No Metrô, encontro a amiga X. e seus filhos. Conversamos rapidamente.   A conversa seria interminável, se tivéssemos tempo. Adoro conversar. Continuo minha caminhada para Botafogo. Caminho pela Voluntários da Pátria. Há muito barulho. Entro numa velha loja de disco. Compro, usado, o CD da Sinfonia 9 de Schubert, a "grande", na magnífica
interpretação de Solti, que já conheço. Georg Solti fez melhor do que
Bernstein. Solti foi um grande maestro, como Hermann Scherchen, como
Mravinsky. Mais adiante, na calçada, no chão, um sebo. Encontro um livro de
Barthes, que me custa CR$ 2,00. Continuo pela Marquês de Caravelas.
Entro no Aurora. Está vazio. A noite vai cair. Peço alguma coisa e me
ponho a ler Barthes. Ninguém me importuna. O livro é bom. É bom estar só, consigo mesmo.
A noite cai. Ouço na imaginação a Sinfonia 9 de Schubert.

Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranqüila,
— Perdida voz que de entre as mais se exila,
— Festões de som dissimulando a hora.


(Camilo Pessanha).