[Antônio F. Sousa]

      Para começo de papo, uma falsa digressão: brasileiros, enquanto cidadãos-contribuintes-eleitores, além de não sermos espécie das mais inteligentes, também não somos das mais honestas e espertas; ungidos da condição de representantes políticos do povo, a maioria dos nossos homens públicos continua pouco inteligente e honesta, mas altamente esperta.

            E por que uns e outros são assim? O eleitor, infelizmente, só se preocupa com o que pode conseguir para si mesmo e os seus, do político em que vota, sendo a competência e honestidade desse, não raro, desinteressante para ele. O político, a princípio, chega até a pensar no eleitor, se pretensões tem de longa vida política ou parlamentar; na maioria das vezes, depois, serve-se de sua esperteza (lábia ou retórica) para iludir ou usar a seu favor o eleitor.

Lá da minha mesinha, enquanto saboreava o espresso, ouvia sua conversa com amigos, todos, de certa forma, beneficiados ou beneficiários de favores concedidos por detentores de mandato parlamentar ou executivo. Sem muito esforço e, um tanto desinteressadamente, pude observar que a mais falante figura do grupo, a quem já conhecia de longa data, tentava encontrar uma forma de bajular um deles, em relação ao qual era ele, o tagarela, devedor de benefícios – soube depois que o dito cujo homenageado havia-lhe dado com os pés no traseiro por conta de sua incontrolável indiscrição.

            Percebi, ainda mediante observação daquela informal assembleia, com muita nitidez, como determinadas pessoas pensam que podem engabelar outras a partir das mesmas sugestões ou opiniões com as quais aqueles a quem, ora bajulam ou açulam, um dia lhes enganaram ou iludiram. Entendo que, muitas vezes, o que falta a esse tipo de ator amador, canastrão, tolo e medíocre, é traquejo ou verdadeiro poder de convencimento; rudes, broncos ou desastrados como se mostram no cotidiano e na prática do dia a dia, não transmitem a segurança devida, pois não possuem bagagem educacional ou cultural necessária a quem quer ou precisa fazer com que alguém mude de opinião ou de atitude.

            A propósito, ao mesmo tempo, o indivíduo era boquirroto, piegas e insistente. O falastrão, em dado momento, em alto e bom som, talvez para que o assunto extrapolasse o espaço por eles ocupado, dando chance a que alguém pudesse interagir com os presentes, metia-se a conceituar o que ou quem considerava bom político: obviamente, o que ele conhecia e admirava, por algum motivo, que não seria leviano chamar subserviência. E por que seu “chapa” era bom político, na verdade, mais que isso: ótimo; por que não dizer, o melhor dentre todos? Como não ser assim alguém que por tantos anos, em sucessivas, reiteradas e inexplicáveis ocasiões, à luz da boa lógica, ocupara a função de chefe da casa parlamentar à qual pertencia e, durante esse interregno, jamais atrasara, em sequer um dia, o salário dos servidores; além de, por duas ou três vezes, nesse mesmo ínterim, haver concedido consideráveis reajustes salariais aos mesmos?

            Daí a certeza de que, não raro, certos conceitos representam o gosto ou desejo de quem os emite. Como bom político alguém que, em vez de atrasar ou não pagar o salário daqueles que jamais prestam um dia de serviço público; de retirar os faltosos e os ausentes das folhas de pagamento, ao invés de reavaliar a necessidade efetiva de pessoal, cortando excessos, prefere remunerar e beneficiar a quem não merece?  Claro que ele faz isso porque os recursos que garantem tais dispêndios não saem de seus bolsos nem de suas contas correntes - e, nem sempre, entram nos bolsos ou contas dos supostos beneficiados - mas dos de todos os cidadãos-contribuintes. Não somente pagar a subempregados ou desnecessários servidores, mas contratar diversos outros, oriundos de nichos de apadrinhados ou apaniguados, como forma de saldar favores a comparsas e cupinchas que o ajudam a manter-se, o tempo que quiser, na direção de sua repartição.

            Para a figura a respeito de quem até agora estive falando, talvez não, mas, quanto a mim, vejo como bom político o representante do povo que, também no que tange à contratação de pessoal, age como mandam as regras da boa administração, optando pela meritocracia em vez de apadrinhamento; notadamente, porque os recursos não são seus, mas públicos, do conjunto de cidadãos-contribuintes-eleitores; logo, não devem servir para bancar ações de mecenas demagogo e hipócrita. Bom político é quem trata a coisa pública, ou seja, aquilo que, de fato, não lhe pertence, exclusivamente, mas a todos, indistintamente, baseando-se em princípios e pressupostos éticos e morais. Quem quiser que pense, diferentemente.

            Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected])