O Copacabana Palace Hotel e suas lendas

O interessante das estórias do velho Copa é que elas narram fatos que aconteceram.

   

 

 

 

 

 

 

"Morre aos 88 anos Jorginho Guinle [MARÇO DE 2004]

05 de março de 2004 - 09h10 - atualizado às 09h10
 

Jorginho Guinle no Fashion Rio 2003  Foto: Celso Ávila/Especial para Terra

Jorginho Guinle no Fashion Rio 2003
Foto: Celso Ávila/Especial para Terra 

Morreu aos 88 anos, às 4h30 desta sexta-feira (5), no Rio de Janeiro, Jorginho Guinle, um dos playboys mais famosos da história. Ele sofreu um aneurisma na aorta abdominal, que estava em expansão, e faleceu no hotel Copacabana Palace, construído por sua família e vendido para o grupo Orient-Express Hotels, em 1989.

Morrer no hotel, palco de bailes memoráveis, foi seu último desejo. Ele deixou o Hospital de Ipanema, na quinta, após assinar um termo de responsabilidade se recusando a ser submetido a uma cirurgia.

O playboy foi enterrado por volta das 11h30 no Cemitério São João Batista, zona sul do Rio de Janeiro, após a exumação do corpo de Mariazinha Guinle, mãe de Jorginho.

Pai da atriz Guilhermina Guinle, Jorginho era filho de uma tradicional família do Rio, responsável pela construção do Copacabana Palace. Ele era o autor de Jazz Panorama, primeiro livro sobre jazz escrito no Brasil.

Segundo a assessoria de imprensa do hotel Copacabana Palace, onde Jorginho Guinle morava, a família está muito comovida e não quer dar entrevistas.

Amores
Apaixonado por jazz e filosofia, Jorginho Guinle namorou belas e famosas mulheres. Entre suas conquistas estão Marilyn Monroe, Heddy Lamarr, Kim Novak, Jayne Mansfield.

"Vivi demais. Achei que ia viver 80 anos. Tô com 87. Me ferrei", disse em uma recente entrevista para a TV Globo. "Entre as beldades, gostei mais de Kim Novak e da Rita Hayworth", completou.

No Carnaval de 1965, ele ajudou Romy Schneider a se recuperar do fim do namoro com Alain Delon."

(http://diversao.terra.com.br/gente/noticias/0,,OI3525449-EI13419,00-Morre+aos+anos+Jorginho+Guinle.html)

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1934, NA ENTÃO CAPITAL DO BRASIL, SENTENÇA PROLATADA:

proteção magnânima, justa e imediata a muitos empregos,

em Copacabana, para trabalhadores poderem alimentar, vestir,

medicamente cuidar, educar (também com jogos, brinquedos

e contações de estupendas estórias) os frutos humanos de seus

dignos casamentos, AS CRIANÇAS [QUE PELÉ, A PROPÓSITO,

NÃO ESQUECEU, QUANDO FEZ SEU MILÉSIMO GOL, NO

ESTÁDIO DO MARACANÃ, HÁ MAIS DE QUARENTA ANOS];

A JUSTIÇA BRASILEIRA DECIDIU, CERTA VEZ, a favor do benemérito

Octávio Guinle, de seus(suas) colaboradores(as), dos(as) amigos(as) 

que visitam a Cidade Maravilhosa, da indústria turística da Guanabara...

e do povo carioca!  [DECISÃO JUDICIAL PROLATADA EM INSTÂNCIA FINAL -

e negado provimento a recurso (interposto por advogados de grande

experiência e capacidade profissional) contra interesses materiais e

simbólicos do POVO BRASILEIRO]

(SÓ A BELA FOTO DE MAGISTRADO TRABALHANDO, SEM A LEGENDA

ACIMA APRESENTADA, que não se refere exclusivamente à decisão

de que se trata, mas, é claro, a QUALQUER DECISÃO DE JUSTIÇA, que,

aqui, (a imagem fotografada) passa a ter o sentido sugerido de

ALEGRIA POPULAR-LEIGA DECORRENTE DE DECISÃO JURISPRUDENCIAL 

(NÃO-LEIGA), MARAVILHOSA:

http://www.carloscoelho.eu/dossiers/50_anos/ver.asp?submenu=20&pf=53)

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.copacabana.com/fotos/displayimage.php?album=1&pos=193)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A ARCA DA ALIANÇA, SOBRE A QUAL SE PODEM LER, NA WEB, TRECHOS

COMO O SEGUINTE, POR EXEMPLO:

"(...) No dia  6 de Junho iniciamos a campanha da arca da aliança, tendo como base Bíblica a passagem de 2Samuel 6,11 “E ficou a arca do SENHOR em casa se Obede-Edom, o geteu, três meses; e abençoou o SENHOR a Obede-Edom e a toda sua casa (familia)”

E através de uma ATITUDE PROFÉTICA pela fé, todas as familias levarão para suas casas uma réplica da ARCA DA ALIANÇA ficando com a arca uma semana, e nesta semana farão um pedido ao SENHOR colocando na arca, assim farão todas as familias da igreja.

No final da campanha levaremos todos os pedidos no monte, onde vamos orar por todos os pedidos.

ARCA DA ALIANÇA

 

VENHA PARTICIPAR DESSA PODEROSA ATITUDE DE FÉ"

(http://batistamana.wordpress.com/campanhas/agendadas/)

 

 

 

 

 

(http://palavrasdobruno.wordpress.com/2009/08/14/discovering-orson-welles/)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://amngospel.wordpress.com/2010/01/10/recordacoes-da-minha-infancia-parte-4-quadrinhos-e-figurinhas/)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://colunistas.ig.com.br/curioso/tag/carmen-miranda/)

 

 

 

"(...)

Os caçadores das latas perdidas

Fragmentos de um botão de rosa ("Rosebud") brasileiro? [FILMAGENS DE ORSON WELLES NO BRASIL, TENDO O GRANDE AUTOR ESTADUNIDENSE MORADO NO VELHO COPA.] O que aconteceu com o documentário dos jangadeiros, o episódio Four Men on a Raft (Quatro Homens numa Jangada), representando 70.000 pés, quase um terço de todo o material filmado? Talvez a mais fina pérola de todo o empreendimento, Four Men on a Raft registrou a vida de uma aldeia de pescadores no Brasil, a cerimônia de casamento entre seus habitantes, o afogamento do marido, o funeral do pescador e a histórica viagem de 4 homens numa jangada, desde o Ceará até o Rio de Janeiro, com o objetivo de pedir ajuda para o seu povo. A cena do afogamento reconstituía a morte de Jacaré, o líder dos jangadeiros morto em 18 de maio de 1942, quando se preparava para filmar na Barra da Tijuca. Na época, jornais brasileiros e americanos, como o The New York Times, noticiaram que Jacaré teria sido lançado de sua jangada durante uma luta entre um polvo e um tubarão, e apanhado no vértice pelos dois animais.

