O serviço de entregas da Kiki
Por Miguel Carqueija Em: 10/03/2011, às 12H55
(Miguel Carqueija)
“Majo no Takkyubin” é o título original desta animação japonesa de 1989, do Estúdio Ghibli, mais uma cabal demonstração do talento grandioso do novo Walt Disney, o diretor japonês Hayao Miyazaki, realizador de “Nausicaa do Vale do Vento”, “O castelo de Cagliostro”, “Laputa”, “Meu vizinho Totoro”, “A viagem de Chihiro” e outras obras-primas.
Há nos filmes de Miyazaki um perfeccionismo exemplar, as imagens são verdadeiras aquarelas animadas (aliás esse minimalismo estético-gráfico vem se destacando na animação japonesa dos anos 90 para cá, inclusive em seriados exemplares como “Juna”), os detalhes da natureza e das construções humanas, impressionantes.
“O serviço de entregas da Kiki” passa-se num mundo que seria o nosso da década de 50, com a diferença de que as bruxas voadoras são comuns e integradas na sociedade. Elas ganham maioridade aos 13 anos, quando devem sair pelo mundo em suas vassouras, escolhendo uma cidade onde já não haja nenhuma bruxa, passando ali um ano afastadas da família, a grande prova de iniciação.
A gentil e adorável Kiki despede-se da família e voa longamente em sua vassoura, chegando a uma cidade grande onde sua presença causa algum espanto – afinal, bruxas são raras – mas acaba se hospedando numa padaria, acolhida gentilmente pelo casal de donos. Detalhe: a mulher está grávida, o que raramente é mostrado em desenhos.
Kiki “bola” um meio de ganhar a vida, como entregadora de objetos ou alimentos. E não se pode imaginar entregadora mais eficiente, já que chega rapidamente a locais distantes, sem muito esforço e sem gastar combustível. Para isso servem as vassouras...
Kiki tem também um “familiar” – um bicho de estimação que com ela interage, o gato preto Jiji. Pela data deste anime, pode ter inspirado Naoko Takeushi na criação de Luna, a gata de Sailor Moon. Kiki fala com Jiji, mas as pessoas comuns só escutam dele os miados.
Kiki é uma bruxa bondosa, corajosa e empreendedora. O filme todo passa uma mensagem de otimismo, solidariedade, serventia. Não há vilões nem conflitos. Para aquelas pessoas que identificam desenhos japoneses com violência – porque só conhecem Naruto ou Cavaleiros do Zodíaco – é uma grande recomendação. O único conflito, de fato, é existencial: a crise de identidade de Kiki, que tem dificuldade em aceitar a amizade de Tombo, um garoto apaixonado por navegação aérea e que por isso mesmo fica vidrado na bruxinha que voa com a maior facilidade. É bem um filme do mesmo realizador de Totoro.
Miyazaki adaptou um livro de Eiko Kadono.
Quando teremos em quantidade, nas nossas livrarias, a literatura japonesa?