Nem calorão nem nevasca: o meio é a virtude
Por Cunha e Silva Filho Em: 12/02/2010, às 22H22
Cunha e Silva Filho
Há notícia de que o Rio de Janeiro foi, pelo menos, num dia, considerada a cidade mais quente do Terra. Ficou à frente do Saara, de regiões africanas muito quentes. Já há notícia de que idosos na Cidade Maravilhosa morreram de calor. É assustador o que se está presenciando e, o que é pior, nada se pode fazer por enquanto para mitigar as altas temperaturas. No Rio, há bairros com temperaturas elevadíssimas, muito acima de quarenta graus. Por exemplo, em Bangu, na zona oeste, o sol é abrasador, insuportável.
Eu, que sou do Piauí, quando criança, acompanhando mamãe ao Mercado Velho, não me cansava de reclamar: “Que caiô danado, mãe! Com efeito, Teresina está sempre quente, muito quente. Só nos resta entregar-lhe os pontos e sucumbir à fornalha. Entretanto, Teresina, pela manhã, mostra-se agradável, mesmo debaixo do sol. Há alguma brisinha soprando nessa parte do dia para compensar os rigores dos sóis da tarde que fazem com que as mulheres usem muito guarda-sol.
Nos Estados Unidos, em algumas partes, a neve, agora, parece não parar. Os termômetros indicam temperaturas muito abaixo de zero negativo.Como se vê, o nosso Planeta anda meio esquisito, denotando alguma desequilíbrio, coisa que não se via há muitos anos. Portanto, há algo errado nesses contrastes excessivos.
Difícil não se afigura a qualquer leigo que tenha vivido mais tempo compreender essas mudanças na temperatura mundial.
Estamos brincando com os sinais do tempo, enquanto que a Natureza vai demonstrando seu poder de fogo ou de água, reagindo com nevascas, altíssimas temperaturas e inundações.
A humanidade não pode se manter indiferente a esses fatos estranhos. Ou se buscam soluções para, a curto prazo, melhorarem as condições climáticas, produzindo menos CO2, diminuindo drasticamente as derrubadas de árvores, procurando evitar os incêndios das florestas, seja os naturais, seja os provocados pela irresponsabilidade dos indivíduos, ou afundaremos no abismo de fenômenos apocalípticos.
As ações devem ser tomadas globalmente, ou seja, todos os países devem envidar um esforço hercúleo para tornar nosso Planeta mais respirável. Se não fizermos nada, as reações da Natureza cada vez mais - é preciso reiterar - se tornarão mais catastróficas. Sucumbiremos todos sem piedade, porque as forças naturais não medirão seus estragos. Precisamos de novos Noés contra as inundações e tsunamis e Noés pra nos valerem dos cataclismos advindos das altas temperaturas provocadas pelo efeito estufa.
Todo excesso climático prejudica o bolso do consumidor e sua saúde. Nas altas temperaturas, precisamos de aparelhos gerados pela ciências e tecnologias, o ventilador, o ar-condicionado, o aquecimento contra os rigores dos dias frigidíssimos. Num caso e noutro, as contas de luz e gás sobem a perder de vista, assim como há mais necessidade de aquecer as lareiras das salas com lenha, aumentado com isso a quantidade de derrubada de árvores.
No exemplo do calor brasileiro, o período de verão exige mais gastos com bebidas, refrigerantes, água comprada. Nesses setores de consumo, até os camelôs fazem a festa. Imaginem o que não faturam as indústrias de bebidas, de produtos protetores da pele, o aumento astronômico do consumo de água corrente engordando as contas das companhias de água. Um outro setor que deita e rola em cima do calor são os hotéis recebendo milhares de turistas que vêm buscar nos trópicos o sol, o mar, achando que aqui é o paraíso. Ora, para que vem das nevascas, o Brasil só pode ser um paraíso.
Eu fico pensando: as pessoas só pensam no tempo presente, no instante que passa. Certa vez, eu chamei de “primado do instante”. Até parece que a vida na Terra é eterna. Para elas, não parece haver tantos problemas que atingem toda a humanidade. E são problemas gravíssimos que requerem o despertar urgente da consciência universal. Não é que deseje que as pessoas não se divirtam e vivam plenamente. Porém, não só de diversão vive o homem.
Cumpre-lhe estar vigilante, zeloso, não só do seu próprio ser, mas sobretudo daquilo que constitui a existência coletiva, que não vai bem, nem está atenta aos grandes dilemas da velha humanidade sem becos nem saídas. Que Deus nos valha no meio desse paraíso de mais de quarenta graus! Bom carnaval, leitor!