O menino que sabia muito
Por Cunha e Silva Filho Em: 18/07/2010, às 14H17
Cunha e Silva Filho
Falou-se que Wesly até seis ou sete anos, dava sinais de capacidade mínima para aprender a ler. Tinha até sido considerado como portador de retardo mental, como dizem ter ocorrido com o sociólogo Gilberto Freyre(1900-1987) ou com o padre Antônio Vieira (1608-1697).Trocara várias vezes de escola. De nada adiantava.. Escola pública, o então chamado Grupo Escolar, escola particular ou mesmo com uma professora parente que lhe ia em casa dar algum reforço. Nada acontecia de bom. Tentou-se de tudo e nada que fizesse a criança desenvolver sua habilidade de leitura e de escrita. Os pais já não sabiam o que fazer para solucionar o problema. Pobrezinho do Wesley!
De repente, houve o estalo. A criança se descobriu lendo. Mais ainda, nela despertou um interesse inusitado para conhecer e saber de tudo. Sua curiosidade não tinha limites. Suas perguntas deixavam as pessoas perplexas. Não só estava lendo bem, como sua letra, a princípio, ininteligível, passou a ser legível e bonita.
Os pais, seu Antônio e dona Margarida, de descoroçoados, mudaram para eufóricos de alegria sem tamanho. O pequeno Wesley deixava definitivamente para trás o medo da escola, da professora, dos colegas. Da terceira serie pulara para o admissão ao ginásio., dando prova crescente de que era o melhor aluno da Escola em todas as matérias, posto com justiça seja dito que ele tinha um interesse especial para línguas.
Dava show nas aulas de português, latim, inglês, francês, sempre tirando nota máxima No científico, já em outro colégio, uma instituição de renome na época, os colegas o consideravam uma espécie de gênio. No inglês, no espanhol, no latim, no francês, era insuperável. Wesley se fizera respeitado pelos colegas e professores. A admiração por sua inteligência tomava conta da cidade. Continuava bom aluno em todas as disciplinas, com exceção de educação física, pois era franzino e não gostava muito das aulas, sobretudo quando o professor lhe pedia que corresse. A esta altura já ia completar dezoito anos
Seus pais, que eram comerciantes de porte médio, pensaram em encaminhá-lo a um centro mais adiantado do país. Logo veio a idéia de mandá-lo para São Paulo. Por coincidência, neste Estado, morava um irmão mais velho do seu pai, que era gerente de uma agência do Banco do Brasil.
Wesley chega a São Paulo. Já estava na hora de enfrentar o vestibular. O difícil para ele foi tomar uma decisão com respeito à carreira a seguir. Seu tio, Oswaldo, conversou com um amigo, um educador famoso que bem poderia ajudar o sobrinho nessa espinhosa opção de carreira para ingresso numa universidade. Marcou-se uma entrevista com o educador, o Prof. Diógenes Dudley, da USP.
No dia e hora marcados, lá estava, Wesley já com dezoito anos, a conversar, com sorriso sempre à mostra, com o Prof. Dudley.
- Então, você está decidido a estudar línguas? Não pense em ganhar dinheiro com o curso de Letras. O professor brasileiro sempre foi mal remunerado, em todos os níveis, e sobretudo no ensino primário e secundário.
- Sim, professor, é isso que quero.
O prof. Dudley examinou o jovem detidamente, olhou para ele vendo-lhe as feições harmoniosas: um rosto quase oval, olhos azuis, cabelos levemente ondulados, emoldurando-lhe a cabeça com um penteado partindo o cabelo ao meio. Sua pele era clara, Na face havia sempre um largo sorriso nos lábios. O sorriso era tão largo, tão espontâneo, que lhe irradiava pelo corpo todo. Uma simpatia de jovem.
- Bem, acho que estamos conversados. Desejo-lhe sucessos na sua escolha. Com estas palavras, o professor arrematou a entrevista.
Wesley enfrentou o vestibular de Letras da USP. Foi o primeiro colocado, o que obteve a maior média geral de toda a Universidade, merecendo um entrevista da Folha de São Paulo.
