Nilo Marinho

[Carlos Said]

O conceituado professor Raimundo Nonato de Santana (Campo Maior , Piauí, 1926), um dos mais proeminentes literatos mafrensinos, portador de cultura invejável, ex-presidente da Academia Piauiense de Letras (30 de dezembro de 1917), fez com que lembrássemos duma frase importante: “Não é possível deter o tempo. O tempo também não nos pode deter”. Razão da fixação no tempo solicitado pelo professor Santana e, sem mais tardança, atendê-lo no concernente à narrativa do livreiro ambulante que existiu em Teresina.

 
A história de Nilo da Rocha Marinho é a própria História do Piauí atrelada ao capitulo das letras mafresinas encaixadas que foram em livros e livrarias, principalmente as livrarias – as primeiras que existiram em Teresina, a partir dos anos 30, século XX.
 
Impressionante é a descrição do homem Nilo da Rocha Marinho, Pedalando velha bicicleta, andando sobre duas rodas, percorrendo bairros, avenidas, ruas, residências e becos da antiga Teresina, pregoando venda de livros e jornais até ser apelidado: livreiro ambulante. As injustiças que atingiram o cerne do primeiro incrível comerciante de livros fizeram do humilde mascate um ser dotado de magnanimidade. Perseguido, preso, talvez torturado e denominado “comunista” como inimigo do Brasil, eis a aberração inexplicável com qual Nilo da Rocha Marinho provou mais do que ninguém que, aquele que nunca foi machucado pelas adversidades nunca colocou à prova suas virtudes. E quem sabe mesmo, mais brasileiro do que qualquer um de nós, patriota na essência da palavra, carregador de ideias extravagante mas dono de incalculáveis tesouros (livros) e inteligência invulgar.
 
O esforço desmedido de Nilo Marinho fez materializar a Livraria Ambulante. O estabelecimento passou depois – à denominação de Livraria Anchieta, homenagem ao padre José de Anchieta, (Tenerife, continente africano, 1534 – São Paulo, Brasil, 1994), o santo jesuíta que se dedicou à catequese e evangelização dos índios, os primitivos habitantes do Brasil. Nilo Marinho estava, assim, estabelecido na rua Simplício Mendes (Simplício de Sousa Mendes: Oieras, Piauí, 1823 – Teresina, Piauí, 1892).
 
Novamente injustiçado após algum sucesso de dez anos na livraria levantada e estabelecida na rua Coelho Rodrigues (Antônio Coelho Rodrigues: Oeiras, Piauí, 1846 - São Vicente, São Paulo, 1912), em casa de aluguel pertencente a José Lopes de Araújo (não foram encontradas as datas e os locais de nascimento e óbito), foi violentamente despejado por questões desconhecidas, uma vez que as contas do aluguel do imóvel estavam pagas – corretamente. Recorrendo aos doutos desembargadores do Tribunal de Justiça do Piauí, sofreu revés que não abateu a sua fé em ver as coisas como Deus desejou para ele. Conseguiu a amizade de dois magistrados: José Vidal de Freitas (Oeiras, Piauí, 1993), fortalecendo sua perseverança em prosseguir a jornada não mais como andarilho, decididamente livreiro, vitorioso e reconhecido pela sociedade teresinense.
 
Nascido em Jerumenha , Piauí, 1911, encimado na idade provecta de 93 anos, Nilo da Rocha Marinho, sente-se orgulhoso com a continuação da saga: livreiro ambulante, posto que a família construiu na rua Barroso (Francisco Manuel Barroso da Silva (Lisboa, Portugal, 1804 – Montevidéu, Uruguai, 1882), nº 353, edifício próprio batizado Padre Marcos (Marcos de Araújo Costa: Paulistana, Piauí, 1778 – Jaicós, Piauí, 1850). No Local, foi colocada em funcionamento a Livraria Leonel Franca, homenagem ao padre jesuíta Leonel Edgard da Silveira Franca, São Borja, Rio Grande do Sul, 1893 – Rio de Janeiro,1948. A credibilidade familiar abriu filiais da importante Livraria Leonel Franca em lugares diversos de Teresina, a fim de manter viva a forte personalidade de Nilo da Rocha Marinho, referência que ele soube cooptar entre nós.
 
Assim, e por tudo que passou, Nilo da Rocha Marinho é capaz de, no presente momento, extravasar: “ Os velhos não devem temer as ideias novas; as ideias novas é que devem temer os velhos.”
 
 
Fotografia: A. Tito Filho, Nilo da Rocha Marinho, Odonel da Rocha Marinho, Luís Carlos Prestes, eu, Anita Benário Prestes.