O menino português‏


Quando ela, a dançarina do templo, a Devadase, pegava a estreita estrada que conduzia do templo ao aglomerado de casas dos tecelões de pequenos teares,
ela ja percebia, que alguém a seguia pelas moitas das margens da estrada.
No entanto, ela nada dizia ao namorado, pois ele, podia perseguir o intruso e o matar.
A Devadase ansiava por aquelas horas varridas pelo mato ralo de campos sufocantes de calor.
A presença do belo rapaz de olhos negros como os onix das jóias dos principes que visitavam o templo, montados em elefantes ajaezados, ou cavalos de selas de sedas vermelhas e franjas douradas - no entanto, era entre a riqueza que ela, a dançarina pobre, procurava o rapaz de peito suado, moreno, como as estátuas dos deuses de bronze, que ficavam na chuva.
Só os pobres compravam do rapaz pobre de olhos negros.
Os principes não procuravam frutas em cestos de vime.
O Sol do Meio-Dia, escaldava.
O Sol moreno do entardecer, oferecia a terra quente para os namorados deitarem sobre ela.
O menino português, vindo com seu pai das colônias a beira-mar da Costa do Malabar, descobrira os encontros amorosos e gostava de observa-los, escondido
entre as moitas do capinzal.
Numa tarde chuvosa, havia festa no templo - mas - quando o menino português lá chegou, havia terrivel tumulto e ele viu o namorado da devadase correr por sobre as montanhas baixas de detrás do templo... por que fugia ele?
Ele soube depois, dias depois, após a chuva ameaçadoura tombar sobre o Tamil Nadu, o que ocorrera... e ficou triste, muito triste por nunca mais poder ver a dançarina de longas tranças caminhar na estreita estrada do capinzal.

Duzentos e poucos anos depois, deram outra estrada para o menino: você toma o
onibus tal... e chega lá... é um apartamento em Ipanema,
Ele foi... reencontrou a moça, que mais tarde iria lhe falar muito sobre o namorado perdido... porque "aquele dia" do Tamil Nadu, ainda não acabou...