O soneto sobre Olinda


Rogel Samuel



Eu já escrevi não sei quantas vezes sobre o soneto de Ernesto Penafort sobre Olinda, eis
porque eu vivi em Olinda na minha juventude alguns dos mais belos dias de minha vida. E
pretendo voltar a Olinda, não sei o que vou encontrar, como estará, se ainda existe a paz,
o sob o silêncio que descia o vale, quando era vale, o além-muro das casas e igrejas,
o vento que vinha do mar, a chuva fértil de poesia do desejo de ser, de juventude ser,
Eu não conheci Penafort, hoje morto. Ouvia sempre sua lenda de bom poeta. Como o
amor que lá vivi já passou há décadas, lembro que tudo é um grito de um fruto mudo,
tudo está no tempo passado, na linha invisível do tempo que, debaixo do sol de Olinda
em seu silêncio nasce e morre.


noutros tempos, Olinda, eras futuro.
sob sol e silêncio se descia
ao vale, e o vale fertil pressentia
a intenção dos abraços, além-muro.
vieram ventos. choveu do intento puro
o desejo de ser, no qual se cria:
pronta a rosa entendida falecia
sob sol e silêncio no chão duro.
várias chuvas passaram, hoje banho
noutras águas a vida, pois, de antanho,
só a luz do teu rosto é que me ocorre,
entre silencio e sol, mas como tudo,
se incorpora, no tempo, a um fruto mudo:
sob sol e silencio nasce e morre.



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