Cunha e Silva Filho

 


           Conversando com a minha esposa, ela, de repente, me soltou esta afirmação:“Você, Francisco, nunca imaginou que, um dia, seria um viciado em computador.” Você, algum dia, imaginaria que haveria esse notável e utilíssimo meio de se comunicação com o Brasil, o mundo, os continentes e que muita gente ficaria lendo, ainda que uma só vez, um texto seu?” Não lhe respondi, apenas olhei para ela com um sorriso.É claro que ela se referia aos blogs.
          A primeira vez que me deparei com o termo blog foi num texto em inglês falando justamente dessa forma de comunicação virtual. De início, nada entendi o que fosse um blog, para que serviria. O texto falava sobre a aplicabilidade do blog e, para um leigo como eu em assuntos de usos da mídia virtual, tudo me parecia confuso. Esse texto teria que trabalhar numa das minhas alas de inglês na seção chamada Prevest. Do Colégio Militar do Rio de Janeiro. O Prevest é uma seção destinada a preparar os alunos do ensino médio aos vestibulares no país. Se não incorro em erro, ela se subdividia em turmas de humanas, biológicas e tecnológicas. Como professor de língua estrangeira, me reservavam as turmas de humanas.
        Confesso que o texto me era algo problemático para discutir com os alunos porque não atinava ainda com a natureza real do que fosse um blog. Inclusive, serei franco, achava que blogueiro era para alguém desocupado que usava esse meio digital para escrever sobre si mesmo sem nenhuma preocupação de maior importância.Quer dizer, o blog, conforme definia o texto em inglês, pelo menos para mim, só foi bem entendido quando resolvi ter o meu próprio blog batizado de “As ideias no tempo,” através dele venho escrevendo meus textos desde 2009.O título foi tirado do livro de título homônimo As ideias no tempo, publicado, pela Gráfica do Senado em convênio com a Academia Piauiense de Letras (APL), em 2008.
       Não sei quem primeiro teve a ideias de chamar de blog a esse meio de comunicação, hoje a forma mais democrática que tenho para transmitir minha ideias sobre o que penso da vida, dos homens, da cultura, do mundo. Sinto-me à vontade nesse grandioso fórum de debates, de dialogo, ainda que por vezes silencioso, com o me pais e com o mundo. Neste sentido, o meu blog é o meu exercício imediato de me comunicar com os outros, independente das fronteiras continentais.
       Mais do que o jornal, a revista, o livro, o blog para mim é uma espécie de cátedra, cujo titular tem, sim, compromissos éticos com o público, ao exercer sua atividade escrita sem as aprovações, os interditos, as chancelas, as avaliações que outros meios de transmissão de notícias e de conhecimentos impõem , por vezes, injustamente a um escritor. Meu único compromisso, na realidade, é com o saber, a opinião livre das peias da censura e dos critérios ideológicos, comerciais, de grupos culturais ou acadêmicos, mito presos a os seus regulamentos de toda a sorte.
      O meu blog é uma ágora pelo qual perpassam minhas ideias, minhas idiossincrasia, meus defeitos, minhas qualidades e minhas limitações. Por isso, assumo as responsabilidades que me cabem dentro do conceito mais amplo que tenho sobre liberdade de expressão e de visões culturais. Até agora, nunca me senti cerceado quanto ao que tenho publicado nesses últimos quase sete anos na condição de blogueiro – termo que, intimamente não me agrada em razão de subjetivamente associá-lo a algo que pertencesse a um categoria inferior de usuários da escrita virtual. Isso, contudo,  é um preconceito meu arraigado por razões que não sei explicar.
      De uma coisa tenho certeza, tudo que publico no me blog é a expressão mais clara do meu pensamento intelectual e, por ter o blog essa característica de liberdade, de autonomia, de responsabilidade ética, é que me fortalece a vontade de dar continuidade a esse locus do qual tenho colhido algumas alegrias conquanto não sejam muitas.
       No meu blog discuto questões de amplo espectro, algumas muito polêmicas, outras mais amenas, outras mais dirigidas a um público mais restrito. O que me leva a essa continuidade é a minha vontade de me comunicar –reitero – com as pessoas, o meu país e o mundo, incluindo aqui a possibilidade de opiniões contrárias às minhas.
     O papel de um escritor é ser verdadeiro consigo mesmo. Não é a de um mistificador, mas de um homem/mulher que tem que dar satisfação ao que eticamente julga ser construtivo e útil à coletividade. Pode mudar de opinião? Pode, mas essa redefinição de seus princípios só será feita por amor à verdade, à justiça e à cultura no sentido mais lato possível. Dessa postura moral não me afastarei um milímetro.
     A condição do escritor é de se expor, de ter coragem e de ter “personalidade” - a palavra “mágica,” segundo a definição de Cassiano Nunes (1921-2007), um eminente ensaísta, crítico literário, poeta e grande conferencista, ex-professor de literatura da Universidade de Brasília,  com quem tive o prazer de trocar uma brevíssima e proveitosa ( para mim) correspondência.