Das cerca de 127 tomadas existentes em Hollywood, restam apenas 4 mostrando a saga dos jangadeiros e estas são as de mais impressionante beleza. Num levantamento mandado realizar pela RKO sobre o negativo estocado em Salt Lake City, Estado de Utah. o funcionário encarregado concluiu que "o material como um todo é extremamente monótono e chato, e eu não vejo muita possibilidade de salvação".

Como explicar, então, o desaparecimento de 200.000 pés, 38 horas do carnaval de 1942, filmado no maior set já concebido por Hollywood - a cidade do Rio de Janeiro - num ano de grandes festividades, com a Praça Onze - recém-desaparecida - sendo reconstituída nos estúdios da Cinédia, a esplêndida participação de Grande Othelo (que Welles chegou a considerar "o maior ator do mundo"), e o mais fulgurante plano da Cidade Maravilhosa ao anoitecer, com a lua cheia formando um simétrico circulo em torno da estátua do Cristo Redentor?

Em 1958, após a queda da RKO, a bibliotecária Hazel Marshall, da Paramount Pictures, ao catalogar o acervo deixado, verificou que a companhia não poderia exibir uma parte do filme em razão da falta de um contrato firmado com os atores e da não-definição dos direitos autorais de sua vasta trilha musical. A empresa achou muito caro manter o negativo, em nitrato, em condições ideais de conservação e muitos trechos foram cortados e jogados fora. Numa série de seminários realizados nos anos 70 pelo American Film Institute sobre a vida e a obra de Orson Welles, It's All True foi integrado à seção relativa aos filmes perdidos do autor. Há alguns anos atrás, uma emissão da televisão BBC de Londres apresentou, pela primeira e única vez até hoje, uma exibição deste material em público.

Os aproximadamente 5.500 pés de filme que se encontram no arquivo da Paramount estão agrupados em 17 latas, correspondendo a diferentes seqüências de metragens variadas. Eles documentam um Rio de Janeiro de 42 anos atrás, com bondes na Praça Tiradentes; desfiles das grandes sociedades; carnaval de rua; prédios em estilo art nouveau" e art déco e exemplos da mais moderna arquitetura da época magnificamente filmados em tomadas laterais: blocos pulando carnaval na praia de Copacabana, na rua do Ouvidor e no Quintino; a Praça Mauá; o Teatro Municipal; a antiga Cinelândia; terreiros de escolas de samba; cenas exteriores de Grande Othelo cantando músicas do carnaval de 42 (Praça Onze e Batuque no Morro); e cenas interiores de Othelo numa sensacional seqüência de uma briga, encenada nos estúdios da Cinédia. Alguns dos planos de favelas também estão lá e, segundo indicações de Welles. eles seriam montados ao som da musica Ave Maria no Morro, de Herivelto Martins. Entre algumas tomadas aéreas do Cristo Redentor, destaca-se o perfeito enquadramento da lua incidindo sobre a cabeça da estátua. Há também uma minuciosa série de "vistas" das características topográficas e urbanas da cidade, com seus principais monumentos arquitetônicos. (...)".

(SÉRVULO SIQUEIRA, trecho de artigo publicado na FSP em 2.12.1984 e transcrito adiante, na íntegra,

http://www.guesaaudiovisual.com/CinemaFilosofiaLiteratura/EnsPesMemoria/etudoverdade.html)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RIO OTHON PALACE, na Av. Atlântica

(http://luxurytrip4less.com/honeymoon_south_america.htm)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

HOTEL LE MÉRIDIEN, na Av. Atlântica: dele cai fabulosa cascata de fogos, no réveillon

(SÓ A FOTO, SEM A LEGENDA ACIMA ENGENDRADA:

http://sintagmatica-piesse.blogspot.com/)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O SOFITEL HOTEL RIO, da rede Accor Hotels

and Resorts, na Avenida Atlântica

(http://www.trivago.com/rio-de-janeiro-78506/hotel/sofitel-rio-de-janeiro-104722/picture-i4549021)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ELE, "em pessoa", CHEIO DE LENDAS,

PROPICIATÓRIO E MUITO FELIZ

(SÓ A FOTO DO VELHO COPA,

SEM A LEGENDA LOGO ACIMA LIDA,

http://elainecrespo.blogspot.com/2009/08/hoje-ccompletam-86-anos-da-inauguracao.html)

 

 

"(...) O Presidente Arthur Bernardes, sucessor de Epitácio Pessoatentou em 1924 cassar a licença de funcionamento do cassinoalegando que a construção do Copacabana Palace já teria ultrapassado o prazo dado pelo Governo. Depois de prolongada batalha nos tribunais, a família Guinle ganhou a causa em 1934. (...)"

 

"(...) Quem quase morreu no Copa, mas de coração partido, foi Carmem Miranda, arrasada pelo fracasso de seu casamento. Carmem trancou-se em seu quarto em dezembro de 1954 e pensou seriamente em se matar, desistindo após olhar a bela paisagem da orla de Copacabana da janela de sua suíte. (...)".

(TRECHOS DO ARTIGO ADIANTE TRANSCRITO NA ÍNTEGRA,

http://www.copacabana.com/copacabana-palace.shtml, sendo que

os grifos são do autor do texto)

 

 

 

 

"propiciatório adj.

1. Que propicia.
s. m.
2. Tampa de ouro puríssimo que cobria a Arca da Aliança.
3. Vaso sagrado em que se oferecem sacrifícios a Deus.
4. Pessoa ou coisa que tem o dom de tornar a Deus propício".

(http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=propício,

sendo que o significado "Tampa de ouro puríssimo que cobria

a Arca da Aliança" não estava grifado, no original)

 

 

 

"propício (latim propitius, -a, -um) adj.
 
