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 O HOBBIT: ONDE TUDO COMEÇOU

Miguel Carqueija

 

Resenha do romance “O Hobbit”, de J.R.R. Tolkien. Título original: “The Hobbit”.  The J.R.R. Tolkien Copyright Trust, 1937, 1951, 1966, 1978, 1995 e 1997 (Inglaterra). Livraria Martins Fontes Editora, São Paulo-SP, 2012 (oitava edição). Ilustrações do autor. Tradução: Lenita Maria Rímoli Esteves e Almiro Pisetta.

 

            Tolkien (1892-1973) foi um dos maiores autores de fantasia do século XX, ao lado de outros mestres britãnicos como C.S. Lewis, e ajudou a fazer deste gênero a coqueluche em que se tornou, baseada em livros grossos e que não obstante atraem imenso público. A saga conhecida como “O Senhor dos Anéis” começa neste romance “O Hobbit”, onde já encontramos os personagens que se tornariam célebres inclusive no cinema, Bilbo Bolseiro (o hobbit do título) e Gandalf, o mago. Além do entre sinistro e caricato Gollum.

            Um mundo onde convivem diversas raças racionais, algumas humanoides (humanos propriamente, anões, trolls, orcs, elfos), outras de todo inumanas (águias, aranhas, dragões). E tudo isso servido por uma narração de nível superior, já que Tolkien era um literato de verdade.

            Desde que aceitamos as premissas fantásticas da trama, esta pode ser acompanhada com grande prazer. Entretanto existem pelo menos dois detalhes que merecem ser questionados. Um, é que apesar das distãncias percorridas e da diversidade das raças, todo mundo fala o mesmo idioma, até mesmo as aranhas e as águias. Outro detalhe estranho é o caráter quase inteiramente masculino da história. Em toda parte, nas diversas raças que aparecem, só se encontram machos. No palácio do Rei Elfo, nas hordas de orcs, entre os anões, tudo é homem. Há poucas alusões a mulheres. Não se consegue entender porque tal misoginia do autor, um pouco aliviada na trilogia do Senhor dos Anéis. É como se as mulheres fossem inúteis para esse tipo de enredo.

            Merece especial menção o dragão Smaug, pivô da aventura, que em época anterior (dragões vivem muito) roubou um tesouro em jóias de uma tribo de anões e ainda os expulsou do território, que passou a ser conhecido como “a desolação de Smaug” (já que ele destruiu tudo em redor). Ficamos sabemdo assim da existência da “doença do dragão”, que chega inclusive a contaminar o chefe dos anões, Thorin Escudo de Carvalho. Com efeito, Smaug viu-se na posse de montes de jóias, barras de ouro e prata, e moedas. E dormia em cima de tudo isso, no chão de sua caverna. Não se machucava por ter couro muito resistente.

            Ora bem: dragões nada fazem com tesouros. Não compram nada com eles. Não compram comida, pois vivem da caça; não tomam bebidas, pois bebem água das fontes naturais (rios etc.). Não adqurem nem alugam imóveis, pois moram em cavernas. Não usam roupas. Eles querem as riquezas apenas pela posse pura e simples. “Ah, tudo isso é meu!!!” Aliás essa é a mentalidade do Tio Patinhas, que nada nas moedas de sua caixa-forte.

            O Gollum é outra personalidade estranha, um bicho atarracado, feio e esquisito, e nem o autor sabe esclarecer qual é a sua raça. Gollum possuía o famoso anel, que será objeto de grandes disputas na trilogia. Ao roubar o anel de Gollum, Bilbo tornar-se-á alvo de seu ódio.

            Quanto a Gandalf, o mago, ele aparece muitas vezes na hora certa e resolve muita coisa, mas fica claro que seu poder não é ilimitado.

            Para quem gosta de alta fantasia, um livro de leitura indispensável.

 

Rio de Janeiro, 4 de outubro de 2016.