O caminho do morro
Em: 07/06/2023, às 11H36
Guiava à casa do morro, em voltas, o caminho,
até lhe ir esbarrar com as orlas do terreiro;
dava-lhe o doce ingá, rachado ao sol, o cheiro,
e um rumor de maré o cafezal vizinho.
Quanta vez o subi, buscando a um guaxe o ninho,
ou, saltando, o desci com o regato ligeiro,
para voar num balanço, embaixo, o dia inteiro,
e ver girar, zonzando, as asas de um moinho!
De setembro até março, uma colcha de flores
tapetava-o. Reluz-lhe em poças de água o céu;
das folhas sobre o saibro os orvalhos escorrem.
Mas morreram na casa, em cima, os moradores,
morreu, caindo, a casa, o moinho morreu,
o caminho morreu... Até os caminhos morrem!
(Alberto de Oliveira)