1. Que favorece algo; disposto favoravelmente. = benigno, favorável
2. Que serve para o que se pretende. = adequado, oportuno
3. Que protege ou auxilia. = protector! protetor"

(http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=propício )

 

 

 

 

 

"Hospedar-se no Copa constitui singular experiência, propiciatória"

Coluna "Recontando estórias do domínio público"

 

 

 

 

 

 

                           Em memória de Jorge Guinle (1916 - 2004), cujo dinheiro se acabou e ele

                           continuou feliz [a foto acima reproduzida isso mostra]; homenageando o

                           presidente Luiz Inácio Lula da Silva (nasc. em Garanhuns-PE, em 

                           27 de outubro de 1945), QUE JAMAIS MANDARIA FECHAR,

                           como Dutra fez, os cassinos, sendo que tais empreendimentos 

                           de diversão pública foram, como é do conhecimento de todos, 

                           PRIVILEGIADOS CELEIROS DE GRANDES ARTISTAS BRASILEIROS

                           (veja no artigo de Sérvulo Siqueira, reproduzido  -  com a autorização

                           de seu autor [e citada a fonte, na Web]  -  ao final desta matéria, que

                           o cineasta Orson Welles considerava o muito saudoso Grande Otelo

                           como O MAIOR ATOR DO MUNDO); para os doutores

                           Epitácio Pessoa, Octávio Guinle, Paulo de Frontin, Joseph Gire e

                           César de Mello e Cunha; os grandes atores Grande Otelo e Carmen Miranda; os

                           cineastas Walter Elias Disney e Orson Welles, contadores de estórias da humanidade 

                           (IN MEMORIAM); e a

                           EDSON ARANTES DO NASCIMENTO (PELÉ), desejando-lhe saúde e vida longa!

 

 

[COMO É QUE AS CRIANCINHAS POBRES SERÃO PROTEGIDAS SE SEUS PAIS OU RESPONSÁVEIS NÃO ESTIVEREM EMPREGADOS OU RECEBENDO MERECIDAS APOSENTADORIAS /  PENSÕES?]

                                      

 

 

 

14.8.2010 - Eu nunca fiz isso - Recomendo, entretanto, que você se hospede pelo menos por uns dias no Copacabana Palace Hotel, na Avenida Atlântica: a experiência é propiciatória. "Faça o que digo, mas não faça o que eu faço?". Não! Eu também ainda haverei de fazer isso, se Deus quiser. Bem, se você quiser se hospedar lá no carnaval ou no réveillon e o velho Copa já estiver lotado, verifique se ainda há apartamento disponível no Othon, no Le Méridien ou no Sofitel  [ESTE ÚLTIMO, que já se chamou Rio Palace, FICA, NO POSTO SEIS, NO MESMO ENDEREÇO ONDE JÁ FUNCIONOU OUTRO CASSINO, O CASSINO ATLÂNTICO: todos foram fechados por decisão do naziburríssimo Dutra], estabelecimentos da hotelaria de luxo, que também ficam na Av. Atlântica (*). Se o amigo ou a amiga tiver a sorte de se hospedar no Le Méridien, na virada de ano, recomenda-se que saia do mesmo para poder ver a chuva de fogos de artifício que de seu topo despenca, já que, se nele você estiver, não conseguirá vislumbrar cena tão magnífica. Afinal "o olho não se vê".  E o olho não se vê, aliás, NEM NO ESPELHO, UMA VEZ QUE, NO ESPELHO, O QUE VEMOS SÃO MEROS REFLEXOS DAS COISAS MESMAS, e, ainda assim, o tal do olho aparece invertido, por razões ópticas.  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

(*) - O Sr. a Sra. ou a Srta. deseja gastar menos e, ainda assim, ficar em Copacabana? Então,  veja lista completa em:

http://copacabana.com/hotel.shtml. BAIRRO DE COPACABANA / outras atrações, NESTA

COLUNA "Recontando": http://www.dilsonlages.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/copacabana-outro-artigo-de-luiz-ribeiro,236,4237.html.

 

 

 

 

O COPACABANA PALACE

"O Copacabana Palace foi construído entre 1917 e 1923 e inaugurado em 13 de agosto de 1923 como resultado de um desejo comum do Presidente da República Epitácio Pessoa e do hoteleiro Octávio Guinle em construir no Rio de Janeiro um hotel digno para receber autoridades e personalidades estrangeiras com grande pompa as celebridades internacionais que viriam ao país para a comemoração do Centenário da Independência, em 1922, além de consagrar-se pela sofisticação dos serviços e o esplendor da localização em frente à Praia de Copacabana, até então ainda semi-deserta e desconhecida. Seriam concedidos benefícios fiscais, bem como a licença para nele funcionar um cassino, este último uma exigência dos Guinle. A proposta foi aceita e essa é a origem do Hotel Copacabana Palace. Octávio Guinle adquiriu então um alqueire de terras na Praia de Copacabana, que naquela época ainda era ocupada apenas por algumas poucas casas. O terreno dava frente para a Avenida Atlântica, alargada em 1919 por pelo Prefeito Paulo de Frontin. O Hotel não ficou pronto para a Exposição de 22. Diferentes fatores contribuíram para o atraso das obras, como: as ressacas e a dificuldade de construção de um edifício daquele porte em solo arenoso.

Projetado pelo arquiteto francês Joseph Gire, a construção do Copacabana Palace foi feita pelo engenheiro brasileiro César Mello e Cunha. Com a planta perfeitamente acadêmica e simétrica, o que resolvia de modo prático os principais problemas funcionais do complexo, por ser um hotel de alto luxo e de um cassino, que depois da proibição do jogo na Brasil, serve como espaço cultural, que se inspirou no Hotel Negresco de Nice e no Hotel Carlton de Cannes com estrutura sóbria e imponente, empregou, em larga escala, o cimento da Alemanha, o mármore de Carrara, na Itália, os vidros e os lustres da Checoslováquia e os móveis da França e cristais da Boémia. A decoração era em estilo Luís XVI, mas tratava-se apenas de revestimento aplicado sobre estrutura oculta. À época da inauguração foi o primeiro grande hotel na praia de Copacabana, estando cercado apenas de pequenas casas e mansões. Desde a sua inauguração, o hotel teve apenas dois proprietários, a família Guinle do Rio de Janeiro, e o grupo Orient-Express Hotels, que o adquiriu em 1989.

Na noite de estréia, deveria ocorrer um show com a artista francesa Mistinguett, mas seu contrato com o Teatro Lírico a proibiu.


Hotel Copacabana Palace em 1924

O Presidente Arthur Bernardes, sucessor de Epitácio Pessoa, tentou em 1924 cassar a licença de funcionamento do cassino, alegando que a construção do Copacabana Palace já teria ultrapassado o prazo dado pelo Governo. Depois de prolongada batalha nos tribunais, a família Guinle ganhou a causa em 1934.

Nos primeiros dez anos de vida, o Copacabana Palace presenciou eventos históricos e dramáticos.

Ainda na fase da sua construção, o Copacabana Palace sofreu os efeitos da terrível ressaca de 1922, que lhe destruiu toda a Avenida Atlântica e danificou seus andares inferiores.

Em 1925 hospedou a primeira personalidade mundial: o cientista Albert Einstein.

Num dos luxuosos salões do Copacabana Palace, em 1928, foi atingido por um tiro o Presidente Washington Luís dado por sua amante francesa durante uma briga. O Presidente Washington Luís foi socorrido pelo médico Francisco de Castro e o episódio abafado. Ainda em 1928, hospedou-se no Copa, em profunda crise de depressão, o inventor Alberto Santos Dumont, em 3 de dezembro de 1928, Santos Dumont voltava ao Brasil à bordo do navio Cap Arcona e vários intelectuais e amigos do inventor planejaram prestar-lhe uma homenagem. Pretendiam lançar uma mensagem de boas vindas em um paraquedas e estavam todos à bordo de um hidroavião batizado com o nome do Pai da Aviação. Depois de uma manobra desastrada, o avião que jogaria pétalas de flores em seu barco bateu na água, na Baía de Guanabara e explodiu, matando seus doze ocupantes, entre eles vários amigos de Santos Dumont, tais como Tobias Moscoso, Amauri de Medeiros, Ferdinando Laboriau, Frederico de Oliveira Coutinho, Amoroso Costa e Paulo de Castro Maia. Santos Dumont fez questão de acompanhar por vários dias as buscas pelos corpos, após o que recolheu-se, primeiro a seu quarto no Hotel Copacabana Palace, depois a sua casa em Petrópolis, onde entrou em profunda depressão. Após algum tempo, voltou a Paris, internando-se em um sanatório nos Pirineus.
 

Yolanda Pereira a primeira Miss Universo no Copacabana Palace

No tempo em que as misses ainda não mostravam as pernas, o Copa serviu em 1930 de palco para o primeiro concurso de Miss Universo no qual as candidatas desfilavam em carro aberto pela cidade e utilizavam a varanda do hotel como passarela, sob os aplausos de uma multidão aglomerada na avenida Atlântica. Yolanda Pereira (Pelotas, 16 de outubro de 1910 - Rio de Janeiro, 4 de setembro de 2001) foi a primeira brasileira a conquistar o título de Miss Universo, em 1930.

“ É a brasileira, em sua mais lata e justa personificação. É uma rima de canção cabocla encarnada num corpo de mulher. Seu moreninho mate é a cor que deve ter toda a patrícia para ser bem brasileira. O Brasil vive-lhe nos olhos irrequietos e fascinadores. Canta-lhe no riso franco e menineiro. Mora no negrume encaracollado de seus trevósos cabellos. Toda ella é Brasil. O desprendimento, a grandeza d’animo, a galanteria brasilica, tudo vive nella, elevando-a a Symbolo da Raça. Salve Yolanda! Salve, “Miss Brasil”! Cem vezes, salve, “Miss Universo”!


* Texto original, extraído do Álbum do Concurso Internacional de Beleza.

A primeira etapa, o título de Miss Pelotas, foi conquistado através do sufrágio popular, tendo ela sido a candidata mais votada, com 4.202 votos. Em Porto Alegre, concorrendo com as demais candidatas, sagrou-se Miss Rio Grande do Sul, em concurso patrocinado pelo extinto jornal Diário de Notícias. Na então capital federal, o Rio de Janeiro, embora não alimentasse esperanças de vitória, ela foi escolhida como a Miss Brasil. O concurso de Miss Universo, chamado na época de "Concurso Internacional de Beleza", também foi realizado no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. O país tinha seus jurados em desvantagem, e o resultado final estava na dependência dos jurados europeus, sendo que a favorita era a Miss Portugal. Mas, para alegria dos brasileiros, a escolhida foi Yolanda. Em agosto de 1930 (algumas fontes indicam o dia 7 de setembro) Yolanda foi proclamada Miss Universo. O parecer da comissão julgadora levou em conta quesitos como beleza, graça, equilíbrio, proporção, formas e distinção. Os jurados também estiveram atentos ao tipo étnico e à visão do conjunto. Yolanda recebeu a faixa das mãos de Felipe Cardoso, vice-presidente do Conselho Ministerial. O promotor do concurso era o vespertino carioca A Noite, a quem Yolanda concedeu a primeira entrevista, falando de sua surpresa pelo resultado. Disse que não esperava, que não alimentava tal ambição e que apenas se preocupava com o desejo de desempenhar da melhor maneira possível o papel de Miss Brasil.

Um cronista da época chegou a escrever: "Não foi, apenas, a vossa beleza que venceu e que vos faz universal como Einstein e tão cheia de glórias como Lindenberg. O que venceu convosco, Miss Universo, foi a graça radiosa da mulher brasileira."

Yolanda Pereira a primeira Miss Universo no Copacabana Palace

Copacabana Palace

O Príncipe Edward de Gales, futuro Rei Edward VIII da Inglaterra, e seu irmão George, igualmente futuro rei britânico, se hospedaram no Copa em 1931. Edward criou um rumoroso episódio constrangedor para a Família Real Britânica ao se apaixonar por uma jovem brasileira, Negra Bernardez, desquitada e mãe de dois filhos, a qual ele queria levar de todo o jeito para a Inglaterra e com ela se casar. Em seus arroubos, chegou a intentar um vôo num avião experimental trazido desmontado em seu navio para impressionar sua amada, jogando-lhe flores do alto sobre sua casa, no que foi dissuadido por seus assessores. Não se refez do episódio, tomando "homérico" porre e jogando-se todo fardado na piscina do Country Club de Ipanema. Anos depois, Edward, já Rei da Inglaterra, renunciaria ao trono para casar com a desquitada americana Lady Simpson, com quem viveu o amor de sua vida. Quanto à Negra Bernardez, a mulher que recusou ser rainha da Inglaterra, era mãe do famoso colunista social Manuel Bernardez Müller (Maneco Müller).

Em 1933 o Copacabana Palace seria conhecido internacionalmente por um filme realizado em Hollywood, "Flying down to Rio", com Dolores Del Rio, Fred Astaire e Ginger Rogers, ambientado no hotel, mas todo realizado em estúdios nos Estados Unidos, com cenários pintados do Rio de Janeiro e a praia de Malibu "dublando" Copacabana. O filme foi um sucesso e considerado um marco do cinema, já que nesta película dançou junto pela primeira vez o célebre casal Fred Astaire e Ginger Rogers, tornou o hotel famoso mundialmente da noite para o dia.