Logo no primeiro semestre do primeiro ano do curso de Letras, chamou a atenção do corpo docente da Faculdade de Letras. O chefe do Departamento de Línguas Modernas o chamou ao seu gabinete:
- Wesley, vamos arranjar-lhe uma bolsa para estudar na Inglaterra. Você fará o resto do curso lá.
Wesley estava radiante, mandara telegrama aos pais falando dessa nova etapa de sua vida de estudante. Na Inglaterra, foi alvo da admiração dos colegas de sala e principalmente do corpo docente da Universidade de Oxford. Concluída a graduação com louvores, fora logo convidado a ingressar no mestrado, especializando-se em línguas modernas. Terminado o mestrado, novamente foi convidado a fazer o doutorado, o PhD. Já se passaram dez anos na velha Albion. Wesley foi nomeado professor daquela universidade. Estava com vinte e oito anos.
Seu curriculum cada vez mais se enriquecia. Tornara-se professor de renome mundial, com oito livros publicado pela Oxford University Press. Já havia dado palestras em outros países: Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Portual, Espanha, México.
Wesley é, agora, um linguista conceituado. Escreve em cinco línguas. Domina o grego e o latim. O latim começara a estudar ainda no Ceará, seu Estado natal, no ginásio.
Retorna sempre ao Brasil a passeio, na temporada de férias. É um professor ocupadíssimo, com vários encargos acadêmicos, dando aulas, orientando teses, escrevendo numerosos artigos em diversas revistas especializadas na área da linguística e viajando com frequência para dar conferências no exterior.
O professor brasileiro naturalizou-se inglês. Casou-se e teve dois filhos, um casal. Agora, é o que se chama no Brasil de professor titular.
O governo brasileiro o convidou como visiting professor da USP durante quatro anos. Foi um sucesso estrondoso, pois Wesley colocou toda a sua inteligência, saber e experiência a serviço dos seus alunos. Entretanto, seu grande serviço prestado ao país foi sobretudo estabelecer avançada orientação no campo dos estudos linguísticos voltados para pesquisas de métodos de ensino de idiomas para crianças, adolescentes e adultos. Ele chegou mesmo a elaborar um projeto destinado a recrutar adolescentes, com grande talento para línguas, a empreender aprofundados estudos no campo da linguística aplicada. Costuma afirmar que todo mundo tem capacidade intelectual de aprender línguas. Isso é apenas uma questão de método adequado, assegura ele.
O Dr. Wesley Silva Monteiro, na Universidade de Oxford continua pesquisando intensamente, e dedica-se também a consultoria pela Internet sem custo algum para os interessados. Milhares de estudantes, no mundo inteiro, acessam seu site procurando orientação segura para seus estudos . O prof. Wesley, até agora, editou dez obras no domínio da linguística, sendo que as mais conhecidas são: The art of learning languages ( 1974), Applied linguistics for graduate students in modern languages ( 1978), What if men did not challenge God’s powers in building the Tower of Babel (1983), The story of a child who loved languages (1990), este ultimo uma autobiografia de sua trajetória intelectual, best seller tanto no meio acadêmico londrino quanto de público interessado em línguas pelo mundo afora.
Um jornal britânico recentemente informou que o Dr. Wesley Monteiro faleceu de repente de ataque cardíaco aos quarenta e nove anos.
A Universidade de Oxford tributou-lhe grandes e merecidas homenagens e já prometeu homenageá-lo e à sua obra num simpósio a ser realizado no segundo semestre deste ano.
Na sua terra natal, Crato, seus pais, seus familiares e amigos ficaram profundamente consternados com o falecimento prematuro do grande linguista.O prefeito da cidade decretou luto oficial por três dias.
O eminente professor e linguista cearense está sepultado num conhecido cemitério de Bournemouth, Inglaterra.*
Nota: Leitor, autor se enganou, pois o Dr. Wesley foi sepultado mesmo foi em Ealing, próximo de Londres, em Middleessex. É que a notícia foi reportado por um jornal britânico e, depois, foi corrgida a referência ao lugar do sepultamento. O narrador lamenta o involuntário descuido.