O lado podre do computador

Cunha e Silva Filho

Alguém, em sã consciência, pode negar a importância do computador? Óbvio que não. Muito menos, eu. Como havia de? Me lembro de uma colega do magistério que me repetia sempre que a conversa levava a esse assunto: “nunca vou aprender a manipular o mouse, aquele ratinho feio cujo manuseio não foi feito pra minhas mãos inábeis e desajeitadas. Não, decididamente não. Tentei várias vezes aprender. Mas, qual nada! Sempre que tentava apontar para a tela do monitor, enquanto a minha vontade era pra direita, o ratinho me levava pra esquerda. Depois, havia aquelas inúmeras divisões na tela com vários ícones,  símbolos, setas, letras com traços debaixo delas, sinais de igualdade, seqüência de xis ao quadrado que mais me pareciam uma equação algébrica.

Não, não vou mesmo aprender. Vocês sabem, leitores (quanta presunção minha, a de colocar este vocábulo no plural, ainda bem que não sou Machado de Assus), na  época em que primeiro falei com a minha colega sobre a necessidade de aprender o bê-a--bá do computador,  também não sabia nada do riscado. Mas, ouvia sempre gente alertando todos que, para continuar no magistério, teria o professor que dominar pelo menos o feijão com arroz no uso do computador. Ou seja, preparar provas, digitar notas, tudo isso seria preciso dominar. Foi então  que me decidi a comprar um computador e começar a aprender do zero. Foi um luta pra aprender,. Sempre que tinha dúvida, perguntava a meus alunos  sobre isso, sobre aquilo no trato com esse aparelho cujo surgimento veio pra ficar . E mais: pra ajudar em mil e uma coisas. Esse gadget viraria, com o tempo, uma preciosidade, substituindo, em qualidade e eficiência, milhões de vezes, o que faziam a máquina de escrever e a máquina elétrica. Hoje, só tenho encômios pra essa máquina de ouro. Não, de diamante.

Atualmente, muitas vezes, digito diretamente do computador os meus textos, quando antes pensava que meus pensamentos, minhas idéias não me surgiriam se  as digitasse direto do computador, e não segundo a grande tradição de, primeiro, escrever, à mão, e, depois, passar pro computador. Não posso, contudo, esconder que me é ainda muito caro escrever à mão os meus textos. É um prazer diferente, que não quero perder por nenhuma coisa desse mundo, inclusive, a minha antiga e habitual maneira de preparar  o meu texto manuscrito, assunto  ventilado há pouco tempo em artigo de Umberto Eco postado aqui mesmo no Entretextos.


Mas, ao lado dessas vantagens do computador, havemos que pesar as desvantagens, como ataques dos hackers, esses grandes inimigos  dos usuários do computador, e o mau uso do computador, segundo adiante ilustrarei.

O computador possibilitou o acesso à internet. Esta está, aliás,  fazendo 40 anos se tomarmos a data da sua alvorada com os computadores de Leonard Kleinrock e de Douglas Engelbert, este do Instituto de Pesquisas da Universidade de Stanford, aquele da Universidade da Califórnia,  Ambos, com seus computadores, se conectaram com a Arpanet, ou seja, um sistema de quatro computadores, os quais constituíam um projeto do Departamento de Defesa americano. Com o tempo, aquela conexão ainda tão tímida, progrediu, saindo da órbita da pesquisa de Estado para o uso do  público e, finalmente, para o que conhecemos todos sob o nome de internet.


Foi uma tremenda revolução nos hábitos das pessoas muito mais impactante do que a própria história da criação da imprensa. Hoje, a internet, globalizada, atinge os quatro cantos do planeta Terra.
Entretanto, daí começaram a surgir problemas com o avanço da informática. Daí  também surgiram inúmeras dores de cabeça para o usuário, ou não, do computador, uma vez que todos fomos influenciados pela sua disseminação. Bancos, aeroportos, fábricas, repartições, supermercados, lojas, tudo, enfim, passou a depender dessa máquina.

Por exemplo, o sistema bancário se informatizou em tal grau de sofisticação que hoje tornou-se dependente absoluto dos computadores. Mas, os inimigos dele se tornaram tão perigosos que, atualmente, estão trazendo sérios problemas para a população usuária do cartão de crédito. Formando quadrilhas, especializadas em tecnologia voltada para o mal, esses criminosos praticam ações que vêm prejudicar enormemente o cidadão comum, através da chamada clonagem, artifício técnico que penetra nos caixas eletrônicos e captam dados fundamentais do cliente para, em seguida, fabricarem falso com os quais irão lesar o cliente pelo país afora.

Dessa forma, o computador, que é a base de tudo isso, torna-se uma presa fácil para esses criminosos, sempre ávidos de conseguir dinheiro sem trabalhar. Caso de polícia. São tão ardilosos esses delinquentes que conseguem ter acesso a contas bancárias e,  dessa  forma, lesam os clientes dos bancos. Eu mesmo fui vítima desses facínoras recentemente. Tais crimes  merecem a atenção das autoridades de segurança no país a fim de que o Estado possa ter uma infraestrutra sólida e de ponta para dar cabo dos  meliantes  virtuais. É um apelo que daqui faço ao governo federal: invistam no contra-ataque desse tipo de crime que já se vem alastrando por toda a parte.

Os bancos também devem investir mais nas tecnologias da área da informática para que reduzam ao mínimo as possibilidades de acesso aos dados do cliente, redobrando os cuidados no uso do cartão de crédito, como , mesmo no caso de cartões dispondo de chips, exigindo do comércio de vendas, em todos os setores, que cada usuário do cartão de crédito, simples ou múltiplo, não importa, que, em qualquer compra, o cliente seja obrigado a exibir a carteira de identidade e assine a nota de compra, como fazem os bancos quando o cliente, nos “caixas-gente,” vão sacar ou receber algum dinheiro.


Esse é o lado podre do computador, quer dizer, sempre que a pessoa é prejudicada em seus direitos de consumidor por tipos de criminosos dessa espécie, o computador se transforma em inimigo potencial. Os criminosos, que o transformam nisso, devem ser perseguidos sem trégua nem piedade.