Há nove anos, Elas também são responsáveis abria-me uma janela para a crônica neste portal eletrônico. Naquela época, em Teresina, um estranho monólogo, diuturnamente, era verbalizado pela população e ouvido pelos administradores municipais, em relação aos camelôs que tomavam conta das praças e logradouros centrais da cidade. Felizmente, o solilóquio se transformou em diálogo; deixaram de ser amplificadores de ecos vazios os que desejavam ver as zonas ocupadas por vendedores informais, ambulantes, bufarinheiros, devolvidas aos munícipes, aos turistas que nos visitavam, ao povo, quando os governantes, enfim, ouvindo-lhes o clamor repetitivo e reiterado, depois de muita luta, negociação, bravatas e promessas, retiraram delas quem somente contribuía para torná-las feias, sujas, maltratadas; revitalizaram-nas e as devolveram aos cidadãos. Infelizmente, vi nesse interregno, em ação, mercenários de virtudes alheias, na televisão e na mídia, exortando os mais crédulos e os incautos a ouvirem suas toscas pregações; dentre elas, as que sub-reptícia ou, subliminarmente, pregavam o fim da família. Percebi, pesaroso, que essa corja, ao fazer isso, não estava, simples ou, inocentemente, usufruindo seus preciosos instantes de liberdade, nem tudo se resumia a uma questão de semântica: estavam sendo desonestos e maledicentes ao colocarem a sociedade em perigo; sim, pois ela não terá futuro sem a família. Cheguei a pensar ser erro da natureza a existência de seres como esses, capazes de pregar ideias tão esdrúxulas; certamente, não veem que o amor é a melhor contrapartida; que sem ele o mundo seria opaco, fosco, sem cor, um local insalubre. Vivi, nesses quase dois lustros, situações pitorescas; perdi amigos e parentes queridos, além de entes dos quais gostava muito, o que me levou a querer nenhuma, nada de intimidades com a morte. Confusão de sentimentos, quanta vez isso não me aconteceu durante a grande caminhada? Perdi meu limoeiro – quão belo, um protagonista da vida -, frondoso; sempre a oferecer proteção e aconchego, a ceder seus fortes galhos para que neles pudessem repousar os pássaros cansados de sua faina diária; no auge de seu esplendor, foi, covardemente, atacado por parasitas que, aproveitando-se de sua acolhida generosa e sem qualquer cobrança, dia após dia, sugaram-lhe toda a seiva, até o fim, seu fim. O tempo que não virá, era assim que imaginava ser o momento em que tombaria meu limoeiro. Não foi, mas ele viveu até as últimas horas. Depois de sua partida, pensei até em mudar de casa: adeus, doce lar. Não, melhor não. Fugir, por quê? Assim é a vida. Nós somos criaturas comuns, passamos, estamos sempre evoluindo ao pó. No máximo, somos tecelões de loas que se esvaem como nuvens ao vento. Nove anos de estrada. Vi como é fato a linearidade do tempo e as curvas da vida. Mutante realidade em cada uma dessas curvas. Como o que parece pequeno cresce, quando o perdemos. Quem já se pegou pensando qual seria o valor de uma agenda que desaparece de nossas vistas, levando consigo um conjunto de informações preciosas, colhidas ao longo de muitos anos? O telefone do velho amigo com quem nunca mais falamos e, talvez, não mais venhamos a falar? O endereço daquele companheiro que mora na cidade para a qual estamos nos dirigindo, em férias ou a passeio, e a quem poderíamos aproveitar a estada para dar-lhe um abraço? Como, às vezes, se precisa de tão pouco para ter um dia feliz ou, mesmo, momentos agradáveis. Não sei se ela vai me ouvir – será que ouve súplica de um idiota? Seria melhor escrever uma carta à mãe? -, mas vou rogar à Padroeira das crianças, que peça a seu filho e nosso criador, que aceite meu agradecimento e gratidão por tudo o que, até aqui, já consegui. Caso julguem que vale a pena dar mais algum crédito a linguarudos como eu, que nos permitam, a mim e ao Entretextos, seguirmos adiante: um, juntando as palavras, formando o texto; o portal, publicando, disponibilizando espaço, generosamente. Depois disso, dizer mais o quê? Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected]