, não encontraram corpos ou o que sobrou deles. Mas o submersível foi encontrado e já vão empenhar mais esforços para descobrir o que realmente aconteceu, embora cientistas, bem antes do desastre, tivessem apontado falhas graves no Titan. A supervalorização da vida dos bilionários vai continuar, enquanto pobres refugiados continuam a morrer, fugindo de guerras e perseguições e tentando melhorar de vida nos países ricos.