(Miguel Carqueija)

O PAI NOSSO



    Uma modesta análise da “oração que o próprio Senhor nos ensinou”

    “Pai Nosso, que estás no Céu”
    Deus é onipresente. Está em toda parte, imaterial e onisciente. É a Inteligência Suprema, e tudo sabe. Mas, no Céu — que não é o céu astronômico, mas a dimensão espiritual mais sublime — os seres que lá estão, bem-aventurados, têm contato com Ele — a chamada Visão Beatífica, que nós nem podemos imaginar.
    “santificado seja o vosso Nome”
    É elementar que o nome de Deus é santíssimo e que zombar ou blasfemar deste e de outros nomes santos — como o do Verbo Encarnado, Jesus Cristo — é pecado grave, se feito com plena consciência. O moderno laicismo, que procura de todos os meios destruir o respeito e a religiosidade dos povos, compraz-se em requintes como o de escrever o nome do Criador com inicial minúscula — descalabro que virou moda entre escritores “moderninhos” e medíocres.
    “venha a nós o vosso Reino”    
    De várias formas vem o Reino de Deus até nós. Na Terra, pelo estado de graça; após a morte do corpo, pela bem-aventurança da alma no Céu; e futuramente, no Juízo Final, a apoteótica consumação deste reino eterno.
    “seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu”
    Bem fariam os políticos e governantes do mundo inteiro se compreendessem que o Estado leigo (que insistem em chamar “laico”, dando a essa palavra uma conotação de hostilidade à religião) não é Estado ateu, e que em nada se desonra o governo civil que zelar pelo respeito à Fé e à Moral.
    “o pão nosso de cada dia, nos daí hoje”
    Lembrava o saudoso Dom Marcos Barbosa, em suas palestras radiofônicas, que o “pão nosso”, além de significar o sustento diário (alimento, roupa, teto) também alude à Eucaristia, o “pão celestial” que os católicos podem, desde que em estado de graça, receber diariamente, se puderem freqüentar a Missa diariamente.
    “perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”
    Assim era a versão em português, no meu tempo de criança. Hoje rezamos:
    “perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”
    A fórmula, em qualquer das duas redações, é a grande lição do perdão. “Amai os vossos inimigos”, disse Jesus, “fazei o bem a quem vos odeia” (Mt 5,44).
    Exemplo frisante podemos ver na série “Ga-Rei”, mangá de Hajime Segawa, na sequência do combate entre a heroína Tsuchimiya Kagura e a vilã Imawano Setsuna. Derrotada, a vilã pergunta: “Não vai me matar?” e Kagura, com a grandeza dos justos, responde: “Não vou matar. Não sou como você!”
      E na vida real, o maravilhoso exemplo de Maria Goretti (hoje santa) que, menina de onze anos, resistiu ao estuprador, foi apunhalada muitas vezes e, nos dias em que agonizou, perdoou o seu assassino, que veio a se converter e, depois de cumprir a pena, entrou para um convento e trabalhou até a morte como humilde jardineiro.
     “e não nos deixeis cair em tentação”
    Todas as pessoas nascem inocentes, mas com tendência para o erro por causa do pecado original. As tentações podem levar progressivamente, de queda em queda, aos abismos do pecado mortal, como o William Wilson do conto homônimo de Edgar Allan Poe. “Vigiai e orai”, lembra Nosso Senhor (Mc 14,38).
    “mas livrai-nos do mal”
    Nos meus contos e novelas eu me refiro, com alguma frequência, ao “Mal em estado puro”, o mal diabólico, essencial, surgido da primitiva rebelião e que pretendeu contaminar o universo. Não o mal por simples fraqueza, mas o mal por escolha definitiva; o mal de Lúcifer.
     O Padre Paulo Ricardo, em seu programa “Oitavo Dia” da TV Canção Nova já observou que, para os teólogos da libertação, só existe o pecado social, das estruturas; um erro essencial, demagógico, pois a origem do pecado é a rebelião contra a majestade e santidade de Deus.
    “Amem.”
    Que assim seja! Que, diante de Deus, possamos experimentar tudo isso e comparecermos ao juízo divino, ao qual ninguém ilude!
    Existe uma fórmula, creio que de origem protestante, mas que os católicos podem rezar, embora não entre na Missa, que funciona como uma espécie de apêndice ao Pai Nosso:
    “Porque vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre.”
    Nada mais justo que reconhecer e honrar a Deus, o Ser Supremo, criador, ordenador e mantenedor do universo, onisciente, onipotente, onipresente, eterno, sumamente bom e perfeito, o Deus do Amor.