Certas decisões, de tão sérias, parecem destoantes da realidade que estamos vivendo. Como aquela que tomou um pai ao pedir punição exemplar para o próprio filho, criado com o máximo de disciplina, dedicação e zelo, mas que, à sua revelia, decidiu enveredar pelo caminho da criminalidade a ponto de ser preso em flagrante enquanto, com colegas, assaltava uma nova vítima. Sério e honesto, apesar de profundamente triste, mostrou-se o mesmo quando, perguntado sobre que conselhos daria a pais que se encontrassem em condições semelhantes à dele, respondeu: que conselhos pode dar um pai que não consegue evitar que seu filho se torne um criminoso? E continuaria: aos filhos, sim, se possível, dir-lhes-ia: deem ouvidos aos ensinamentos e instruções de seus pais, caso contrário, vocês poderão pagar um preço muito alto.
     Não consigo ver seriedade diante de eventos que, ainda que possam ser sérios, não parecem. Como, por exemplo, aquela pesquisa mercadológica, porém, incluída pela mídia no rol da produção médico-científica, feita em Cingapura com cento e poucos voluntários que durante quatorze anos, semanalmente, ingeriram duas ou mais latas de refrigerante com açúcar, e que constatou que refrigerante com açúcar aumenta em oitenta e sete por cento o risco de quem o consome desenvolver câncer de pâncreas. O estudo, todavia, não atestou, tampouco apontou relação causal entre o consumo de bebida açucarada e o aparecimento da doença. Cientista da universidade americana de Minnesota, que coordenou os trabalhos, sugeriu uma hipótese para o surgimento exagerado de tantos casos de câncer junto ao grupo pesquisado, mas que se aplica às demais pessoas, no que concerne à doença: a quantidade de açúcar dessas bebidas até poderia ser responsável por um aumento nos níveis de insulina no sangue e, consequentemente, pelo crescimento de células malignas no pâncreas.
     Outro estudioso ouvido quanto à pesquisa com o refrigerante açucarado, alegou que o câncer de pâncreas tem como causas conhecidas e aceitas cientificamente, o histórico familiar da doença, casos de pancreatite hereditária, tabagismo e diabetes; a obesidade, ainda que não comprovadamente, poderia ser incluída nessa relação. E se os cento e poucos indivíduos pesquisados compusessem um grupo de risco, ou seja, fumassem, fossem diabéticos ou pudessem desenvolver o cancro por influência genético-hereditária? Acrescentou o mesmo cientista que não há nenhum alimento que, de fato, possa ser citado como causador de câncer pancreático.
     Pesquisas como essas parecem encomendadas, direcionadas, manipuladas. Ou seja, dados os meios utilizados e os fins a que poderiam destinar-se, nada as impede de, subrrepticiamente, escancararem interesses mercadológicos.
     Ainda sobre seriedade. Quem dera pudéssemos levar a sério um estudo, mesmo tomado por científico, que afirma que a simples visualização, por dez minutos, dos seios, nádegas ou de outras belas partes do corpo feminino, não somente corresponderia a uma série de trinta minutos de exercícios físicos puxados, como seria capaz de acrescentar, em média, quatro ou cinco anos de sobrevida ao executor da olhadela. Sugeriu o trabalho que a excitação provocada por essa espiada faz o coração do sujeito bater mais forte e, obviamente, bombear melhor seu sangue, o que pode reduzir, substancialmente, as possibilidades de o voyeur vir a ser vítima de um acidente vascular cerebral ou     de problemas cardíacos.
     Isto, sim, é sério: a CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior informa que, atualmente, estamos em décimo terceiro lugar no ranking dos países que detêm noventa e cinco de toda a produção científica mundial. Esperamos e torcemos para que nossas pesquisas não só pareçam sérias como, de fato, o sejam.
                                                                          Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal e escritor piauiense
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