O RIO DE JANEIRO PEDE SOCORRO
Por Cunha e Silva Filho Em: 10/01/2017, às 16H46
[Cunha e Silva Filho]
Há quase cinquenta e três anos moro no Rio de Janeiro. É a minha cidade natal por adoção. Em todo o longo período de residência nesta cidade, umas das mais admiradas no mundo inteiro, não existe turista que não se encante com ela e é por esse motivo que muitos estrangeiros passam por aqui e terminam ficando para sempre. Com uma vocação sem paralelo para o turismo, dadas as suas qualidades sobejamente cantadas em prosa e verso, a cidade de São Sebastião, assim como todo o interior do Estado homônimo, sofre uma das maiores crises estruturais de sua história. Nesses anos todos, pude observar o mandato de diversos governos estaduais, até mesmo dos biônicos do tempo da ditadura militar.
Contudo, desde quando se tornou governador fluminense, o Sr. Sérgio Cabral, a meu ver, se mostrou, sobretudo no segundo mandato, o pior governador que já teve o Rio de Janeiro. Durante as duas gestões marcadas pelo autoritarismo e pela falta de diálogo, todos os setores da vida pública foram afetados pela sua péssima e fraudulenta administração a ponto de, ao ser empossado o novo governador eleito, Sr. Pezão, logo no início começaram a desandar com tal magnitude, agravada ainda mais por uma doença de que foi acometido.
A máquina da administração estadual entrou em regime de UTI: falência nas finanças, nos setores da educação estadual (ensino médio e universitário, representado este pela franca decadência financeira de um universidade do porte da UERJ ), na saúde pública que está com seus hospitais quase fechando, e sobretudo com a pior situação já vivida pelo funcionalismo público, desde o ano passado, recebendo seus vencimentos atrasados com atraso e em parcelas irrisórias, com exceção das privilegiadas áreas do ministério público, do alto escalão da Justiça estadual (juízes, desembargadores, procuradores do Estado), do Executivo (governador, vice-governador, secretários e do Legislativo. Estes estão incólumes, têm poder nas mãos e nas leis.Os seu salários são líquidos e certos. Para eles, cumpra-se a lei e ela é cumprida. Porém, os barnabés inativos, os terceirizados ficam em último plano. Injustiça maior não pode haver mais do que tudo isso.
Entretanto, há que se perguntar muita coisa que fica no ar: o Estado do Rio de Janeiro continua arrecadando impostos em dia, o turismo tem enchido os cofres do governo com os milhares de turistas nacionais e internacionais que visitam o Rio ou que já o visitaram aos milhares nos tempos da Copa Mundial e das Olimpíadas. Para onde foi – pergunto - canalizado todo o lucro dessa atividade econômica colossal? Assis como to os outros impostos recebidos pela Fazenda Estadual?
Reconheço que o governo estadual gastou muito com a preparação para os dois megaeventos atrás mencionados, com a reforma gigantesca do Estádio do Maracanã. Por outro lado, por que não pensaram antes tanto o governo federal, a prefeitura municipal e o governo estadual na conturbada situação financeira do governo Dilma, quer dizer, por que foram se endividar astronomicamente com tantos gastos só para sediar aqueles megaeventos que, na realidade, trazem alegria para o povo, mas demandam altíssimos gastos com construções de estádios de futebol e de toda a infraestrutura requerida para tais realizações? O Brasil não estava em condições de bancar ou complementar tantas despesas.
Há que se levar em conta o superfaturamento em obras públicas, que é do conhecimento de todos. Ora, tanta sangria só poderia resultar na mais desastrosa bancarrota da história dos governos do Rio de Janeiro. Por conseguinte, todos os setores da administração pública, federal, estaduais e municipal têm responsabilidade na falência administrativa do Rio de Janeiro.
O Sr Pezão, que pertenceu ao governo passado, obviamente sabia de tudo que iria herdar do fatídico governo precedente. O desgoverno do Sr Sérgio Cabral foi tão nocivo à população do Rio de Janeiro que o resultado aí está aos olhos dos que o elegeram em dois mandatos: encontra-se preso por corrupção e malversação do dinheiro público. Toda a rapinagem acontecida no governo do Cabral explica a bancarrota do Rio de Janeiro. No entanto, cabe acrescentar que o Estado do Rio de Janeiro, é perdulário: só com os poderes legislativo e judiciário têm uma despesa monumental, se levar-se em conta as chamada mordomias, salários polpudos, benesses e regalias faraônicas.
Ninguém me venha dizer que toda essa despesa conjunta não tem sua parcela de responsabilidade na derrocada das finanças estaduais. Sendo tão caótica a crise financeira do Estado Rio de Janeiro, com uma dívida também volumosa com o governo federal, é urgente que o governo federal venha socorrer o Rio de Janeiro, mas sem exigências tantas contrapartidas do governo estadual, as quais só irão ainda mais pesar no bolso do funcionalismo estadual já com seus salários atrasados, segundo já assinalei, sem perspectiva de reajuste mesmo a longo prazo e impossibilitado de suportar qualquer medida do Executivo que venha piorar os já combalidos proventos dos barnabés do Rio de Janeiro e o funcionamento dos setores vitais da máquina administrativa estadual.
O que a crise financeira está acarretando à população mais humilde que se vê privada da assistência hospitalar e de outros setores importantes do governo, vai-se se refletir nas próximas eleições. Não se tenha dúvida disso, tanto na esfera estadual quanto federal. O eleitor brasileiro, após tanta crise institucional e corrupção, decerto sairá mais amadurecido politicamente e dará o seu troco nas eleições vindouras.
Não se oprime uma sociedade por tanto tempo, como são ilustrativos os sofrimentos e as aflições vividos pelo povo do Rio de Janeiro, cariocas e fluminenses, atravessando hoje situações angustiantes, como o seu ensino superior representado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ ), praticamente paralisado nas suas atividades normais, nas suas pesquisas, na interrupção de suas aulas da graduação e pós-graduação.
No mesmo descompasso de decadência, temos o Hospital Pedro Ernesto, que é o hospital-universitário da UERJ. Podiam-se citar outros importantes hospitais estaduais, todos em petição de miséria, sem condições de atenderem à população mais humilde que não dispõe de plano de saúde, que procura tratamento emergencial ou mesmo laboratorial. Hospitais esses sem insumos básicos ao funcionamento normal, prestes a fechar suas portas, porquanto seus funcionários é imperioso frisar - estão sem receber salários, assim como os funcionários terceirizados.
Só para finalizar este artigo, o Rio de Janeiro, como o resto do Brasil, vale sempre lembrar - está ainda vivendo esse problema nº1 que afeta impiedosamente a sociedade brasileira, a violência sem freios infernizando a todos nós que precisamos de sair, de viver em paz e não conseguimos, visto que ,em cada canto, em cada esquina, em cada rua da cidade, tanto quanto até em algumas cidades do interior do Estado, pode um bandido estar pronto a nos assaltar ou,o que é pior, tirar-nos o bem maior - a vida.
O Presidente Temer parece que não está vivendo no Brasil. Talvez com os horrores bestiais (com cenas gravadas por celulares e viralizadas nas redes sociais, com gritos de alegria de criminosos diante das atrocidades cometidas), à maneira de execuções dos membros do Estado Islâmico, praticados e aqui imitadados , ocorridos há poucos dias em Manaus e Roraima, ele possa despertar para a carnificina, a crueldade holocaustiana em que se transformou a triste realidade social brasileira.