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 O SACRIFÍCIO DE JESUS

Miguel Carqueija

 

 

“O Verbo era a verdadeira Luz  que, vinda ao mundo, ilumina todas as pessoas. Estava no mundo e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não o conheceu.”

(Jo 1, 9-10)

 

            Embora a imagem da Cruz com o Cristo tenha se tornado de certa forma banal (no sentido de que todos a conhecem) parece-me que a maioria das pessoas (mesmo católicas) não se poem muita a pensar no que representou o martírio de Nosso Senhor, relembrado nestes dias da Semana Santa.

            A narrativa evangélica dá claramente a entender que, desde o momento de sua prisão no Jardim das Oliveiras, pela traição de Judas Iscariotes, Jesus não teve, até o momento da morte, um único alívio. Não lhe deram alimento e nem água e, por outro lado, a flagelação já de si provocou espantosa perda de sangue. A própria coroa de espinhos agravou a situação. Aliás, existem plantas espinhosas na Palestina, e seria fácil elaborar a infame coroa.

 

“Alguns começaram a cuspir nele, a tapar-lhe o rosto, a dar-lhe socos e a dizer-lhe:  “Adivinha!” Os servos igualmente davam-lhe bofetadas.”

(Mt 14,65)

 

            Isto ainda foi no julgamento preliminar diante do Sumo Sacerdote Caifás, pois coisas piores estavam reservadas no julgamento definitivo, realizado pelo governador romano, Pôncio Pilatos. Este estava mesmo inclinado a absolver Jesus, pois não tinha as torpes motivações dos fariseus. Com medo porém que o intrigassem com César, num lamentável exemplo de pusilanimidade, acabou assinando a sentença, procurando se eximir de responsabilidades no inócuo gesto de lavar as mãos. Antes, porém, procurando “ajudar” Jesus, mandou flagelá-lo na ingênua esperança de aplacar os seus inimigos – os fariseus e a populaça manipulada que enchia o local, fazendo grande algazarra: “Crucifica-o! Crucifica-o!” A flagelação, das mais cruéis, com a utilização de chicotes com pontas metálicas que arrancavam pedaços de pele e carne, foi efetuada pelos soldados romanos. Por que foram tão ferozes com o Messias, se não acreditavam no Judaísmo e não tinham as motivações dos fariseus? O episódio reflete a ferocidade do paganismo que então dominava quase todo o mundo.

 

“Aproximavam-se dele,ofereciam-lhe vinagre e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!”

(Lc 23, 36-37)

 

            Este é o único “alívio” que os Evangelhos relatam: o vinagre embebido numa esponja, oferecido com Jesus já pregado no madeiro. Este último sofrimento foi precedido pela horrível subida do Calvário, carregando a trave da cruz, quando o Salvador já não tinha forças para suportar aquele peso. Nem se pense que houve alguma intenção misericordiosa quando obrigaram certo Simão Cireneu a ajudá-lo. O dia seguinte era um sábado e, para a religiosidade formalista e seca dos fariseus, praticamente nada se podia fazer em dia de sábado – nem sequer matar. Ou seja, precisavam que Jesus morresse ainda na sexta ou teriam que adiar sua execução. E por conta dessa hipocrisia, mas sem culpa pessoal, Simão Cireneu entrou para a História como o homem que ajudou o Cristo a carregar a cruz. Não esqueçamos que Jesus tombou várias vezes subindo a colina.

            Não custa nada se todos nós refletirmos um pouco  nestes sofrimentos que mostram o quanto Jesus nos ama e o que Ele fez por nós – algo que a humanidade em peso vem desprezando, exceto os cristãos ainda fiéis.

 

 

Rio de Janeiro, 29 de março de 2015