Muralhas de pedra, canhões de bronze e homens de ferro

Historiador do IPHAN lança livro no Rio de Janeiro sobre fortificações do Brasil de 1504 a 2006.

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Dica de logo antes do réveillon:

LEIA O ÚLTIMO ARTIGO DESTA COLUNA, EM 2009,

"Retrospectiva: em agosto de 2009 morreu o inventor da guitarra elétrica":

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico,236.html 

SE TIVER TEMPO E INTERESSE, VEJA ARTIGO ESCRITO PELO RESPONSÁVEL PELA COLUNA "Recontando estórias do domínio público", PUBLICADO NO ÚLTIMO DIA DO ANO (31.12.2009), NO JORNAL BRASILIENSE TRIBUNA DO BRASIL:

http://www.tribunadobrasil.com.br/site/index.php?p=noticias_ver&id=8473

FELIZ 2010!

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Fortaleza de Santa Cruz da Barra, bairro de Jururuba, Niterói (Foto de divulgação)

"(...) A história das fortificações do Rio de Janeiro se inicia antes da fundação da cidade. Em 1555, após invadir a cidade o francês Villegagnon improvisou uma fortificação em Niterói para a defesa da entrada da Baía de Guanabara. Em 1567 ela era tomada por Mem de Sá, passando a ser chamada de Fortaleza de Nossa Senhora da Guia. Sofreu ampliações e aumentou seu poder de fogo, tornando-se o principal ponto de defesa da baía. Em 1632, após reformas ela passou a ser chamada como é conhecida atualmente; Fortaleza de Santa Cruz. Personagens da história brasileira como Tiradentes, Bento Gonçalves e Giuseppe Garibaldi estiveram presos na fortaleza. Segundo guias locais, dentro da Capela de Santa Bárbara, uma das mais antigas da cidade está sepultado, na parede, o corpo de Iracema filha do capitão Potyguara que se atirou ao mar por ter seu amor por um soldado impedido por seu pai. Além dela estariam emparedados ali, também, uma amiga da moça por sua própria vontade e um criminoso de guerra. Verdade ou não as paredes nesse corredor são úmidas e bolorentas estufando em vários pontos. Sobre elas, placas com os nomes dos mortos. Em suas baterias com paredes de quase meio metro de espessura os canhões ficam alinhados em salas próximas umas das outras, durante as batalhas eles não podiam ser disparados ao mesmo tempo, pois havia o risco de abalar as estruturas do forte. Os soldados geralmente ficavam surdos. (...)".

(Fátima Silva, cronista, em texto adiante transcrito)

"(...) Alguns autores repetem, incorretamente, que a primitiva ocupação de seu sítio remonta a uma defesa improvisada por Nicolas Durand de Villegagnon à entrada da barra (1555), artilhada com duas peças e ocupada por forças portuguesas no contexto da campanha de 1565-1567, esquecidos de que as narrativas das fontes coevas se aplicam à tentativa de instalação de uma bateria na Ilha da Laje, fortificada pelos portugueses muito mais tarde. (...)".

(Verbete da Wikipédia sobre a Fortaleza de Santa Cruz da Barra, em Jurujuba, Niterói; artigo reproduzido no final)



10.11.2009 -  Ontem, 9.11.2009, foi feito o lançamento do livro Muralhas de pedra, Canhões de bronze, Homens de ferro: fortificações do Brasil de 1504 a 2006 (Rio de Janeiro: FundCEB, 2009), do historiador Adler Homero de Castro (*), pesquisador do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização-Depam/IPHAN. Informa o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em seu portal, que "(...) Tal obra, o primeiro de três volumes sobre o assunto, é parte de um projeto desenvolvido pela Fundação Cultural do Exército Brasileiro, buscando inventariar e os fortes que foram construídos no Brasil ao longo dos quinhentos anos de sua história, coletando dados sobre sua história e situação atual. Este primeiro volume trata da história das fortificações no mundo, a conjuntura colonial portuguesa e do Brasil independente, passando a tratar especificamente da inserção dos projetos de construção de 124 fortificações construídas no Rio de Janeiro na história nacional". Fonte: Ascom - Assessoria de Comunicação / IPHAN - DF.

