O poeta como um clown
Por Rogel Samuel Em: 07/12/2009, às 14H51
O poeta como um clown
Rogel Samuel
Russell S. King, da University of Nottingham, escreveu um texto muito elucidativo para a compreensão de “Aparição do clown”: “The poet as clown: Variations on a theme in nineteenth-century French poetry” (Orbis Litterarum - International review of Literary Studies, Volume 33 Issue 3, Pages 238 – 252 Published Online: 1 Jun 2007).
O auto-retrato do artista com um clown foi um tema generalizado pelos pintores do Século Vinte, e este modo de se ver partiu dos poetas franceses do Século Dezenove.
Houve uma espécie de metonímica fusão do Pierrô com o Arlequim, o bobo da corte, o showman vagante, o palhaço de circo e o violista cigano.
Segundo o pesquisador, foi Théodore de Banville o primeiro que identificou o clown com o poeta, nas suas "Odes funambulesques", de 1857, na aspiração de idealizar a realidade, como um acrobata na corda bamba.
Depois vieram Baudelaire, Mallarmé, Laforgue, e mesmo o português Fernando Pessoa.
Marlarmé se via como um ator decadente, uma vítima. O clown de Verlaine expressava a ambiguidade e plasticidade da estética literária. Mallarmé, o "Le Pitre châtié". Laforgue via no clown o diletante frívolo, uma espécie de Hamlet que era também um dandy que fazia o papel de simplório. Pessoa, como se sabe, disse que "o poeta é um fingidor", isto é, um clown.
Todos esses poetas faziam da simbologia do clown a imagem do escritor como um fingidor, um ator que cinicamente enganava seu leitor e a sociedade de seu tempo, numa manifestação contra o realismo da realidade de seu tempo.