 

Em 1934, foi construída a piscina do hotel, em projeto de César Mello e Cunha, depois ampliada em 1949.

Em 1938 inaugurou-se o "Golden Room", com show de Maurice Chevalier.

A Segunda Guerra Mundial tornou o Copacabana Palace o único hotel de turismo de porte capaz de hospedar a elite internacional sem sofrer do perigo de um bombardeio. Foram os anos áureos do hotel. A política de boa vizinhança para com os Estados Unidos, estabelecida em 1942, fez com que grandes personalidades daquele país nos visitassem e se hospedassem no Copa. Praticamente todos os grandes atores de Hollywood se hospedaram nele: Clark Gable, Edward G. Robinson, Fred Astaire, Dolores Del Rio (finalmente no Copa!), Katerine Hepburn, Lana Turner, Marlene Dietrich (que realizou show memorável em 1959), Orson Welles (que "morou" seis meses no hotel em 1942, e que num acesso de fúria por ter sido preterido pela atriz mexicana Dolores del Rio, jogou os móveis de seu quarto na piscina...), Walt Disney (que nele esboçou o personagem "Zé Carioca"), Josephine Baker (que manteve encontro furtivo com Le Corbusier), e muitos outros.

Após a guerra, com a proibição do jogo e com o fechamento dos cassinos (a última partida de roleta no Brasil foi realizada no cassino do hotel Copacabana Palace, em 30 de abril de 1946), o Copacabana Palace passou por um grande reforma, que aumentou a capacidade, acrescentando dois andares ao prédio principal, mais a pérgula lateral, que se tornou ponto de encontro da sociedade brasileira e estrangeira, e ergueu-se o Anexo nos fundos, inaugurado em 1949. No antigo cassino foi instalado o Teatro Copacabana, responsável pelo lançamento de muitos talentos da dramaturgia nacional. O responsável pela reforma do Copa foi o arquiteto Wladimir Alves de Sousa, que soube preservar a ambiência antiga do hotel.

O Anexo tornou-se logo lugar não só para residência de hóspedes ilustres, como também para encontros furtivos importantes, pois existia uma elaborada passagem subterrânea, por detrás do salão de cabeleireiro, que conduzia quem não quisesse ser visto daquele lugar até o anexo. Devem ter sido encontros extremamente apaixonados, pois pelo menos dois amantes morreram do coração, um deles importante senador da República por São Paulo e outro um respeitável banqueiro carioca...

Quem quase morreu no Copa, mas de coração partido, foi Carmem Miranda, arrasada pelo fracasso de seu casamento. Carmem trancou-se em seu quarto em dezembro de 1954 e pensou seriamente em se matar, desistindo após olhar a bela paisagem da orla de Copacabana da janela de sua suíte. Carmem, aliás, seria muito mais lembrada pela alegria que exarava em seus shows no Golden Room que por este episódio, que com o tempo lhe levaria à morte em agosto de 1955.

Os anos cinqüenta foram o canto-do-cisne da fase áurea do Copacabana Palace, que entra em lenta decadência após a transferência da capital para Brasília em 1960.

Continuou como um importante hotel da cidade, servindo de pouso a visitantes ilustres do Rio de Janeiro (como os astronautas da Apolo 11), palco da vida social da cidade, onde famosos cronistas sociais iam buscar matérias para suas colunas, mas sem superar o brilho e a energia dos áureos tempos e pela disputa dos novos hotéis da obra de transformação e alargamento da orla de Copacabana recém-inaugurada, na década de setenta.


Hotel Copacabana Palace em 1924

Em 1985, quando intentaram sua demolição, foi tombado pelas três esferas: IPHAN (Federal), INEPAC (Estadual) e DGPC (Municipal). Em fins da década de oitenta a família Guinle, na figura de seu herdeiro e presidente José Eduardo Guinle, vendeu-o em 1989 ao grupo "Orient Express", que o reabilitou, modernizando velhas instalações sem descaracterizá-las. Atualmente o Hotel Copacabana Palace é um dos mais importantes estabelecimentos hoteleiros da cidade, com modernas 236 acomodações palacianas e dos mais queridos bens culturais do Rio de Janeiro, local de confluência de vários episódios importantes do século XX, sendo preciosa lembrança de uma época de fastígio e esplendor, único bem deste gênero sobrevivente na cidade.

O Copacabana Palace ocupa uma área de mais de 12 mil metros quadrados em no ponto mais nobre da Praia de Copacabana, um piano bar, com dois restaurantes: o Pérgula, situado ao lado da piscina, onde os hóspedes podem tomar café da manhã, almoçar e jantar, e o Cipriani, já cotado entre os melhores da cidade, que oferece o melhor da culinária do norte da Itália. O restaurante, que também tem um bar, está localizado no andar térreo do Prédio Anexo, de onde se pode ver a piscina do hotel. São 225 apartamentos e suítes, sendo 147 no prédio principal e as 78 suítes no anexo, todos de luxo e equipados com vidros à prova de som, ar-condicionado, banheiro com ducha, TV com controle remoto, telefones com duas linhas e discagem direta internacional, conexão para fax ou computador, mini-bar e cofre individual. De acordo com o desejo do hóspede, a cama pode ser King-size, casal ou solteiro. No Anexo, as suítes, de 70 metros quadrados, são equipadas com colchões Sealy, enxoval com acabamento de alto padrão Trussardi 300 fios, têm banheiros com cerâmica italiana, varandas privativas, roupões de banho e pantufas.

Os mais exigentes podem dispor ainda de uma das sete suítes do sexto andar, que tem uma piscina exclusiva, totalmente negra, cercada por treliças brancas, com vista privilegiada para a praia de Copacabana. Completam o luxo desse andar privativo, tecidos franceses, obras de arte e tapetes orientais (foi nessas suítes que ficaram entre outros Lenny Kravitz e os Rolling Stones.

E mais sofisticação se faz presente na infinidade de detalhes entre os quais destacamos que o Copacabana Palace possui aroma único (o "cheiro de Copacabana Palace") desenvolvido exclusivamente para suas instalações; caixas de bombons personalizadas com os nomes dos hóspedes (que, aliás, são chamados pelos nomes por todos os funcionários); marca de água mineral própria; e dispõe serviços de cabeleireiro, massagistas, fitness center, florista, butique, uma piscina semi-olímpica aberta 24 horas (com água climatizada), quadra de tênis e solarium, além de uma base avançada nas areias da praia de Copacabana.

