FONTE:
Olhamos para o tempo passado com saudade, para o presente com desprezo, e para o futuro com esperança: do passado nunca se diz mal; do presente continuamente nos queixamos, e sempre apetecemos que o futuro chegue: o passado parece-nos que não foi mais do que um instante; o presente apenas o sentimos; e julgamos que o futuro está ainda mui distante. Para dizermos bem do tempo, é necessário que ele tenha passado, e para que o desejemos é preciso considerá-lo longe. A vaidade faz-nos olhar para o tempo que passou, com indiferença, porque já nele fica sem ação; faz-nos ver o presente com desprezo, porque nunca vive satisfeita; e faz-nos contemplar o futuro com esperança; porque sempre se funda no que há de vir; e assim só estimamos o que já não temos; fazemos pouco caso do que possuímos; e cuidamos no que não sabemos se teremos.
AIRES, Matias. Reflexões sobre a vaidade dos homens. Rio de Janeiro: José Olympio, 1953. p.61