Lembram-se dos filmes B dos anos 50, onde acontecia o gigantismo de insetos e outras criaturas por efeito da radiação atômica? Pois esta minha poesia vai muito além...

 

 

O NOJO ATÔMICO

Miguel Carqueija


    E aqui estamos nós! Tremei, humanidade!
    Abriste a Caixa de Pandora, soltaste o raio gama.
    Liberaste o isótopo, a força amaldiçoada!
    O cogumelo maligno, da mutação a chama.

    Ó vós que correis, é inútil, vos alcanço.
    Vede quão sou nojenta, senti a minha pata.
    Que meu fétido odor invada vossas fossas;
    hoje me vingo de vós: eu sou a Barata!

     Ó nojo! Ó engulho! Eis-me horrenda e disforme,
    Mosca gigantesca voando sobre vós.
    Não só em vossas sopas pousaremos agora.
    Fugi, ó bicho-homem. Agora somos nós!

    Formiga eu sou, ó Homem; enorme e forte eu sou.
    Jeronymo Monteiro tentou vos avisar.
    Chegaram nossas hostes, a vós esmagaremos,
    nem bombas nem canhões nos poderão parar.

    Desfalecei à minha vista? Como sois fracos!
    Nunca vistes a mim, ciclópica Minhoca?
    Cheguei para ficar, de mim não vos livrais:
    já nada me fará voltar à minha toca.

    Chegou minha vingança, ó homens irrisórios,
    minh’asa gigantesca vereis quanto vos custa.
    Eu sou o pesadelo, a vossa penitência,
    seis metros de horror, olhai, eu sou a Locusta.

    Ó terror dos terrores! Ó monstro apocalíptico!
    Correi, gritai, fugi, senti a minha sanha!
    Olhai as minhas fauces, a palidez vos toma!
    Ó vômito! Ó náusea! Vede! Eu sou a Aranha!

    Também aqui estou, vampiro negro, olhai!
    Mosquito colossal, eu sou a besta alada:
    teu sangue é todo meu, ó Homem acuado:
    veremos se agora agüentas a picada.

    Provoco-vos repulsa, o pânico, o horror?
    Antigamente a vós a unha vos bastava!
    Agora é outra história: com meu tamanho a Pulga
    conseguirá enfim a desforra que sonhava!

    Até as vossas casas eu hei de devorar:
    moverei contra vós perseguição sem fim.
    Vossas ruas, estradas, palácios, fortalezas,
    tudo isso será meu! Chorai! Eu sou o Cupim!

    Onde está vossa coragem, ó donos da Terra?
    Por que agora empalideceis, e tremeis como geléia?
    Nunca me vistes antes? Já não me conheceis?
    Eis-me com patas a granel diante de vós: eu sou a Centopéia!

     Eis a hora da vingança, eis o dia da desforra!
      Acertar as nossas contas, eis agora o meu ensejo!
      Nunca mais me esmagareis, só vos resta agora a fuga:
     infestarei o mundo, vede, eu sou o Percevejo!         

    Ah! Não contáveis comigo, com minha boca horrível,
    as patas pegajosas de Lagartixa imensa,
    Agora a casa é minha, saí da minha frente!
    Criaste tudo isso: vós sois o ser que pensa.