Escritor JL. Rocha do Nascimento e escritora Denise Veras.
Escritor JL. Rocha do Nascimento e escritora Denise Veras.

[josé Ribamar Garcia - Da Academia Piauiense de Letras]

' -- Ninguém pode dizer que eu não tentei, disse, olhando do alto.'(p.97)

O livro “Na Caverna de Platão e Outros Contos Breves”, de autoria de J. L. Rocha do Nascimento, quando estava no manuscrito, ou melhor, no final da adolescência, participou do Concurso Internacional de Literatura da União Brasileira de Escritores – UBE/RJ, 2022. Obteve o 3º lugar. Não conquistou o primeiro, como devia, por insensibilidade dos jurados, os quais, com certeza, nasceram na “caverna de Platão”. Agora, ao atingir a maior idade, vem a público acrescido de mais 12 textos, perfazendo 50. Sendo 16 narrados na primeira pessoa e os outros na terceira. A temática é diversificada. Distribuída nos contos de extensão média, curta e curtíssima, através de uma narrativa precisa, objetiva e encantadora. E que flui tão naturalmente que nem a brisa noturna que oscula Teresina. Nessa diversificação há algumas unidades. Os contos “Terrae Brasilis”, “Fazendo tábula rasa dos dois corpos do rei”, “Quatro modelos de Juízes para armar,” “O Ponderador” e “Sétimo Selo” concentram uma denúncia contra a negação da Justiça. Causada pela conduta iníqua de alguns magistrados prepotentes que se consideram acima das leis. São esses tipos que se insurgem contra o estado de direito. Dos quatro deles reunidos numa mesa de bar, apenas um julgava de acordo com a lei - “ Eu aplico a lei”. Os outros admitiam, cinicamente, seus critérios indecentes. São figuras como essas que se insurgem contra o estado de direito e violam descaradamente a Constituição Federal. Não foi à toa o “desconsolo” do personagem – o “velho causídico” admirador de Rui Barbosa.

Outra unidade temática se vê nos textos “Luxúria”, “Gula”, “Avareza”, “Ira”, “Preguiça”, “Inveja”, “Soberba” e “Mentira.” O conceito desses vocábulos é tão milenar, quanto à origem do próprio homem. Na Grécia antiga, um ex-escrevo que virou escritor, chamado Esopo, já os abordava nas suas fábulas, que inspirariam séculos depois o francês La Fontaine. Na Bíblia, há várias passagens sobre o assunto através de parábolas. Porém, com J. L. Rocha do Nascimento nada de fábula, nada de parábola. Como bom escritor que o é, fugiu do lugar-comum, e lhes criou novas versões - hodiernas e até irônicas: “Que é isso, companheiros?! Só tomei dois dedos.” (p. 26); “Apesar de tudo, acredite, sempre te amei! E o fez assim tão naturalmente que nem sentiu que era verdade a mentira que mentia.” (p.31). Há também uma unidade de tema nos contos eróticos “A Sombra de Procusto” (p39), cujo desfecho deixou a cargo do leitor; “Conjunto da Obra” (p.46); “Alforria” (p.52); “Aquele olhar em algum lugar do passado” (p.71); “Ninfas” (p. 88). Não importa a extensão do conto, se curto ou curtíssimo. O que importa é a estrutura do texto, do contexto e dos ingredientes, sobretudo, dos seus efeitos emocionais com desfechos surpreendentes. Tudo isso se faz presente “Na Caverna de Platão e Outros Contos Breves.” E mais: Há uma unidade de ação, tempo e lugar, nos contos, vamos dizer, assim, de tamanho mediano. Os quais, pela alta qualidade, podem fazer parte de qualquer antologia literária. Tal a beleza deles, principalmente os “Playboy”; “No terminal eletrônico”; “A taça de vinho e herança jacente”; “Amanhã, talvez, com certeza, não sei”; “Sumário de urina”; Último Round.”

J. L. Rocha do Nascimento, com este “Na Caverna de Platão e Outros Contos Breves” consolidou sua presença na galeria dos grandes contistas brasileiros".

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Leia entrevista de J. L. Rocha do Nascimento a Octávio César, Sarau (Tv Assembleia Legislativa do Piauí).