O Lendário Justiceiro Mascarado Fantomas, Sua História
Muitos são os personagens que podem representar a Luta Livre nacional, mas poucos marcaram tanto sua presença como o Justiceiro Mascarado Fantomas.
Desde sua entrada triunfal nos ringues, trajando sua inconfundível roupa negra, uma capa sobre seu corpo, uma máscara ocultando sua identidade. Uma perna rija não impedia Fantomas de massacrar quem ousasse desafia-lo sob o ringue.
Um vulto negro, enorme, envolto sob um enigma, uma atmosfera de suspense e de justiça. Sim. De justiça, porque o Justiceiro Mascarado sempre fez jus ao seu nome, sendo sempre um lutador correto, que não usava de truques, artimanhas e golpes sujos. Sempre lutou de uma forma limpa e destemida.
Pois esse mito sempre despertou a curiosidade de muitos. E muitos até hoje dizem ser ou ter sido parte da história desse enigmático personagem.
Pois minha proposta aqui hoje, não é desmistificar um mito, ou desmentir quem quer que seja se já fez o personagem ou não. Mas sim minha intenção é a de contar um pouco da história de Fantomas, mas não pelo meu ponto de vista, mas sim com relatos de lutadores que viveram o nascimento do personagem.
Em meados de 1966, foi criado pelo empresário Teti Alfonso na TV Globo (RJ) o personagem Fantomas. A idéia era exatamente o que deu certo, ou seja, um lendário justiceiro com sua face encoberta por uma máscara negra com os traços do rosto em branco.
Existem controvérsias sobre quem teria sido o primeiro lutador a personificar o Justiceiro Mascarado, porém as histórias que mais se encaixam devido aos relatos dos lutadores da época contam que o argentino Ali Bunani, foi o primeiro Fantomas.
Existem registros até mesmo de que Ali foi escolhido pelo empresário para interpretar o personagem devido a sua conduta exemplar também fora dos ringues, por sua moral e relacionamento com os demais.
Outra linha informa que o primeiro a personificar Fantomas foi o também argentino El Toro.
Nesse meio de informações é relevante comentar rapidamente sobre outro personagem com grande semelhança ao Fantomas, o Verdugo. Verdugo era um personagem mais sombrio, que entrava ao ringue acompanhado do seu assistente (chamado na luta livre de segundo) Pé na Cova, que dizia trazer Verdugo diretamente do cemitério para o embate da noite.
Cabe salientar que nesta época a Luta Livre no Brasil era algo visto com tanto cuidado e seriedade que somente o empresário tinha os direitos sobre o personagem, ou seja, se Ali Bunani era o interprete do mesmo, ninguém mais no País inteiro poderia plagiar o personagem, cabível abertura de processo.
Poderia haver sim na época um revezamento entre Ali Bunani e El Toro quando a interpretação de Fantomas e Verdugo, essa informação não está descartada, mas o que todos os fatos convergem é para o fato de Ali ter sido o intérprete de Fantomas desde sua criação.
Das informações que se tem Ali Bunani interpretou Fantomas até meados de 1969. Para quem não sabe, Ali não era somente intérprete, pois também lutava com seu próprio nome. Ao que temos informações Ali Bunani faleceu em meados de 1987 em sua casa de morte natural, diferentemente do que muitos contam por aí que o intérprete de Fantomas morreu assassinado, atropelado, envenenado, ou qualquer outro absurdo.
De Bunani para frente muito foram os intérpretes do personagem. Podemos citar o próprio El Toro, Luizão, Guerino Cicon, Gran Bartollo (o Sancho Pança), dentre outros.
Fantomas foi e continua sendo um personagem que foi criado sem muitas pretensões, mas que como poucos acabou virando um mito, uma lenda.
Para escrever essa coluna, contei com a ajuda de lutadores da época da criação do Fantomas. Lutadores que lutaram no Ringuedoze (RS), TV Excelsior, Record, Globo.
Portanto, como disse no início as informações aqui contidas não se baseiam no meu conhecimento somente dos fatos, mas principalmente de quem viveu a época e conviveu com Ali Bunani, El Toro, Ted Boy Marino, Tigre Paraguaio, dentre outros grandes artistas da época.
Em suas observações sobre o destino nas gerações atuais quanto ao lendário Fantomas, Stiner, ex-lutador que iniciou sua carreira no Rio Grande do Sul através do Ringuedoze, depois seguindo para o Rio de Janeiro participou dos programas de televisão transmitidos pela Globo Rio, TV Excelsior, dentre outras, deixou um pedido e um recado aos que vierem a interpretar Fantomas:
“- A quem faz ou fará este personagem o que peço é que tenham o cuidado de fazer bem, pois os que tinham esta responsabilidade na época, foram extremos profissionais, dedicados a manter o anonimato em benefício do personagem, e o verdadeiro profissional, não fica falando que é o personagem.