Alguns hóspedes ilustres que assinaram no Livro de Ouro do hotel são: Santos Dumont, Noel Coward, Igor Stravinsky, Stefan Zweig, Henry Fonda, Errol Flynn, Walt Disney, Bing Crosby, Orson Welles, John Wayne, Ava Gardner, Leonard Bernstein, Einsenhower, Vincent Minelli, Gene Kelly, Roman Polanski, Alain Delon, Príncipe Charles, Henry Kissinger, Franco Zefirelli, Jacques Costeau, Richard Gere, Mick Jagger, Jerry Hall, Sting, Ben Kingsley, George Michael, Lady Diana, Winnie e Nelson Mandela, Roger Moore, Michael Schumacher, Francis Ford Coppola, Robert de Niro, Calvin Klein, Susan Sontag, Peter Greenway, Stephen Frears, Brian de Palma, Mickey Rourke, Michelangelo Antonioni, Liza Minelli, Jean Claude van Damme, Patrick Swayze, Givenchy, Oscar de la Renta, Anne Rice, Mathew Modine, Bill e Hillary Clinton, Pierce Brosnan, Claudia Schiffer, Catherine Zeta-Jones, Jean Paul Gaultier, Anthony Quin, José Saramago, Ricky Martin, Anthony Hopkins, Gisele Bundchen, Philip Starck, Valentino, Lenny Kravitz, Tom Wolfe e Carmem Miranda".

(http://www.copacabana.com/copacabana-palace.shtml)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DO IMORTAL CHICO ANYSIO: reunião de contos

(SÓ A REPRODUÇÃO DE CAPA DE COLETÂNEA DE CONTOS DO GENIAL CHICO ANYSIO:

http://todaoferta.uol.com.br/comprar/livro-feijoada-no-copachico-anisiio-RMWYFKZR9E)

 

 

 

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Hollywood vai aos Trópicos

 

Sérvulo Siqueira

 

"É tudo verdade

 

Política, samba e racismo no filme brasileiro de Orson Welles

 

 

 

Um pedaço da nossa historia recente - a cidade do Rio de Janeiro e seu carnaval no ano de 1942 - está hoje depositado nos arquivos da Paramount Pictures, em Hollywood. É composto de imagens captadas sob a direção de Orson Welles durante sua movimentada permanência no Brasil nos meses de fevereiro a julho de 42, que antecederam à entrada do nosso país na II Guerra Mundial. Sob os auspícios do Comitê de Assuntos Inter-Americanos e da RKO-Radio Pictures, Welles filmou partes do documentário pan-americano It's All True (É Tudo Verdade), cujo propósito seria "estimular a defesa nacional e o esforço de guerra dos EUA e o estreitamento dos laços com as outras repúblicas americanas". O mais sofisticado aparato de filmagem de estúdio da época - as então novíssimas câmeras Technicolor, as gigantescas Mitchell em preto e branco e as pequenas e flexíveis Eyemo - aqui chegaram juntamente com uma equipe técnica de mais de 40 pessoas. Dos mais de 325.000 pés de material sensível - quase 60 horas - rodados em Technicolor, preto e branco (35 mm) e em 16 mm colorido, ainda podem ter vistos pouco mais de 5.500 pés de copiões,  que constituem uma única hora de fragmentos compondo um verdadeiro "botão de rosa" tropical deixado sem desabrochar pelo cineasta. Através destas imagens é possível recuperar o que teria sido o primeiro filme colorido do autor de Cidadão Kane em seu salto do cinema de estúdio para a gigantesca locação do Carnaval: um cenário de 3 milhões de pessoas no Rio de 1942. 

 

Nos primeiros anos da década de 40, a Radio-Keith-Orpheum Corp. - empresa que controlava a RKO - vivia um conflito interno entre os seus principais acionistas: Floyd Odlum, da Atlas Corporation; David Samoff da RCA e Nelson Rockfeller. Desde a década de 30, já com a participação de Rockfeller e Samoff, a empresa passa a investir mais nos grandes projetos, sem deixar de ser uma companhia produtora de filmes de baixo custo. O sucesso de Cidadão Kane - considerado o mais extraordinário e influente filme de toda a era de estúdio de Hollywood - aproximou Rockfeller de Orson Welles. Ambos eram rooseveltianos e faziam campanha contra o magnata William Randolph Hearst (o verdadeiro Cidadão Kane), por suas simpatias hitleristas. No primeiro semestre de 1941, surgiu a idéia de um documentário pan-americano, oportunamente sugerida pelo Comitê de Assuntos Inter-Americanos - dirigido por Rockfeller - à RKO, junto com a proposta para produzir o filme.

Os métodos de trabalho de Welles (seu hábito de inflacionar os orçamentos, filmar além dos prazos de produção etc.) assustavam os executivos da companhia. Por sua vez, Welles já estava envolvido na finalização de Magnificent Ambersons (Soberba) e Journey into Fear, porque seu contrato com a RKO o obrigava a dirigir todos os projetos da Mercury. George Schaefer, o presidente da corporação, apoiava o cineasta, visto que Cidadão Kane havia trazido prestigio para a produtora. Ao mesmo tempo, também temia a má fama de Orson e procurou obter dele o compromisso de que não faria filmes com orçamento acima de 500.000 dólares.

Embora planejasse a filmagem de Heart of Darkness, o romance de Joseph Conrad que mais tarde foi adaptado por Coppola em Apocalypse Now, o convite para fazer um documentário sobre as Américas foi aceito com entusiasmo por Welles, um freqüente porta-voz do New Deal em artigos e conferências. O projeto era grande e atingia o custo de produção de uma feature story, com grandes estrelas, luxuosos cenários etc. Richard Wilson, homem de confiança de Welles na equipe, diz que a RKO havia concebido o filme como "um bonito "travelogue", com tudo o que fosse mostrado sendo retocado e apresentado da melhor maneira possível".

Welles, no entanto, parecia seguir outros caminhos. Trilhando uma via antropológica, ele começou por incorporar ao empreendimento as propriedades literárias de The Captain's Chair (A Cadeira do Capitão) e Story of Bonito the Bull (Historia de Bonito, o Touro), de Robert Flaherty, o grande documentarista de O Homem de Aran e Nanook, o Esquimó. A Cadeira do Capitão é provavelmente o resultado de uma reminiscência de Flaherty inspirada por suas andanças nas regiões sub-árticas do planeta. Conta a história de um velho capitão da baía de Hudson que enlouquece em sua última viagem de trabalho. The Captain's Chair nunca foi filmado. Mas a História de Bonito, o Touro, extraída de uma velha fábula mexicana que conta o amor de um menino por um touro de corridas, foi parcialmente dirigida por Norman Foster - como parte do filme, inicialmente projetado para 4 episódios - e algum material positivo ainda pode ser visto nos arquivos da Paramount, nos EUA. 

