Quem pauta sua vida pelo ‘levar vantagem em tudo’ é, na realidade um ‘ladrão de galinhas’ [...]. A mediocridade e a covardia não o deixam ir mais longe. E, o que é pior, demonstra total falta de dignidade, de auto-respeito.
Yves de La Taille
A linha entre o que é certo e errado nunca esteve tão tênue como agora. O ético e o antiético muitas vezes se confundem de tal maneira que fica difícil precisar quando começa um e quando termina o outro. Contudo, para quem não se deixa iludir por discursos demagógicos, sabe que basta ter um pouco de espírito crítico para identificar, claramente, os limites entre o que é correto e o que é incorreto.
Admirar um autor e, consequentemente, a sua obra não nos autoriza a copiá-lo ou reproduzi-lo sem a sua permissão ou a devida identificação. Do mesmo modo, se valer da internet para copiar e colar textos inteiros não é uma atitude que possa ser aceita e muito menos estimulada. No entanto, pesquisas comprovam que esse tipo de comportamento tem se tornado cada vez mais comum entre adolescentes e jovens adultos.
No Reino Unido, por exemplo, o número de escolas que estão usando softwares para detectar o plágio vem aumentando progressivamente. As facilidades introduzidas pela internet têm desobrigado os alunos a produzir seus próprios textos. É mais fácil ler, muitas vezes superficialmente, um artigo da internet e depois copiá-lo, do que colocar suas ideias no papel para serem avaliadas.
O mais interessante é que muitos pais, e até mesmo alguns educadores, não veem problema nessa prática, pois defendem a ideia de que a criança e o jovem, ao fazerem uso da “cola”, também estão aprendendo. Esse recurso até poderia ter alguma validade numa época na qual realmente se copiava dos livros os textos das pesquisas, pois ao copiar era-se obrigado a ler. O problema é que agora até mesmo a leitura mais superficial não é feita. Identifica-se o assunto, lê-se a primeira linha e depois, marcando todo o texto, cola-se direto no papel que irá ser entregue ao professor. Não são raros os casos nos quais o aluno sequer formata o trabalho, entregando-o do mesmo jeito que o encontrou na internet.
Por outro lado, seria ingenuidade acreditar que o plágio é uma invenção dos tempos modernos. Na verdade, ele sempre existiu. Até mesmo escritores como Saramago e Shakespeare já foram acusados de plágio. Contudo, o que se discute atualmente é a escala na qual isso vem ocorrendo. As pessoas não se limitam a apenas copiar, elas também estão preferindo pagar para receber seus trabalhos prontos. Existem pesquisas indicando que na Europa um percentual significativo de estudantes universitários pagam por seus trabalhos, para assim obter uma boa nota em uma avaliação.
A preguiça e a incompetência em gerar suas próprias ideias tornou-se a tônica desses novos tempos nos quais as tecnologias modernas – devido às facilidades por elas oferecidas – vêm ditando padrões de comportamento. No entanto, seria simplista de minha parte apontar a internet como a vilã de tudo o que de mal está acontecendo nas escolas e nas universidades. Na verdade, ela nada mais é que um instrumento nas mãos de pessoas que se contentam em ser muito menos do que deveriam ou poderiam ser.
Do mesmo modo, falar em crise de valores morais e éticos também seria cair no lugar do comum. Contudo, existe o fato, na minha opinião, evidente: apropriar-se do que não é nosso é – e sempre será – uma ação condenável. Esse tipo de atitude identifica pessoas que, além de não respeitarem o trabalho alheio, não são capazes de produzir nada que tenha a sua “marca” e, portanto, precisam apoderar-se da “marca” dos outros para atingir algum tipo de sucesso.
O respeito ao público e ao privado ou àquilo que não nos pertence é um daqueles ensinamentos básicos que devem ser incutidos na mente consciente e inconsciente do indivíduo desde a sua infância. Não se pode dizer a um adolescente que a “cola” é uma forma de estudo ou que o importante é entregar o trabalho – não interessando se ele é apenas resultado de um “copiar-colar” – pois o professor não vai perceber a diferença. Apropriar-se do que não é nosso – e aí também se inclui o que se chama de conteúdo intelectual, como um texto – é crime e, portanto, não pode ser desculpado ou tolerado. Esse é, com certeza, aquele tipo de aprendizagem que deve ser feita dentro da família e de preferência longe do computador.