[Maria do Rosário Pedreira]

Quando estava na Temas e Debates, recorria frequentemente a leitores que me ajudavam a decidir sobre determinados livros – ou porque, na altura, não publicava só ficção portuguesa e precisasse de uma opinião mais especializada sobre determinado livro de não-ficção, ou simplesmente porque tinha dúvidas – quem as não tem? – sobre se um romance merecia ser traduzido e/ou publicado em Portugal. Infelizmente, não guardei esses pareceres, mesmo que alguns deles fossem de escritores. Já a editora francesa Gallimard acaba de organizar uma exposição dedicada às Notas de Leitura, composta precisamente de relatórios de alguns editores ou leitores que se tornaram figuras de proa (André Gide, Albert Camus, Raymond Queneau, entre outros) no mundo inteiro. E, além da delícia que é ler estes autores, mesmo que num registo mais objectivo, curioso é também ver o que escreveram sobre livros que se tornaram obras-primas ou êxitos de vendas ao longo de anos. Gide, como todos devem saber, recusou a obra de Proust, dizendo que este ocupava três páginas com uma coisa que poderia ter resumido a um parágrafo (mas mais tarde confessou, conta-se, que não tinha lido o original); e, por exemplo, o clássico E Tudo o Vento Levou, que vendeu 400 000 exemplares em França, só foi publicado pela Gallimard porque o editor não deu ouvidos a Ramon Fernandez, que não julgava oportuna a publicação em terras gaulesas de um romance sobre a guerra da secessão americana. Em Portugal, conheço editores que ainda hoje se choram por terem recusado os primeiros livros de Saramago e o filão da colecção Uma Aventura...