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O ‘calote’ americano

EDITORIAL DO JORNAL EM TEMPO

Se o Congresso dos EUA não autorizar, hoje, a Casa Branca a se endividar além dos US$ 14,3 trilhões que já contraiu em empréstimos – quase o PIB do país –, contas deixarão de ser pagas.

Isto seria “terrível para o mundo”, definiu a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, as consequências de um calote americano.

É claro que a situação de hoje está ligada, também, à crise de 2008, quando um bando de vigaristas arrasou com a poupança do povo americano, com reflexos que ainda hoje são sentidos em todo o planeta.

Para a diretora-gerente do FMI “é óbvio que as consequências não vão parar na fronteira”, como aconteceu no pós-2008. O governo Barack Obama negocia o escalonamento do aumento da dívida.

Na primeira etapa, agora, o limite seria esticado até o início do ano, mediante cortes de gastos de US$ 1,2 trilhão. Depois, haveria nova votação para outra extensão de um ano, e novos cortes de US$ 1,8 trilhão. Na cola do presidente, os republicanos afirmam que os cortes previstos são insuficientes para equilibrar o Orçamento – estima-se que os EUA precisam cortar US$ 4 trilhões em dez anos.

Os EUA não conseguiram surfar na euforia da “marola” que bateu na praia do segundo mandato do presidente Lula. O otimismo lulista sequer permitiu que se refletisse sobre a “inundação” de uma classe média artifical de mais 35 milhões de consumidores.

Um otimismo que precisa ser revisto, como alertou ontem à presidente Dilma Rousseff, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, convidado por ela para ajudar a melhorar a gestão do Executivo. Ele mostrou preocupação com os rumos da política econômica do governo.

Em uma crítica à política cambial, ele afirmou que a desindustrialização “já está acontecendo” no Brasil, e defendeu o fim dos impostos cumulativos. A busca de capital estrangeiro – com juros altos – “precisa ter limites”.

”As políticas financeiras e econômicas vão ter que obedecer uma discussão de vontade política de que país nós queremos”, disse ele à presidente, atento a uma eventual “marola” que atravesse a fronteira americana em direção à América Latina.