ENCERRADAS!
O Espectador Criativo: Colisão e Diálogo
14th Simpósio da Sociedade Internacional Brechtiana
20-23 May, 2013
O sentido político do teatro, na perspectiva de Bertolt Brecht, deve ser atualmente concebido em termos do papel do espectador e o apelo de Brecht a uma nova “arte do espectador” pode unicamente ser hoje abordado no contexto da cultura midiática, no qual as práticas da recepção têm sofrido mudanças drásticas. O público que hoje consome música, televisão ou filmes está distraído; as pessoas usam smartphones e internet e estão acostumadas à uma comunicação superficial, mas imediata e interativa. Quais são então as oportunidades que o teatro politicamente orientado possui, nesse contexto de mudanças, para incentivar o público em sua própria criatividade? Especialmente na América Latina há uma viva tradição de teatro político pós Brecht, que tem desenvolvido novas “dramaturgias do espectador” – como o conceito de Augusto Boal de “espect-ator”. Essa influência direta ou indireta do pensamento de Brecht no últimos 25 anos constitui o tema central deste Simpósio.
O teatro já não tem a pretensão de oferecer respostas desde uma posição de conhecimento superior condescendente com seu público, mas sim se esforça a criar um espaço de reflexão compartilhada. O teatro se torna político por interrogar sua própria prática, tornando-a seu tema e problema. Ele se dirige a espectadores criativos que não desejam respostas prontas, mas buscam no teatro a matéria com a qual possam eles mesmos criar, de maneira precisa, suas próprias perguntas e respostas. Em que contexto institucional e em quais processos artísticos tais espaços de reflexão compartilhada são possíveis hoje em dia?
A representação, ou seja, a reprodução mimética, pode reivindicar um lugar legítimo no teatro. O desmoronamento das certezas, a fragmentação da experiência ou a impossibilidade de comunidade, em muitos casos encontram sua expressão em formas clássicas, épicas de teatro. Há, no entanto, diversas formas teatrais, algumas inspiradas por Brecht, que promovem uma interação mais estreita entre cena e público e conectam-se aos hábitos perceptivos do público familiarizado com as novas mídias. As discussões poderão focar-se em
- Teatro voltado ao performativo, que envolve o público intelectual e fisicamente
- Teatro com mídias, que investe na tensão entre presença viva e mediada;
- Teatro com atores não profissionais, no qual se subverte a percepção puramente estética da pessoa no palco;
- Teatro de intervenção urbana, site-specific theater;
- Teatro com dramaturgia desenvolvida no processo de ensaio, no qual as pessoas lidam com seus problemas e experiências através de textos e formas cênicas criadas de maneira colaborativa;
-Teatro participativo, performance e teatro conectada diretamente com práticas sociais;
- Novas formas de teatro documentário;
- Flash mob ou performances de massa em espaços públicos.
Estas formas teatrais tendem mais enfaticamente fazer dos espectadores co-atores e/ou a provocá-los a tomar uma posição e/ou, pelo menos, a problematizar a percepção habitual de seu eu (auto-identidade, papéis de gênero, conceitos políticos e humanos).
Tanto na performance épica quanto na prática teatral não-dramática, o teatro constitui um lugar de comunidades temporárias, que, no entanto, segundo uma perspectiva brechtiana, não podem ser uma comunidade unificada. Brecht propunha que o ator e o público não deveriam se aproximar um do outro, mas se distanciarem. É nesse espaço, segundo Brecht, onde no teatro emerge “o horror que é necessário à ideia”. Jean-Luc Nancy fala de uma comunidade inoperante: ele concebe o teatro como um espaço onde a experiência compartilhada entre a carência e o desejo por comunidade possa ser negociado. Como podemos vislumbrar a ideia de comunidade, do “coletivo, no teatro ” pós” Brecht? Como podemos relacionar tal noção com demanda de Brecht sobre a necessidade do teatro de”dividir” seu público?
Jacques Rancière fala sobre espectadores emancipados, os quais não são meros objetos de instrução nem tão pouco tomados pelo espetáculo, mas sujeitos que combinam, criativamente, sua própria poesia com a poesia do palco. O ideal de Brecht eraespectadores pensantes,,cidadãos da geração científica que não deixam suas cabeças junto a seus chapéus na chapelaria do teatro. Contrariamente à opinião difundida de que o teatro de Brecht evita emoções em favor da fria razão, os espectadores pensantes libertam-se exatamente pela combinação entre sentimentos e cognição.
O Simpósio pode ainda lembrar-nos que não há apenas um Brecht, o do Teatro Épico: por décadas um interesse renovado pelas peças didáticas (Lehrstück) tem enriquecido os debates internacionais sobre teatro. Para Brecht significava um teatro sem espectadores (passivos), um teatro que tem por foco a prática da performance e do fazer, não em acomodar o público. Pouco antes de sua morte, Brecht falou sobre como “novas e mais flexíveis” formas de teatro e mini- teatros seriam necessários, talvez porque ele já pressentisse o início da paralisia das grandes instituições teatrais. Qual utilidade pode a prática teatral contemporânea encontrar nas ideias de Brecht sobre a peça didática e as formas teatrais flexíveis?
A partir desse recorte e visando oferecer uma plataforma na qual possam ser agregados outros tópicos inovadores de recentes pesquisas sobre o teatro de Brecht, o Simpósio dispõe de um programa provisório de seções assim definidas:
- A influência do Teatro Épico e da peça didática internacionalmente, especialmente no teatro latino-americano.
- As práticas latino-americanas do teatro político depois de Brecht.
- Participação, “performance comunitária” e performance política.
- Teorias e práticas do olhar
- O espectador como ouvinte.
Serão aceitas propostas de participação em português, espanhol, alemão e inglês. Até o dia 09 de novembro de 2012 deverá ser submetido o resumo da proposta em uma dessas línguas acompanhado de sua versão em inglês: para comunicações de 20 minutos (250 palavras), descrições de workshops ou sugestões para sessões de trabalho com três participantes (150 palavras). O envio deverá ser feito para o email da organização do evento: [email protected]
Os apresentadores serão notificados sobre o resultado da seleção das propostas e demais sessões de trabalho no final de setembro. A Comissão Organizadora se reserva o direito de alterar a composição das sessões de trabalho e o foco temático das mesas. É esperado que os participantes do Simpósio tornem-se membros da Sociedade Internacional de Brecht, caso ainda não tenham se associado (www.brechtsociety.org). A partir do dia 18 de março, serão divulgadas aqui no site informações sobre o pagamento das inscrições. O valor padrão para participação é de R$ 240,00 e R$ 150,00(estudantes). Os participantes do Simpósio são responsáveis por organizar sua própria viagem e reserva em hotéis, mas a organização do evento providenciará informações adequadas no próprio website do Simpósio. A seleção dos protocolos do Simpósio será publicada no Brecht Yearbook (vol. 39/2014). Um programa cultural será organizado e publicado no site do Simpósio.
PDF: CHAMADA PARA ARTIGOS
ha uma confusao porque na versao pdf fala em data final julho de 2012 e aqui fala 9/11/12, sendo o resultado das avaliaçoes em setembro. Como nao ha uma nota dizendo que foram prorrogadas as datas, fica confuso…
Tony, foi divulgada uma notificação no site, dizendo que as inscrições seriam prorrogadas até 9 de novembro de 2012. Att.