[Maria do Rosário Pedreiras]

No meio em que trabalho, todos os dias alguém se lembra de falar do fim do livro em papel e de um futuro risonho cheio de livros electrónicos, descarregados nas nossas máquinas a partir de um armazém virtual. Já aqui falei do que penso acerca do assunto; mas o caso dos livros não é filho único – e com o aparecimento dos jornais online e os seus milhares de seguidores, é igualmente plausível o desaparecimento destes na versão em papel. Eu cá começo o dia a folhear o Público e a ler as gordas e algumas das mais pequenas – e não consigo, assim sem mais nem menos, passar-me para o ecrã do computador; mas entendo que muitos o façam, porque, ao contrário do que antigamente acontecia, as redacções dos jornais hoje ficam às moscas pelas oito da noite e, como tal, aquilo que lemos de manhã é muitas vezes obsoleto e desactualizado. Contudo, acredito que possam sobreviver em papel publicações mais suculentas, que substituam a notícia pura e dura (legível online) por um jornalismo de investigação de que muitos diários e semanários desistiram, mas que as pessoas apreciam ler. Tenho, de resto, saudades da velha revista do Expresso, onde li saborosos artigos de investigação (como uma inesquecível história do banho e dos hábitos de higiene) e da revista LER dos primórdios, em que Francisco José Viegas fazia um levantamento exaustivo de autores de determinado país e nos dava uma panorâmica da sua literatura. Hoje, que temos muito mais leitores activos do que nesse tempo, não seria de apostar nisso mesmo?