[Galeno Amorim]

Saul dos Reis, 49 anos, é operário. Estudou até o antigo colegial e, agora, trabalha como caldeireiro numa fábrica da cidade. Seu dia a dia é corrido e quase não sobra tempo pra nada.

Acontece que Saul adora ler. Por sorte, foi trabalhar numa empresa que resolveu montar uma pequena biblioteca para os seus funcionários. De uma hora para outra, ele virou frequentador assíduo da biblioteca da fábrica.

Saul lê, em média, cinco livros por mês (a média no País, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil é 4,7 - mas por ano!). E como ele tem tempo para se dar a esse luxo?! Não importa: Saul arruma um tempo entre os seus afazeres diários e, sempre que dá, ele vai ler.

O que o operário mais gosta é de um livro de poemas de Cecília Meireles, As mais belas poesias. Em casa, ele gosta de compartilhar com o pai e os irmãos as histórias que aprende nos livros - no início, foi ele quem precisou insistir; agora são eles que pedem para que ele leia.

Os livros já fazem parte da vida de Saul. Aonde ele vai, carrega sempre algum junto. Diz que eles são os seus grandes companheiros da vida inteira e, em geral, é a eles que recorre para tentar compreendê-la melhor. Os livros, diz, ampliam seus sentidos e o seu universo cultural. Quando lê, ensina, não sobra espaço para mágoas, ressentimentos, tristezas ou inimizades.

Saul está convencido de que os livros o estão ajudando a ser uma pessoa melhor. De tanto ler, o operário já construiu sua própria autonomia poética:

- Ler me faz entender/O corpo é só um sopro/O espírito é eterno/Como a mãe Terra.

A JP, a indústria farmacêutica onde Saul trabalha em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, mantém uma biblioteca com 2.500 livros, DVDs e periódicos. Lá dá acesso à internet aos seus 500 funcionários. O gasto maior é com o salário do funcionário que toma conta da biblioteca, mas os donos - eles próprios leitores - garantem que vale a pena.

Abrir um espaço de leitura dentro das empresas é mais fácil do que parece. O investimento é pequeno e o retorno social é imenso. Por toda parte, empresas já notam que contratar trabalhadores que leem é muito melhor. Com base em pesquisas internas, eles constatam que, em geral, operários-leitores são bem mais preparados para a vida do que os não leitores, também mais criativos e com maior autonomia - isso faz toda a diferença nos momentos em que precisam tomar decisões rápidas.

Não por outra razão, mais e mais recrutadores já perguntam, nos testes de seleção para vagas abertas pelas empresas, sobre quais livros os candidatos andaram lendo nos últimos tempos.

Enfim, parece que a era do conhecimento já chegou!