O auge e a decadência do ciclo econômico da borracha
Por Lucilene Gomes Lima Em: 12/01/2014, às 18H23
Lucilene Gomes Lima
O auge e a decadência do ciclo econômico da borracha
Em 1901, a produção de borracha na Amazônia atingia 29.971 toneladas, quase o dobro do número atingido em 1891, que fora de 17.790 toneladas. A partir daí, ocorreu uma produção crescente até 1911, quando se registrou o ponto mais alto – 44.296 toneladas.[1] A quantidade de borracha produzida não oculta os sinais de queda nos preços ocorrida de forma mais intensa principalmente de 1913 em diante, mas é indicadora de que o mercado amazônico era, até então, o maior mercado produtor de borracha natural fina.
A fase áurea do ciclo foi caracterizada pela presença do capital internacional, notadamente inglês, nas capitais amazônicas. A comprovação de que os ingleses faziam a linha de frente na comercialização da borracha ostentava-se na instalação de uma agência do London Bank of South America em Manaus.
Alguns acontecimentos ocorridos a partir de 1850, como a criação da Província do Amazonas (1850), a introdução da navegação a vapor (1852) e o decreto imperial que abriu a navegação do rio Amazonas ao comércio estrangeiro (1871) já prenunciavam os anos de riqueza promovidos pela exploração da borracha. Segundo Daou, “[...] entre 1898 e 1900, a borracha foi responsável por 25,7% dos valores das exportações brasileiras, sendo superada apenas pelo café (52,7%) ”
O ciclo ocasionou um processo de transformação urbana durante a segunda metade do século XIX nas capitais dos estados do Pará e do Amazonas. Esse processo configurou-se a partir do modelo de modernidade européia. No tocante à capital paraense, Sarges comenta:
Guardadas as devidas diferenças em relação às cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, a cidade de Belém do Pará, apresentaria, assim, a partir da segunda metade do século XIX, tentativas de adaptação aos modernos costumes europeus, num profundo contraste com a realidade amazônica, além das tensões sociais geradas por uma nova ordem social capitalista emergente.
Sarges pondera que a iniciativa de modernização ocorrida na cidade de Belém decorria de uma exigência dos grupos que enriqueciam em função do comércio da borracha representados por seringalistas, comerciantes e financistas.[4] As obras realizadas durante o período dos grandes lucros com a borracha: imponentes edifícios,[5] transformação da parte subterrânea da cidade através da construção de redes de esgotos, de distribuição de água e gás representavam a “expressão de poder” das classes em ascensão. O capital que proporcionava altos rendimentos ao erário público e que patrocinava as mudanças estruturais na cidade, incluindo uma luxuosa e dispendiosa rede de entretenimento em que se contavam numerosas casas como o Café Chic, Café da Paz, Molin Rouge, Chat Noir, Café Madri e Café Riche e as companhias artísticas vindas da França, Rio de Janeiro, São Paulo, que proporcionavam grande número de espetáculos no Teatro da Paz para a sociedade paraense, vinha da “formação de um excedente econômico na região, resultante da extorsão do seringueiro, dos lucros obtidos pelos ‘aviadores’ e seringalistas [...]” e da “inversão de capitais (giro e fixo) por pessoas não residentes na região [...].”[6]
[1] Os números estão divulgados em Arhtur C. F. REIS, O seringal e o seringueiro, p. 111.
[2] Ana Maria DAOU, A belle époque amazônica, p. 23.
[3] Maria de Nazaré SARGES, Belém: riquezas produzindo a belle-époque (1870-1912), p. 21.
[4] Maria de Nazaré SARGES, Belém: riquezas produzindo a belle-époque (1870-1912), p. 21.
[5] Entre essas obras, estão o Teatro da Paz, o Mercado Municipal do Ver-o Peso, o Palacete Bolonha, o Palacete Pinho.
[6] Maria de Nazaré SARGES, Belém: riquezas produzindo a belle-époque (1870-1912), p. 83.