 

0 titulo Ê Tudo Verdade despontou naturalmente como a convincente prova-dos-nove da veracidade das imagens e dos sons multiamericanos que seriam mostrados no documentário. "Um filme sobre o povo das Américas para todas as pessoas das Américas", dizia Welles na abertura da adaptação de outro dos planejados segmentos, a autobiografia de Louis Armstrong Swing that Music. Em setembro de 1941, alguns habituais colaboradores da Mercury haviam sido agregados à pré-produção e trouxeram sketches de rádio, como Elliot Paul e seus Canções Folclóricas de Ibiza e Boogie Woogie em Boston. Mas a contribuição mais notável veio de John Fante, um importante escritor americano da geração beat, que se serviu de fato ocorrido com seus pais para contar Love Story. Melancólica e comovente farsa sobre um amor nutrido na fantasia, a História de Amor de Fante capta a ternura entre os miseráveis e os desamparados de toda a sorte, num estilo mais próximo de uma ária de Caruso do que do desejado bolero de Pedro Vargas.

Os programas de rádio de Elliot Paul, satirizando o convencionalismo dos brancos poe meio da espontaneidade dos negros, deram uma característica pouco oficial ao espirito de It's All True. Entretanto, é através de Swing that Music (Balance esta Música) que a música, como elemento central, vai aparecer no projeto. O jazz, o samba, a rumba, o calipso e outros ritmos americanos são as vértebras estendidas ao longo de uma mesma espinha dorsal: a música negra do continente. A infância pobre de Satchmo e sua associação com a banda de King Oliver em night-clubs de Nova Orleans, forneceu a Welles o paralelo com o Carnaval, a expressão maior da identidade do samba.

Nem os roteiros de Paul e Fante nem a autobiografia de Armstrong seriam filmados, mas, então, o argumento de uma profunda afinidade americana já havia sido estabelecido: ele seria o concentrador ponto de equilíbrio para um grande show de muitas culturas, ligando as correntes musicais mais efervescentes de Norte a Sul do continente.

Após o ataque à base de Pearl Harbour, a 7 de dezembro de 1941, os norte-americanos já lutavam contra o Eixo na Europa e no Pacifico. 0 esforço de guerra mobilizava o país, afetando a população e o consumo da sociedade. Para uma companhia como a RKO, a produção de lt's All True só foi possível porque o Governo americano iria arcar com parte dos custos, o que não impediu a constante carência de película virgem, a impossibilidade de reposição de peças quebradas e a total ausência de equipamento de Iluminação adequado que se abateram sobre o filme até o seu abortado final. No Comitê de Assuntos Inter-Americanos, órgão do Departamento de Estado, as despesas — acertadas em 300.000 dólares, porém jamais recebidas pela RKO — foram contabilizadas como parte de um esforço de atração de aliados, dentro da política da "boa vontade" de Franklin Roosevelt.

Controlando o incontrolável

 

O episódio brasileiro Carnaval marcou o fim da associação de Welles com a RKO, o que lhe abreviou os passos dentro da indústria de cinema dos Estados Unidos. No final de julho de 1942, um memorando do vice-presidente de produção William Koerner determinava que a companhia concluísse todas as operações com a Mercury Productions, e que essa desocupasse o estúdio no prazo de 72 horas. Com a renúncia de George Schaefer um mês antes, Orson Welles já havia perdido seu protetor na companhia contra os alarmantes relatórios que Lynn Shores, o gerente de produção posto pela RKO no seu encalço, mandava do Rio de Janeiro. Em seu "relato de operações" das filmagens ele informava:

"Terça-feira, 5 de maio — Welles ensaiou com bailarinas para o Cassino da Urca até as 8 hs. da noite, enquanto 150 pessoas pretas esperavam em torno. Quarta - feira, 6 de maio — Filmagem terminou às 12:45 hs. 55 extras pretos usados." 

 

Esses informes provocaram um memorando do comitê de Rockfeller recomendando à companhia que evitasse "qualquer referência à miscigenação" e sugerindo que se deveria "omitir seqüências do filme nas quais mulatos ou mestiços apareçam de forma conspícua". Em 29 de abril de 1942, George Schaefer — ainda como presidente da corporação — havia decidido assumir pessoalmente a produção e nomear Phil Reisman, gerente internacional, seu interventor. Numa longa carta, Schaefer lembrava o contrato assinado por Welles estabelecendo um custo máximo de 500.000 dólares por filme — quantia de há muito ultrapassada por It's All True — e os tumultuosos tempos de Citizen Kane, cujo sucesso de critica não havia convencido os acionistas da empresa. E apontava a notória incapacidade de Welles em se ajustar aos orçamentos e prazos da indústria americana:

"Seu filme representou uma oportunidade de mostrar à industria que, sem um equipamento adequado e com os problemas mais difíceis, você concluiria o projeto. E já que agora você está medindo tudo pelos padrões de Hollywood, no momento em que escrevo nós não tivemos ainda um orçamento nem um roteiro, apesar do fato de que você empregou um bom número de escritores e eles estão na nossa lista de pagamentos toda semana."

Phil Reisman chegou ao Rio com poderes para interromper a produção imediatamente. E o fato de que não o fez prova a inconsistência dos relatórios mesquinhos e preconceituosos de Lynn Shores, um obscuro diretor artístico de comédias e musicais "classe B" da RKO nos anos 29 e 30. Em carta ao Departamento de Imprensa e Propaganda, Shores refere-se às filmagens nas favelas cariocas da Saúde, Cantagalo, Humaitá e Praia do Pinto e pede a ajuda do DIP para controlar "a tendência do Sr. Welles para utilizar as nossas câmeras em assuntos que eu sinto não estão de acordo com os desejos do.Governo Brasileiro e, estou certo, nem em harmonia com os sentimentos dos nossos executivos em Hollywood".

Um indicio do desaparecimento de parte do material rodado no Brasil pode ser encontrado 5 parágrafos depois. Shores propõe encontrar-se com o Sr. Alfredo Pessoa, diretor do Departamento, e anuncia:

"Estou segurando o negativo deste filme e não o mandarei revelar até talvez ter uma conversa com o senhor sobre este assunto, para estar certo de que não estou alarmado sem razão sobre suas possíveis conseqüências."

