O Estado do Rio de Janeiro e sua literatura: uma viagem prazerosa e instrutiva
Por Cunha e Silva Filho Em: 05/03/2011, às 14H53
Cunha e Silva Filho
No ano passado, publicou-se um livro relativamente pequeno ainda não suficientemente divulgado, Viagem literária através do Estado do Rio, (Niterói: Nitpress, 2010, 190 p.), organizado pelo professor Luiz Antonio Barros, professor de língua portuguesa do Colégio Militar do Rio de Janeiro, autor didático, dicionarista meticuloso, estudioso sobretudo de questões etimológicas e semânticas. O livro traz um primoroso prefácio do escritor Roberto Kahlmeyer-Mertens e iluminadoras orelhas de Luiz Augusto Erthal.
O autor, com mais esta obra, confirma seus inegáveis dotes de um pesquisador que sabe como encontrar o melhor caminho de reunir seu material pesquisado, no caso, autores nascidos no Estado do Rio de Janeiro.Contudo, reunir não é o suficiente para este pesquisador, porque ele avança no que está realizando, i.e., compõe uma antologia de escritores, inserindo os de maior projeção e outros de menor projeção ou quase desconhecidos, como Max de Vasconcelos (1891-1919), Walter Siqueira, Menezes Wanderley, dos quais nem dados biobibliográficos sequer encontrou o antologista.
Outro escritor, entre outros citados pelo organizador seria o poeta satírico e ator profissional, José Inácio da Costa, pseudônimo de Capacho, que viveu no Rio de Janeiro durante o vice-reino pré-joanino, de quem pouco se sabe e nem mesmo onde e quando faleceu. Disso resulta uma antologia enxuta, agradável, que, na verdade, nada tem das velhas fórmulas de se organizar uma antologia, cuja metodologia consistia apenas em reunir autores, fornecer-lhes dados biobibliográficos e selecionar excertos que melhor atendessem à subjetividade do organizador ou dos organizadores. Naturalmente, esta subjetividade será traço comum a qualquer organizador de antologias.
Para alterar esse modelo já gasto, Luiz Antonio opta por uma forma diferente e mais amena de aliviar o leitor, já que a reunião de autores e textos diferentes torna-se por vezes cansativa, quando prolongada no seu tempo de leitura. Para suavizar essa monotonia, o organizador resolveu, de forma original, apresentar seus autores sinalizando os escritores por grupos geográficos específicos, com capítulos ou seções sugestivos e aliciantes, como, por exemplo, o primeiro capítulo intitulado “Por lagos e mar há algum tempo navegados”.
Pode-se dizer que a antologia abrange a totalidade das cidades do Estado do Rio de Janeiro. Se há omissões de autores, e, neste gênero de publicação sempre os há, creio que não foi por culpa do antologista.
Outra novidade introduzida por Luiz Antonio foi a oportuna e eficaz ideia de, até por associá-la ao próprio título da antologia, fornecer breves informações históricas, etimológicas, econômicas, paisagísticas e culturais sobre a cidade ou região que precedem cada escritor incluído, além de, em alguns casos, resumidas apreciações críticas a respeito de obras significativas dos autores, assim como dados biobibliográficos na medida do possível e do que o autor conseguiu colher das pesquisas por ele empreendidas.
Fica-se sabendo o quanto de valores literários permanecem olvidados pelo povo, mesmo por especialistas em literatura brasileira. Obviamente, a quantidade de autores menores é grande, mas se descobre afinal que, entre os esquecidos, há deles de real valor literário, que são dignos de estudos por parte dos estudiosos de literatura. Já por isso vale a pena conhecer esta antologia.
Quanto aos textos selecionados, vejo que o organizador teve bom gosto e foi criterioso, ele que é um experiente professor e um assíduo leitor de literatura brasileira. Nestes textos, o leitor atento, o professor de literatura, hão de encontrar material inestimável para a sala de aula. Eu, particularmente, me surpreendi com nomes de autores merecedores de estudos pela qualidades de suas obras e pelo quase anonimato em que se encontram no panorama da literatura brasileira, tanto do passado quanto da atualidade. A antologia de Luiz Antonio tem este mérito, o de suscitar o interesse por esse autores pouco ou quase nada conhecidos por especialista, Acredito que isso é uma realidade de âmbito nacional, de solução quase incontornável. A literatura é também feita de injustiças por parte de historiadores.
Seria conveniente ao organizador que mantivesse as partes da antologia uniformes, o que vinha acontecendo sem problema até à citação do escritor Wanderlino Teixeira Leite Netto (p.175). Até aí o organizador vinha inserindo textos correspondentes a cada autor, ficando de fora desta norma, infelizmente, os nove autores que finalizam a antologia.
O organizador às páginas 108-109, discorrendo sobre a cidade de Porciúncula e a origem do seu nome, desta vez não inclui, nenhum escritor. Apenas cita um comentário de dois autores sobre a expressão diminutiva “porciúncula”, que, para eles, não vem a ser o nome pelo qual foi designado aquele município. Para eles, Porciúncula foi assim chamada simplesmente por homenagem a Tomás de Porciúncula, o qual fora Presidente (ou Governador) do Estado do Rio de Janeiro. O texto “Armadilha da sardinha coqueiro”, ali selecionado, aliás, bem interessante pelo seu bom nível literário- humorístico apenas se incluiu, penso eu, pela relação geográfica com o município. Neste caso, o organizador foge ao plano geral da natureza do livro.
Na questão da inclusão de nomes na antologia de Luiz Antonio, que é um nó górdio de qualquer antologista, e que muitas vezes provoca polêmicas devido às suscetibilidades dos autores não incluídos, teria sido bom que o antologista tivesse incluído o nome da escritora, Roza de Oliveira, trovadora, poetisa, ensaísta, autora de literatura infantil,, admirável declamadora, e professora universitária aposentada,nascida em Santo Antônio de Pádua, Rio de Janeiro e residente há muitos anos em Curitiba. Roza continua atuante na atividade literária, mantendo-se em plena forma com suas oficinas de poesia em Curitiba e divulgando seus trabalhos de poetisa e de consagrada trovadora dentro e fora do Paraná. Não culpo o antologista por qualquer omissão involuntária, principalmente porque, o mais das vezes, durante a organização dos dados coletados, ele mesmo não teve notícia de uma autora fluminense que está fora do Rio há anos e nem pudera encontrá-la em obras predecessoras.
Creio que, com esta nova obra, Luiz Antonio, conforme o fizera com o seu útil Dicionário de ditados, provérbios, alusões, citações e paródias (Niterói: Nitpress, 2008, 317 p.) estará prestando mais uma grande contribuição aos estudos literários, ao mesmo tempo em que sua Viagem literária através do Estado do Rio vem tornar mais conhecidos dos leitores cariocas, fluminenses e brasileiros em geral, e nos diversos gêneros literários, alguns escritores de destaque mas menos conhecidos que, ao lado de Machado de Assis, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Fagundes Varela, Casimiro de Abreu e tantos outros, nascidos no Estado do Rio de Janeiro, aí estão à espera de serem agora mais bem estudados, divulgados e pesquisados.
Luiz Antonio cuidou, quer pela capacidade de pesquisador, quer pelas atualizadas referências bibliográficas, antecedidas de siglas que, no corpo do livro, facilitam enormemente o leitor, quer, finalmente, pelo impecável índice onomástico, acrescido da página referente ao autor, de preencher esta lacuna e o fez com competência e dedicação, qualidades que sempre nele apreciei desde quando fui dele colega no Colégio Militar do Rio de Janeiro.