O assunto é concordância
Por M. T. Piacentini Em: 03/05/2006, às 21H00
Concordâncias especiais
Salustiano, leitor carioca, quer saber se não cabe também o verbo no plural nas frases abaixo:
“Há uma concordância especial para o verbo SER quando o sujeito indica preço, peso, porção, quantidade, medida. Neste caso o verbo passa a concordar com as expressões muito, pouco, o suficiente, o mínimo, demais etc., permanecendo então na terceira pessoa do singular:
- Sete anos de noivado foi muito.
- Dez metros de fita é pouquíssimo.
- Cem reais é o suficiente.
- Seis é o mínimo desejável.
- Um é pouco, dois é bom, três é demais.”
Mas existe, sim, uma concordância no plural quando o substantivo, núcleo do sujeito, está determinado por um artigo. Veja a diferença:
- Os sete anos de noivado de Abel e Marta foram demais, foram um absurdo.
- Os dez metros de fita que comprei foram insuficientes.
- Os cem reais que me deste foram suficientes.
- Os seis elementos são desejáveis.
“O que me levou a este contato foi uma dúvida que surgiu após ser impressa a última edição do jornal A Gazeta. A manchete principal saiu assim: Quem poderão ser os candidatos locais nas eleições de 2002? Gostaria de saber se está correto este título e por quê.” Fernando.
A manchete está correta, embora chegue a soar estranha, pois não é muito comum a utilização do verbo ser com um verbo auxiliar, numa locução verbal, junto do pronome interrogativo quem. Normalmente este pronome leva o verbo para o singular:
- Quem sabe quem foi o autor da manchete?
- Quem fez isso? Quem será?
Mas, em orações com o verbo ser, “quem” pode servir de predicativo a um sujeito no plural. Isso quer dizer que o verbo “ser” vai fazer a concordância com o sujeito que estiver no plural:
- Quem são eles? Quem somos nós?
- Quem serão os candidatos?
- Quem foram os malucos que atacaram o presidente?
- "Sabem, acaso, os vultos, quem vão sendo?" (Cecília Meireles)
Concordância no feminino
“Queira esclarecer: a gerente/a auxiliar administrativo ou a gerente/a auxiliar administrativa.” Luiz Gonzaga Soares, Rio de Janeiro/RJ
Trata-se agora da flexão do adjetivo que acompanha os substantivos comuns de dois gêneros. “Administrativo” é um adjetivo, variável em gênero e número. Conseqüentemente, deve concordar com o substantivo feminino que se refere a uma mulher: a gerente administrativa, a auxiliar administrativa. Dizer *a gerente administrativo seria tão anômalo quanto *a juíza adjunto ou *a diretora-secretário. Outros bons exemplos de cargos femininos:
- a secretária executiva
- a secretária adjunta
- a presidente adjunta
- a chefe auxiliar
- a assessora especial
- a consultora geral
- a juíza substituta
- a gerente financeira
- a auxiliar técnica
- a técnica administrativa
- a diretora-secretária
- a diretora-presidente
- a ministra-chefe.
*Maria Tereza de Queiroz Piacentini, autora dos livros “Só Vírgula” e “Só Palavras Compostas”, é diretora do Instituto Euclides da Cunha