[Maria do Rosário Pedreira]

Num bocadinho que tinha – só um dia, na verdade – fui a correr a uma estante e trouxe de lá um livro curto, que desse para começar e acabar num virote. O autor, Per Petterson, já o conhecia de Maldito Seja o Rio do Tempo (de que aqui falei); mas não chegara ainda a pôr o dente nestes Cavalos Roubados – um romance com uma relação próxima com a natureza, como, aliás, muita literatura nórdica (no caso, trata-se de um texto norueguês). Além dos cavalos roubados por dois adolescentes para uma passeata que não corre como esperado, temos nesta obra um rapaz de quinze anos que também é de certa forma roubado, pois, no fim de umas férias especiais com o progenitor, no ano de 1948, acaba por voltar a Oslo, onde estão a mãe e a irmã, e perder o contacto com esse homem tão importante na sua vida, que lutara contra o nazismo uns anos antes. Vemos agora o rapaz bastante mais velho, já viúvo, a isolar-se deliberadamente numa cabana no meio do nada, depois de isolado sem querer pela morte da mulher, e encontrando nesse nada um outro velho que conheceu em menino, justamente nesse verão antigo em que trabalhou, passeou, pensou, apaixonou-se, chorou e foi a cavalo com o pai até à Suécia numa viagem de grande cumplicidade. Com muito sol no passado e neve no presente (juventude e velhice), Cavalos Roubados é um romance a que o Daily Telegraph chamou com razão «profundamente atmosférico», uma obra de arte delicada sobre a nostalgia de uma vida mais pura e simples.