Na onda da bola
Por Cunha e Silva Filho Em: 14/06/2014, às 12H52
Cunha e Silva Filho
Não vá o leitor pensar em que sou um expert
Quando adolescente, lá em Teresina, na Rua Arlindo Nogueira esquina com a São Pedro, tudo poderia ter sido diferente se , nas peladas, do lado da Arlindo Nogueira, eu me saísse melhor nos chutes e nos dribles, Qual nada” Mamãe era a primeira a lembrar, tempos depois, quando eu já era adulto, que eu, não aguentando o lado mais violento do futebol, de repente saía do jogo quase chorando por ter levado alguma pancada mais forte na canela. Não gostei desse comentário de mamãe, por que me expunha aos risos de colegas, amigos e parentes. E eu não suportava tais confidência. Mexia com os meu brios de adolescente . mas deixemos isso pra lá que , do contrário, iria transformar-se em desabafos à maneira de Graciliano Ramos.
Há pouco, fui chamado pela minha esposa para colocarmos a bandeira brasileira na grade protetora da varanda do meu apartamento. O meu ato de escrita pode se chamar com rigor que foi a ma pausa no tempo da narrativa, ou seja, o real se intrometeu na crônica, o que me faz lembrar daqueles dois elementos da narrativa - o interno e o externo - componentes “dissociados,” expressão do crítico Antonio Candido, que, segundo este mesmo critico, se tornavam unificados já que o externo (a realidade empírica, os fatores sociais, históricos, biográficos etc) se tornava interno, quer dizer, passa a ser unificado como compreensão estrutural da ficção, sem os receios de subordinar-se ao interno (a linguagem literária, “sistema semiótico secundário,” a história inventada, as personagens, o enredo, o tempo, o espaço, os recurso retóricos, tão rezados pela pensamento crítico formalista.
Depois dessa digressão cansativa ao leitor que espera alguma fato surpreendente, leve ou poético, no gênero da crônica, quero-lhe dizer que há uma hora atrás estive quase a dar uma volta nas pistas de ciclistas do belo Estádio do Maracanã – delícia dos turistas nacionais e estrangeiros, principalmente daqueles tão aficionados ao futebol e desejosos de conhecer o mundialmente famoso estádio. Com um sol forte pros dias de um mês mais geralmente frio, o estádio estava em festa, com gente circulando por toda a parte externa ao redor daquele “santuário do futebol brasileiro.
O Maracanã está pronto, por dentro e por fora, a fim de receber, no domingo duas seleções (deixe-me consultar a tabelinha da Copa do Mundo-20140. Ah, aqui está: no domingo, amanhã: Espanha e Chile. Não irei assistir ao jogo in loco. Verei pela TV. O receio é que amanhã possa haver manifestações contra a Copa, digo, contra os gastos governamentais na construção de estádios ou em reformas de estádios. Fora outros gastos derivados das exigências da toda poderosa FIFA. Esperemos que tudo ocorra bem dentro do Maracanã e fora dele.
Sou informado pela TV que o Brasil está melhor no que tange à vida dos brasileiros. Contudo, essa declaração da imprensa internacional nunca espelha a verdade mais funda, i.e., a dos brasileiros que tanto ainda sofrem pelas graves deficiências já tão conhecidas dos leitores. Continuam morrendo pessoas por falta de assistência médica em toda a parte do país. Os transportes de massa ainda precisam dar conta da demanda crescente das megalópoles.
A escola pública (estadual e municipal – bom que lembremos isso - , está ainda em baixa, tanto na valorização dos professores quanto na eficácia dos ensino oferecido. A violência sem freios, a impunidades que lhe é corolário determinante, o tráfico, as drogas, as milícias, a delinquência de menores e adultos continuam livres e fagueiras. Essa dimensão do país não pode ser jogada debaixo do tapete, mas denunciada sempre e sempre aqui e fora de nossas fronteiras. E, last but not least, a corrupção da politicagem, que parece não ter fim. Esta imagem podre do Brasil tem que ser levada em conta em qualquer análise da sociedade brasileira.
Não queremos um país dividido entre riquíssimos e miseráveis, que ainda os há pelo Brasil afora. O que não se pode suportar, sem protestos e indignação, é passivamente ver jornais ou pesquisas de estatísticas no exterior passarem uma imagem edulcorada de meu país. Só quem vive o dia-a-dia do povo brasileiro pode avaliar o que aqui se faz, como se faz e por que se faz. É preciso ter vivência suficiente para fazer-se uma estimativa sobre as condições e os vários aspectos da realidade nacional. O olhar do estrangeiro nem sempre confirma a experiência de nosso quotidiano e de nossas mazelas em todos os sentidos.
Não podemos perder a onda da bola. Tentar decifrá-la é matéria de quem ama o país de verdade e não na limitada forma de individualismo burguês refestelado, bem nutrido, com já afirmei alhures, em poltronas macias, alienante, hipócrita e mistificador.