(https://portal.iphan.gov.br/intranet/montarDetalheConteudo.do?id=13504&sigla=Noticia&retorno=detalheNoticia)

Visite o site ArmasBrasil - http://www.francisco.paula.nom.br/Armas%20Brasil/Index.htm -, iniciativa do Prof. Adler, no qual está assinalado: "Este sítio é uma tentativa de se montar na inter-rede uma base de informações mínimas sobre a história dos equipamentos utilizados pelas forças armadas no Brasil (...)".

(*) - Adler Homero Fonseca de Castro é mestre em História, pesquisador do IPHAN e Curador de Armas Portáteis do Museu Militar Conde de Linhares.

O Professor Adler, que lançou ontem seu livro no Rio, em foto reproduzida em página virtual [tanques de guerra - Brasil / tanks - Brazil] da The Florida State University, EUA. (http://mailer.fsu.edu/~akirk/tanks/brazil/brazil.html)

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ARTIGO INTITULADO "Fortes: Impressões da História", de autoria da cronista Fátima Silva

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

A cronista Fátima Silva

(http://www.jornaleco.net/fatima/textos/index.htm)

São Paulo, 05 de abril de 2009

Fortes: Impressões da História

por Fátima Silva


"Um forte pode ser o cenário de filmes épicos ou o palco de grandes batalhas, mas está sempre emoldurado por montanhas, céu e mares e essa característica lhe traz muito de mistério e grandiosidade. Construídos em locais altos ou estratégicos em relação ao litoral, os fortes e fortalezas, além de ostentarem uma arquitetura robusta e extensa, exibem belíssimas vistas a quem possa passear por entre suas muralhas e baterias. Difícil imaginar, ao visitar um forte, o ribombar dos canhões se fazendo ouvir e sentir nas estruturas vigorosas de suas paredes. Por todo lado o branco, o amplo, o silêncio e uma ordem pacífica, inalterável.

Quando as guerras e invasões se davam por mar, eles eram de suma importância na defesa dos países. Hoje, quando a tecnologia fez da guerra algo ainda mais invasivo e letal, eles resistem ao tempo e funcionam como mais uma ponte mágica para a história, felizmente preservada e aberta à visitação pública.

No Brasil existem quarenta fortes, no Rio de Janeiro eles são doze. Aqui na cidade do Rio de Janeiro a maioria deles está localizada no litoral, nos entornos da Baía de Guanabara o que os torna um verdadeiro convite ao deleite de vistas privilegiadas. Localizados em praias, morros e pontões eles se integram a todo o resto compondo cenários dignos de uma aventura cinematográfica.

A história das fortificações do Rio de Janeiro se inicia antes da fundação da cidade. Em 1555, após invadir a cidade o francês Villegagnon improvisou uma fortificação em Niterói para a defesa da entrada da Baía de Guanabara. Em 1567 ela era tomada por Mem de Sá, passando a ser chamada de Fortaleza de Nossa Senhora da Guia. Sofreu ampliações e aumentou seu poder de fogo, tornando-se o principal ponto de defesa da baía. Em 1632, após reformas ela passou a ser chamada como é conhecida atualmente; Fortaleza de Santa Cruz. Personagens da história brasileira como Tiradentes, Bento Gonçalves e Giuseppe Garibaldi estiveram presos na fortaleza. Segundo guias locais, dentro da Capela de Santa Bárbara, uma das mais antigas da cidade está sepultado, na parede, o corpo de Iracema filha do capitão Potyguara que se atirou ao mar por ter seu amor por um soldado impedido por seu pai. Além dela estariam emparedados ali, também, uma amiga da moça por sua própria vontade e um criminoso de guerra. Verdade ou não as paredes nesse corredor são úmidas e bolorentas estufando em vários pontos. Sobre elas, placas com os nomes dos mortos. Em suas baterias com paredes de quase meio metro de espessura os canhões ficam alinhados em salas próximas umas das outras, durante as batalhas eles não podiam ser disparados ao mesmo tempo, pois havia o risco de abalar as estruturas do forte. Os soldados geralmente ficavam surdos.


