O quixotesco Cineas
Em: 21/08/2023, às 09H45
[Carlos Evandro Martins Eulálio]
De passagem pelas ruas do Espaço Rosa dos Ventos da Universidade Federal do Piauí, onde se realizava o Salipi, em sua 21ª edição, lotadas de caçadores de livros e de palestras literárias, entre eles, fui visto por meu ex-aluno na década de 1970, Luiz Romero, hoje escritor, pesquisador e professor de literatura, que gentilmente me deu de presente um curioso livrinho chamado “Bastidores do SALIPI: Breves histórias do Salão do livro do Piauí”, de autoria do professor Cineas Santos. Li-o como se faz com todo livro que nos tornam prisioneiros, da primeira à última página, em menos de uma hora. Nesse pequeno livro de 70 páginas, o quixotesco Cineas Santos relata a história do maior e mais bem-sucedido evento cultural do Piauí. Fascinado com a narrativa, tive o ímpeto de escrever sobre esse “saboroso” relato, como diria Rubem Alves. Parei por instantes para conferir no Google o verdadeiro significado do termo “quixotesco”, temeroso de ofender o professor Cineas com esse epíteto.
Na pesquisa, deparei-me com uma crônica do poeta e tradutor Nelson Ascher, por sinal meu ex-colega no Curso de Comunicação e Semiótica da PUC-SP, lá pelos idos dos anos 1980. A crônica está publicada na Folha de São Paulo em 18/6/2005 e tem por título “O nascimento de uma palavra: Quixotesco”. Nela, Ascher informa o significado dicionarizado da palavra: “Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, seu principal sentido é o de alguém generosamente impulsivo, sonhador, romântico, nobre, mas um pouco desligado da realidade. Para Caldas Aulete, trata-se de algo ou alguém ousado, irrealista, utópico". Prosseguindo, o cronista sai com essa definição extraída do The American Heritage Dictionary of the English Language: quixotesco é alguém "Envolvido na aventura romântica de proezas e dedicado a alcançar metas inatingíveis.” Essa é a melhor e verdadeira definição que atribuo ao professor Cineas Santos, ao concluir a leitura de seu admirável livro.
Nessa obra, ao ler sobre as figuras literárias que visitaram o Salipi, ao longo de mais de duas décadas, resgatei pela lembrança notáveis pessoas as quais tive a oportunidade de conhecer pessoalmente, entre elas, o professor, crítico literário e poeta Affonso Romano de Sant’Anna. Tive a felicidade de entrevistá-lo (LEIA) na companhia do professor José Reis Pereira e da jornalista Glória Sandes, em fevereiro de 1978, quando o poeta ministrou em Teresina um curso de Poética para alunos e professores do Curso de Letras da UFPI.
* Carlos Evandro M. Eulálio, professor de literatura, é membro efetivo da Academia Piauiense de Letras, segundo ocupante da Cadeira 38, tendo como patrono o poeta popular João Francisco Ferry.