O Brasil e o Mundo: um páreo duro
Por Cunha e Silva Filho Em: 06/05/2014, às 10H23
Cunha e Silva Filho
1) O MUNDO
Fiquei perplexo com o que li na seção internacional da Folha de São Paulo de domingo passado. O conteúdo das notícias que li me deixaram decepcionado. A esperança que tínhamos, nós ocidentais, da “Primavera Árabe” se esfumou. As manifestações, os gritos de clamor dos povos, as vidas perdidas nos embates contra as forças policiais dos governos truculentos das nações onde a esperança parecia que ia ser concretizada pela troca de governos autoritários por governos democráticos, os desejos justos contra a opressão e a barbárie praticamente não resultaram em muita coisa.
Basta mencionar os exemplos da Argélia, Tunísia, Líbia, Egito, a Síria, Arábia Saudita, Iraque e Iêmen. Os que realizaram eleições (?) colocaram no poder ditadores. Assim, os exemplos da Argélia, do Egito, este último hoje governado por um presidente interino; a Síria, que vai realizar eleições(?) em 3 de junho próximo já conta como vitorioso o genocida e ditador Bashar al-Assad; a Arábia Saudita, uma monarquia, conduz o povo com mão de ferro; o Iraque, desde a invasão dos EUA em 2003, enfrentou um “ciclo” de violências, onde xiitas e sunitas não se entendem, realizou eleições. Resta saber se legítimas ou fraudadas,. Só Deus sabe...
Hoje, ditadores, autocratas falam que,em seus governos, há democracia, o que nos permite deduzir que “democracia” no sentido mais lídimo do termo, passa a ter uma metamorfose semântica e, o que é mais grave, de teor pejorativo ou hilariante.Vai ver que Fidel Castro, Maduro e outros assemelhados se definem como democratas. Como pode haver democracia onde há censura cerrada ou velada?
Tenho observado, em entrevistas de cientistas políticos ou de pessoas familiarizadas com a questões de política internacional, que há um certa concordância de entendimento do que está acontecendo com os governos de algumas nações do Oriente, do Leste Europeu, da América do Sul e de alguns países africanos no sentido de que está se revelandoou ou se constatando um estranho comportamento político de cunho autoritário respaldado pelas suas populações. O povo, assim, aceita o governo discricionário, elege os candidatos a presidentes com esse perfil de ditador, naturalmente pensando – e erradamente, é claro – que uma nação precisa de ser administrada por esse tipo de governante.
Esse comportamento dos povos é preocupante, porquanto dessa espécie de acordo silencioso entre o governo e os seus cidadãos arrisca-se uma nação em cair na armadilha do totalitarismo.
De acordo com uma análise de Roula Khalaf, do Financial Times, publicada na mencionada edição de domingo da Folha de São Paulo, o conhecido líder militar, Abdel Fattah al-Sisi, tem certa a sua eleição e, conforme disse o analista, .”.. com aprovação popular esmagadora.” E mais, até um canal de TV patrocinado pelos sauditas, retirou do ar Bassem Youssef, um conhecido comediante do Egito. Isso para impedi-lo de evitar influenciar a orientação dos eleitores e a opinião pública.” Essa “comédia de uma noite de verão” é o retrato mais deprimente da contrafação política orquestrada para dar vitória a um candidato. O analista, num trecho do artigo, chega a citar essa opinião , segundo ele, de “muitos egípcios” “É de um líder forte que o país precisa.”
O que está, na verdade, acontecendo com os povos do mundo? Estão enlouquecendo e pondo, assim, a própria cabeça à decapitação? Para onde estão lançando os mais autênticos postulados da democracia da Grécia antiga?
2) O BRASIL
Agora, leitor, penetremos no país do carnaval, sede da bem próxima Copa Mundial de Futebol, delícias dos fanáticos matadores de outros fanáticos numa simbiose que, entra ano, sai ano, aumenta a estatística dos crimes relacionados a um esporte outrora bem mais humano, bem menos milionário, máquina atual de fazer uns poucos jogadores craques de primeira grandeza e, depois, transformados em businessmen do império dos cartolas.
A pior notícia que ouvi esta noite foi a de uma energúmeno, uma capeta em forma de humano, que havia arrancado uma vaso sanitário de um dos banheiros femininos e, do alto de um estádio de futebol, o arremessara em direção a um jovem, possivelmente torcedor de time rival, que estava passando lá embaixo na calçada. O objeto atingiu o jovem em cheio e o matara instantaneamente.
Em pouco tempo, o governo da Dilma, agora na condição de pré-candidata à reeleição, gastou rios de dinheiro construindo estádios de futebol pelo país afora, não se importando com o estado escangalhado dos hospitais públicos,do transporte em petição de miséria, da educação pública em frangalhos, deixando um povo sofrido e ao deus-dará, sobretudo em São Paulo, a cidade mais importante do país, angustiada ainda mais com a escassez de água para a população paulistana e a escalada de violência jamais vista na história do país, violência que se alastra por toda a nação, com pivetes matando inocentes de todas as idades e, o que é pior, sem serem punidos, sem terem a maioridade penal reduzida.
A falta de controle dos órgãos de segurança já está levando a um outro grave problema criminal:os linchamentos, a lei feita por populares, muitas vezes, até matando inocentes como foi o exemplo de uma jovem senhora em São Paulo, se não me engano, sacrificada por mãos de populares ensandecidos tal como já aconteceu nos tempos da faroeste americano, sob a alegação de que ela seria uma mulher que sequestrava crianças para serem sacrifícios ritualísticos. A mulher em questão era inocente e havia sido confundida com a verdadeira criminosa cujo paradeiro ainda se desconhece.O erro foi duplo, alguém postou na internet um retrato falado de uma mulher provavelmente com alguma semelhança com a inocente que deixou a família arrasada para sempre.
Com tantos gritantes problemas a serem minimizados, o país ainda assiste ao escândalo da compra bilionária de uma refinaria em Pasadena, EUA, num imbróglio detetivesco que atinge os alicerces da política petista. E os jornais já andam falando em outra compra cheirando a fraude envolvendo, se não incorro em erro, homens da Petrobrás e o governo.Essas transações, que não deram nenhuma vantagem aos brasileiros, mas só prejuízos ao Erário Público, ainda não foram bem justificadas pelo governo em Brasília.
E, diante de todos esses “malfeitos”, vocábulo do campo semântico petista, assim como o tratamento cerimonioso ‘presidenta” saído das bocas dos aduladores e áulicos palacianos, como vai a pré-candidata, amiga do “Esse é o cara,” se justificar diante da opinião brasileira e nos debates das campanhas na corrida presidencial pela televisão e comícios nos quatro cantos da pátria amada?
Estou quase acreditando que o Brasil está se enfileirando no mesmo time dos “gloriosos” candidatos-ditadores que estão substituindo a “Primavera Árabe” por novos algozes com pretensões de czares da velha Rússia de Dostoiévski. E me pergunto mais uma vez: quem será, no país, que deverá ser calado para não cair na mesma situação do comediante egípcio? Fica no ar a pergunta.