O que ando a ler

[Maria do Rosário Pedreira]

Sejam bem-vindos os que chegam pela primeira vez ou regressam aqui ao cantinho de sempre depois de uma merecida pausa. Oxalá não tenham apanhado o vírus, mas, se o apanharam, que tenha sido leve. Eu não li tanto como gostaria nestas férias, mas escrevi bastante mais do que planeara, e portanto é como se uma mão lavasse a outra. Não posso dizer que, em matéria de leituras, tenha ficado satisfeita, mas falemos hoje do livro que ainda tenho entre mãos. Chama-se Herança, escreveu-o Vigdis Hjorth, e diz a revista New Yorker que se trata de um romance que "dividiu uma família e cativou um país". O país é a Noruega, onde a autora nasceu, e por lá o romance venceu uma data de prémios e tornou-se um fenómeno de vendas. A família é a da própria história, e está desavinda por causa de umas casas de férias que, pelos vistos, os pais decidiram que só as filhas mais novas deveriam herdar. Mas, por detrás da injustiça relatada por uma irmã que não herdará (ela e o irmão mais velho são os lesados), há um episódio francamente traumático que atravessa toda a narrativa e envolve os dois irmãos e o pai que entretanto morre de forma um tanto misteriosa. Embora seja um livro interessante, é quanto a mim bastante repetitivo e arrasta-se desnecessariamente; porém, ao mesmo tempo, está cheio de pequenos capítulos preciosos, alguns líricos, outros puros apartes sobre filosofia, teatro, psicanálise..., que o tornam bastante original. Já me falta pouco para chegar ao fim e, apesar de trezentas páginas lidas, sinto que ainda não sei tudo o que precisava. Será este o segredo do seu sucesso?