Em seu relatório de operações da 12a. semana de filmagens, Lynn Shores confirma uma das hipóteses para a perda de algumas latas: ''O Governo está com este negativo em seu poder".

Os caçadores das latas perdidas

 

Fragmentos de um botão de rosa ("Rosebud") brasileiro? O que aconteceu com o documentário dos jangadeiros, o episódio Four Men on a Raft (Quatro Homens numa Jangada), representando 70.000 pés, quase um terço de todo o material filmado? Talvez a mais fina pérola de todo o empreendimento, Four Men on a Raft registrou a vida de uma aldeia de pescadores no Brasil, a cerimônia de casamento entre seus habitantes, o afogamento do marido, o funeral do pescador e a histórica viagem de 4 homens numa jangada, desde o Ceará até o Rio de Janeiro, com o objetivo de pedir ajuda para o seu povo. A cena do afogamento reconstituía a morte de Jacaré, o líder dos jangadeiros morto em 18 de maio de 1942, quando se preparava para filmar na Barra da Tijuca. Na época, jornais brasileiros e americanos, como o The New York Times, noticiaram que Jacaré teria sido lançado de sua jangada durante uma luta entre um polvo e um tubarão, e apanhado no vértice pelos dois animais.

Das cerca de 127 tomadas existentes em Hollywood, restam apenas 4 mostrando a saga dos jangadeiros e estas são as de mais impressionante beleza. Num levantamento mandado realizar pela RKO sobre o negativo estocado em Salt Lake City, Estado de Utah. o funcionário encarregado concluiu que "o material como um todo é extremamente monótono e chato, e eu não vejo muita possibilidade de salvação".

Como explicar, então, o desaparecimento de 200.000 pés, 38 horas do carnaval de 1942, filmado no maior set já concebido por Hollywood - a cidade do Rio de Janeiro - num ano de grandes festividades, com a Praça Onze - recém-desaparecida - sendo reconstituída nos estúdios da Cinédia, a esplêndida participação de Grande Othelo (que Welles chegou a considerar "o maior ator do mundo"), e o mais fulgurante plano da Cidade Maravilhosa ao anoitecer, com a lua cheia formando um simétrico circulo em torno da estátua do Cristo Redentor?

Em 1958, após a queda da RKO, a bibliotecária Hazel Marshall, da Paramount Pictures, ao catalogar o acervo deixado, verificou que a companhia não poderia exibir uma parte do filme em razão da falta de um contrato firmado com os atores e da não-definição dos direitos autorais de sua vasta trilha musical. A empresa achou muito caro manter o negativo, em nitrato, em condições ideais de conservação e muitos trechos foram cortados e jogados fora. Numa série de seminários realizados nos anos 70 pelo American Film Institute sobre a vida e a obra de Orson Welles, It's All True foi integrado à seção relativa aos filmes perdidos do autor. Há alguns anos atrás, uma emissão da televisão BBC de Londres apresentou, pela primeira e única vez até hoje, uma exibição deste material em público.

Os aproximadamente 5.500 pés de filme que se encontram no arquivo da Paramount estão agrupados em 17 latas, correspondendo a diferentes seqüências de metragens variadas. Eles documentam um Rio de Janeiro de 42 anos atrás, com bondes na Praça Tiradentes; desfiles das grandes sociedades; carnaval de rua; prédios em estilo art nouveau" e art déco e exemplos da mais moderna arquitetura da época magnificamente filmados em tomadas laterais: blocos pulando carnaval na praia de Copacabana, na rua do Ouvidor e no Quintino; a Praça Mauá; o Teatro Municipal; a antiga Cinelândia; terreiros de escolas de samba; cenas exteriores de Grande Othelo cantando músicas do carnaval de 42 (Praça Onze e Batuque no Morro); e cenas interiores de Othelo numa sensacional seqüência de uma briga, encenada nos estúdios da Cinédia. Alguns dos planos de favelas também estão lá e, segundo indicações de Welles. eles seriam montados ao som da musica Ave Maria no Morro, de Herivelto Martins. Entre algumas tomadas aéreas do Cristo Redentor, destaca-se o perfeito enquadramento da lua incidindo sobre a cabeça da estátua. Há também uma minuciosa série de "vistas" das características topográficas e urbanas da cidade, com seus principais monumentos arquitetônicos. 

 

O planejado "E Tudo Verdade" nunca chegou a ser um produto comercial viável aos olhos dos executivos de cinema de Nova York e Hollywood. Inúmeras tentativas de Welles terminaram invariavelmente em fracasso. Em artigo publicado no suplemento literário do The New York Times de 30 de agosto de 1970 e intitulado "É tudo verdade o que eles dizem sobre Orson?", Peter Bogdanovich contava que Welles já havia escrito três ou quatro diferentes roteiros em torno das cenas que tinha filmado. Ultimamente, o cineasta contemplava a possibilidade de transformar o que considera um de seus projetos favoritos num show de TV.

O roteiro Carnaval, escrito em colaboração com Robert Meltzer, um entre os muitos documentos de lt's All True depositados no arquivo da RKO, em Los Angeles, esboça esta visão do modo brasileiro de ser;

"Exterior. Cobertura de um arranha-céu. Dia. Um jardim no topo de um arranha-céu, no meio da cidade. Em volta, há mais arranha-céus; alguns acabados, outros em construção. Ao fundo, estão os suntuosamente belos morros do Rio. Vindo das ruas, lá embaixo, emerge o gigantesco rugido do Carnaval, pulsando como uma usina de força."

Trechos de um diálogo entre Welles e uma funcionária do Governo:

"Dona Maria — Esta cidade vai ser grandemente modernizada mas, é claro, muitas pessoas ainda sentirão saudades da Praça Onze. Welles — Saudades. Senhoras e senhores, eu não sou intérprete, mas agora ofereço a vocês uma expressão portuguesa que a língua inglesa deveria adotar, porque nós não temos o seu equivalente. Ela quer dizer dor do coração, alguma coisa como memória sentimental, ensimesmamento, uma prolongada rememoração de algo que passou ou de alguém que se foi. Não pode ser realmente traduzida, e é por isso que eu chamo a atenção para ela. E uma palavra que nós não temos para alguma coisa que nós todos sentimos: saudades."

 

SÉRVULO SIQUEIRA é jornalista e cineasta

 

 

Matéria publicada no caderno FOLHETIM, da Folha de S. Paulo, em 2 de dezembro de 1984".

 

 

Jazz, rumba, samba e calipso

 

Saudades do "Brazil" 

 

Hollywood sem filtro