O gambá
Clarisse de Oliveira
 
Nas paredes de madeira,
de minha casa,
de madeira,
Por detrás dos retratos do Sri Lanka,
da India,
do Egito,
corria uma vertente negra, mal cheirosa.
Chamei o caseiro e apontei o misterio;
- ele, naturalmente, subiu ao sótão
e constatou a morte de um gambá.
- O gambá, disse ele, fez um revestimento na parede,
de folhas sêcas de bananeira; foi por isso,
que chorei...
Quanto tempo levou o gambá, colhendo as bananeiras
sêcas, e distendendo-as na parede como um revestimento
                                artístico?
Rezei muito por ele; orei para que lhe fosse dado uma outra
vida melhor, como animal, ou, já como aspirante `a humano,...
porque, por maior que seja o sofrimento, é esquecida sua
substância, mas o impacto na Alma, sobrevive no Espírito,
para facilitar, ao menos, a claridade da Divindade, tênue, se
espalhando no Cosmos...aguardando a delineação para
outra vida, quiçá mais feliz sobre a Terra.