Ontem, perto de Itacoatiara, de madrugada, o "Dona Zilda" naufragou com 47 pessoas a bordo. Como sempre, o mesmo problema, superlotação. Eu já passei por isso. Ia atravessar o rio, de volta para Manaus. Quando o pequeno barco começou a viagem eu vi o perigo e fiz, aos gritos, que voltassem para o porto para me deixar. Mas tive de fazer um escândalo! A irresponsabilidade é total, com a vida humana. As pessoas têm medo de parecer medrosas e não protestam. E morrem. Meu falecido pai, navegador experimentado no Amazonas, dizia que existem mais barcos no fundo dos rios do que sobre as águas, navegando. No meu romance "O amante das amazonas", eu arrolei vários desastres.
No " Dona Zilda" havia crianças e até 2 bebês de 2 e 6 meses. Desaparecidos. O mundo amazônico é assim, selvagem e terrível. O rio Amazonas perto de Itacoatiara é tumultuso e largo como um braço de mar. O rio está cheio, quase não se vê o outro lado.