ELMAR CARVALHO

 

 

No sábado, dia 3, após ter sido promovido para o Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Oeiras, fui levar alguns de meus poucos pertences ao apartamento em que passarei a residir na velha capital. Reduzi ao mínimo possível esses objetos. Fomos em minha picape e em um pequeno caminhão-baú. Fui ajudado pelos meus irmãos César (Neném) e Antônio José, e mais pelo César Pinho, pela sua esposa Simone, sobrinha de Fátima, minha mulher, que também estava presente. Meu pai, Miguel Arcângelo, não obstante seus 87 anos de idade, igualmente ajudou com bravura, na medida do possível e do impossível.

 

Eu havia feito, dias antes, um desses desagradáveis exames invasivos, que podem ser considerados como uma pequena cirurgia. Dirigi a picape tanto na ida como na volta, o que totaliza mais de seiscentos quilômetros, além de ter feito esforço na remoção dos móveis. Como eu estava debilitado pelo referido exame, terminei ficando com muitas dores e mal-estar, de modo que fiquei como se estivesse doente, tanto no domingo, como na segunda-feira. Dessa forma, resolvi tomar posse na terça-feira, dia 6 de agosto, dentro do prazo de 30 dias, desde a promoção, a que tinha direito.

 

Fui acolhido pelo juiz da Vara Única da Comarca de Oeiras, Dr. Leandro Emídio, que teve a generosidade de me convidar para morar no apartamento em que ele reside. Tomei posse administrativo-burocrática na forma de praxe. Assinei o termo lavrado por Benedito Carneiro, diretor de secretaria do Juizado. Revi o promotor de Justiça Carlos Rubem, que também designo como promotor de cultura, que conheço faz mais de duas décadas, através das diversas ocasiões em que participei de eventos literários na velha capital. Anunciou-me ele o lançamento de um livro com poemas de seu tio, o saudoso poeta Gerson Campos, cuja solenidade acontecerá no dia dia 13 de setembro, sexta-feira, à noite.

 

Presentes os funcionários do Juizado Especial Cível e Criminal, após a assinatura do termo de posse, resolvi dizer umas breves palavras. Falei que éramos servidores públicos, e que dessa maneira éramos servos, e tínhamos o dever de bem servir aos jurisdicionados. Lembrei-lhes que, parafraseando Jesus, o maior dos servidores públicos era o que mais e melhor servisse.

 

Proclamei que me considerava um quase oeirense, pois era membro correspondente do Instituto Histórico de Oeiras, do qual, para elevada honra minha, recebera a Medalha do Mérito Visconde da Parnaíba, que me fora outorgada na gestão do presidente Dagoberto Carvalho Júnior, e me fora entregue no início da administração de seu sucessor, Antônio Reinaldo Soares Filho. Há longos anos sou amigo de ambos. Tive a satisfação de prefaciar a sexta edição do esmerado livro Passeio a Oeiras, da autoria de Dagoberto, sobre quem já havia escrito alguns textos de crítica literária.

 

Disse-lhes ainda que havia escrito vários textos sobre Oeiras e oeirenses. Primeiro, escrevi Noturno de Oeiras, que foi publicado em formato de álbum, com ilustrações de Francisco Leandro. Posteriormente, por simpática “cobrança” do advogado Talver Mendes de Carvalho, compus o Noturno do Cemitério Velho de Oeiras. Ao longo de minha já alongada ligação afetiva e sentimental à Terra Mater, escrevi vários textos em prosa, sobretudo crônicas, crítica literária e discursos, em que abordo assuntos e escritores oeirenses.

 

 

Enfeixei esses trabalhos no livro Noturno de Oeiras e outras evocações. Lancei-o em memorável e engalanada noite velhacapiana, sob os auspícios do Instituto Barros de Ensino, em que houve a apresentação de magníficos números artísticos, com meus versos sendo cantados ou interpretados por alunos do educandário. Como se tudo isso não fosse o bastante, o Dr. Moisés Reis, com muito talento, engenho e arte, fez uma brilhante apresentação dessa obra.

 

Na minha primeira semana funcional na Velha Mocha, fui conhecer a Galeria do Divino. Esse espaço cultural é mantido graças à abnegação e esforço do poeta e escritor Olavo Braz Barbosa Nunes Filho, que adquiriu a casa e as dezenas de obras artísticas, que nela são expostas. Nota-se que o espaço é bem cuidado, e se mantém limpo e bem organizado. As obras são etiquetadas com fichas técnicas, que fornecem dados sobre a obra e seu autor. Entre outros objetos, são expostos talhas, esculturas e oratórios, alguns tendo como suporte velhas bilheiras. Não é supérfluo esclarecer que Olavo Braz Nunes fez tudo com o seu próprio dinheiro, sem a ajuda de órgãos públicos, que quase sempre nada fazem e nem ajudam os que fazem.

 

No espaço reservado aos “Poetas Anjos e Anjos Poetas”, vi placas de vidro com belos poemas sobre Oeiras ou escritos por oeirenses. Encontrei poemas de Expedito Rêgo, Dagoberto Carvalho Júnior, Gerson Campos, Nogueira Tapety, Ribamar Matos, O. G. Rêgo de Carvalho, Vidal de Freitas, Balduíno Barbosa de Deus, Rogério Newton, Gutemberg Soares, Cassi Neiva, Stefano Ferreira, Gutemberg Rocha, Júnior Mariano, Conceição Neiva, Vivaldo Simão, Teresa Mendes de Carvalho, Paula Nataniele Nunes, Cyntia Osório, Edilberto Vila Nova e Olavo Nunes.

 

Sobre muitos desses poetas já tive oportunidade de emitir comentários. Para gáudio meu, conforme Dagoberto já estampara em crônica, ali estava também o meu Noturno de Oeiras. E tudo isso, repito, graças ao esforço e aos metais do mecenas e divulgador cultural Olavo Braz Nunes.