Sejam cuidadosos e respeitem, senhores empresários este mito que jamais será esquecido.”
Outro colaborador para que fosse possível serem colocados fatos reais nessa coluna foi o lendário Scaramouche, ex-lutador, um exímio ás do ringue, um atleta que literalmente voava sobre o ringue, também participante do Ringuedoze e de programas citados aqui.
Scaramouche deixa claro que não tinha contato tão próximo aos personagens como de fato teve Stiner, somente o contato normal entre lutadores nos vestiários, e que sempre soube da relação Ali Bunani = Fantomas e El Toro = Verdugo, não sabendo de qualquer outra pessoa que possa ter interpretado os personagens antes deles.
Scaramouche descreve em poucos detalhes, mas preciosos as diferenças entre os personagens:
“- As únicas diferenças que vejo nos personagens são os nomes, e pequena diferença na máscara, pois os estilos de lutas e a marca registrada da perna dura (só do personagem) eram idênticos.”
E complementa dizendo:
“- Como me desliguei do Catch em 1970, não soube que trajetória seguiram o Fantomas e Verdugo. Na minha opinião qualquer Fantomas ou mesmo Verdugo que já apareceram e que aparecerão, considero pirataria, e um desrespeito tanto ao criador do Fantomas e Verdugo, como os próprios personagens.”
Em carta de próprio punho destinada a Carla Martinez, filha do grande lutador El Condor, argentino, que a alguns anos já nos deixou para lutar em outros ringues, o próprio Mister Argentina descreve claramente que Ali Bunani era o intérprete de Verdugo e El Toro de Fantomas, ambos eram argentinos também como já citei, e o Mister sempre teve um contato muito próximo com ambos.
Portando como posso resumir e encerrar essa coluna sobre a história do Justiceiro Mascarado?
Posso dizer que mesmo que se tente contar a história de Fantomas, o mito permanece, a incógnita sobre a sua identidade permanece.
Teria realmente sido Ali Bunani o primeiro a fazer o Fantomas subir ao ringue? Ou seria El Toro o primeiro Justiceiro Mascarado?
Na real, não importa quem foi. O que importa é que ambos eram lutadores exemplares, profissionais exemplares, com condutas exemplares, e por isso foram escolhidos para interpretarem personagens que ficariam imortalizados dentro da história da Luta Livre nacional. Infelizmente, de tempos em tempos, espertalhões tentam se passar por Fantomas. Dizem com a maior seriedade do mundo que foram ou que são Fantomas.
Vamos à lógica?
Se eu que tenho 1,80cm mandar fazer uma roupa igual a do Fantomas, ainda com a ajuda de uma sola mais alta devo chegar próximo dos 2m de altura. Coloco aquela máscara, uma capa preta de cetim por cima, nunca subi na minha vida num ringue, não sei como dar um drap, não sei o que é uma “cutelada”, mas tiro umas fotos com essa fantasia e depois sem a máscara. Isso faz de mim Fantomas?
Se isso faz de mim Fantomas, então posso reconhecer com o maior orgulho inúmeros Fantomas que existem por aí.
Gente que nunca participou de nada relacionado à Luta Livre.
Gente que não sabe nem ao menos dizer de qual perna ele mancava, pois era dura.
Gente que vai pra imprensa e ainda tem, desculpem a cara de pau de dizer “eu sou o verdadeiro Fantomas”.
Oras, nem Ali Bunani nem El Toro, nem nenhum outro lutador que eu tenha conhecido foi um dia pra frente de câmeras dizer “eu sou o Fantomas”.
O que registro aqui hoje é a memória desses homens que devido a eles até hoje muita gente ainda lembra das grandes batalhas travadas pelo personagem.
Não venho aqui desmistificar o Fantomas, mas contar a história do mito, e principalmente agradecer a esses homens que muitas vezes ocultaram suas próprias personalidades atrás de uma máscara, deixaram suas identidades como verdadeiros lutadores de Telecatch em um segundo plano para elevar um personagem. Um personagem que virou um mito, e por intermédio desses verdadeiros artistas.
Não julgo quem hoje interpreta Fantomas, mas em memória a esses homens que fizeram o personagem que ainda hoje vive, faço minhas as palavras de Stiner e Scaramouche. Mesclo as duas opiniões e gero a minha.
“Srs. se forem fazer, façam com respeito, estudem o personagem e façam bem feito.”