[Flávio BIttencourt]

O sapateiro pobre

Para quem inventou essa estória triste, ganhar sozinho na megassena acumulada é azar.

 

 

 

 

 

 

 

"DINHEIRO NA MÃO É VENDAVAL"

(DITADO POPULAR)

 

 

 

 

Lotéricas do Piauí vão ser blindadas contra assaltos:

 

 

 

 

 

 

 

"Casas lotéricas serão blindadas para evitar roubo"

(http://www.portalboahora.com/policia/lotericas-do-piaui-vao-ser-blindadas-contra-assaltos.

foto que ilustrou matéria do radialista Frank Ribeiro,

DIÁRIO DO POVO - Seção Polícia - "Roubo", 23.2.2011)

 

 

 

 

"CERTAS ESTÓRIAS NÃO CONSEGUEM CONVENCER. A DO SAPATEIRO POBRE, POR EXEMPLO, NÃO CONSEGUE TRANSFORMAR O SEU PÚBLICO-ALVO EM CONJUNTO DE PESSOAS POBRES-FELIZES. PELAS FILAS QUE SE FORMAM EM LOJAS LOTÉRICAS, QUANDO O CONCURSO DA MEGASSENA ACUMULA MUITO DINHEIRO (JUNTANDO-SE AO MONTANTE QUE NÃO FOI VENCIDO NO JOGO ANTERIOR), AO QUE TUDO INDICA AS PESSOAS QUEREM GANHAR, SEM FAZER FORÇA, MUITO DINHEIRO DE UMA VEZ SÓ."

(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://j-cabodastormentas.blogspot.com/2009/11/o-sapateiro-pobre.html)

 

 

 

16.3.2011 - Aos autores da triste estória do sapateiro pobre, não é bom ganhar muito dinheiro de uma vez só - O problema é que a impressão que se tem é que tampouco ganhar muito dinheiro aos poucos seria bom, dado o destino de sapateiro pobre que seria - segundo os autores da estória  - a prefiguração inelutável do status socioeconômico daquele trabalhador e de sua decidida (a continuar pobre) família.  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

BLOG ESCREVINHANDO:

"Sábado, 31 de Março de 2007
 
O SAPATEIRO POBRE
 
Havia um sapateiro que trabalhava à porta de casa e todo o santíssimo dia cantava. Tinha muitos filhos, que andavam rotinhos pela rua, pela muita pobreza, e à noite, enquanto a mulher fazia a ceia, o homem puxava da viola e tocava os seus batuques muito contente.
 
Ora defronte do sapateiro morava um ricaço, que reparou naquele viver e teve pelo sapateiro tal compaixão que Ihe mandou dar um saco de dinheiro, porque o queria fazer feliz.
 
O sapateiro lá ficou admirado. Pegou no dinheiro e à noite fechou-se com a mulher para o contarem. Naquela noite, o pobre já não tocou viola. As crianças, como andavam a brincar pela casa, faziam barulho e levaram-no a errar na conta, e ele teve de lhes bater. Ouviu-se uma choradeira, como nunca tinham feito quando estavam com mais fome. Dizia a mulher:
 
- E agora, que havemos nós de fazer a tanto dinheiro?
 
- Enterra-se!
 
- Perdemos-lhe o tino. É melhor metê-lo na arca.
 
- Mas podem roubá-lo! O melhor é pô-lo a render.
 
- Ora, isso é ser onzeneiro!
 
- Então levantam-se as casas e fazem-se de sobrado e depois arranjo a
oficina toda pintadinha.
 
- Isso não tem nada com a obra! O melhor era comprarmos uns campinhos.
Eu sou filha de lavrador e puxa-me o corpo para o campo.
 
- Nessa não caio eu.
 
- Pois o que me faz conta é ter terra. Tudo o mais é vento.
 
As coisas foram-se azedando, palavra puxa palavra, o homem zanga-se, atiça duas solhas na mulher, berreiro de uma banda, berreiro da outra, naquela noite não pregaram olho.
 
O vizinho ricaço reparava em tudo e não sabia explicar aquela mudança.
Por fim, o sapateiro disse à mulher:
 
- Sabes que mais? O dinheiro tirou-nos a nossa antiga alegria! O melhor era ir levá-lo outra vez ao vizinho dali defronte, e que nos deixe cá com aquela pobreza que nos fazia amigos um do outro!
 
A mulher abraçou aquilo com ambas as mãos, e o sapateiro, com vontade de recobrar a sua alegria e a da mulher e dos filhos, foi entregar o dinheiro e voltou para a sua tripeça a cantar e a trabalhar como de costume.
 
publicado por escrevinhando às 22:09".