Vista da bateria da fortaleza de Santa Cruz

Palco primeiro da fundação da cidade do Rio de Janeiro, a Fortaleza de São João foi erguida por Estácio de Sá em 1565, em um local que viria a se tornar um dos mais belos cartões postais da cidade. Ao longo dos anos, ela foi sendo ampliada até exercer importante papel na defesa do território brasileiro, participando de vários períodos históricos do país. Foi desarmada durante a regência, mas por ocasião da “Questão Christie” recebeu 35 novos canhões e três baterias. Desde 1991 funciona como Centro de Capacitação do Exército.

Mais ao centro da cidade, em meio aos prédios modernos e ao centro financeiro da cidade, está a Fortaleza da Conceição. Projetada pelo padre jesuíta Diogo Soares, ela foi erguida sobre o Morro da Conceição em 1726. Em 1765 recebeu uma casa de armas conhecida pelo nome de Capela. Ali no final do século XVIII, abrigou em suas masmorras presos da Inconfidência Mineira e membros da Sociedade Literária do Rio de Janeiro considerados traidores. Hoje abriga a biblioteca histórica do Serviço Geográfico do Exército.

Em uma localização geográfica privilegiada o Forte do Leme na Ponta do Vigia foi de extrema importância quando a cidade do Rio de Janeiro estava limitada entre os morros do Castelo, São Bento, Conceição e Leme. Era uma ostensiva barreira nas tentativas de invasão pelo Morro da Babilônia. Foi lá que serviu o alferes Joaquim José da Silva Xavier pouco antes de ser preso. O forte só recebeu armas em 1823 quando era temido um ataque da esquadra portuguesa após a independência do país. Durante a Regência Trina foi desarmado só voltando a defender a costa em 1863 por ocasião da “Questão Christie”. Foi logo depois abandonado, chegando às ruínas e dele somente restou o imponente portão construído entre 1776 e 1779. Reconstruído em 1913 no governo de Marechal Hermes da Fonseca, o forte passou a se chamar Forte Duque de Caxias por determinação de Getúlio Vargas em uma homenagem à fidelidade ao governo durante a Intentona Comunista. Abriga desde 1965 o Centro de Estudos de Pessoal do Exército.

O Forte de Copacabana foi a última fortificação construída no Rio de Janeiro. Inaugurado pelo Marechal Hermes da Fonseca, em 1914, como a mais moderna praça de guerra da América do Sul. Seus canhões Krupp atingiam alvos até 23 km de distância e silenciaram em 1987. O forte passou a ser sede do Museu Histórico do Exército Brasileiro. É um ponto turístico da cidade muito visitado, de onde são admiradas algumas das mais belas vistas cidade, como a Praia de Copacabana, o Arpoador e a entrada da Baía de Guanabara.

O Forte Tamandaré, antes Forte da Laje, fica localizado na Ilha da Laje sobre uma pedra chata de 100 metros de extensão por 60m de largura. A ilha, situada na entrada da baía foi ocupada em 1555 pelos invasores franceses que a chamavam La Ratier (ratoeira ou armadilha), porém foi abandonada logo em seguida devido à maré que em dias de tempestade inundava a ilha ameaçando a guarnição. A primeira fortificação foi concluída no governo do Marquês de Lavradio. Destruída durante a revolta da armada, passou por obras de reconstrução de 1896 a 1901. Por ocasião da República Velha, participou juntamente com a Fortaleza de Santa Cruz de um levante militar contra o então presidente Marechal Floriano Peixoto. Também lá estiveram presos personagens históricos como José Bonifácio e o poeta Olavo Bilac. Em 1997 foi desativada.

Na ilha de Boa Viagem, semi-ocultas pela vegetação, pode-se encontrar o Forte de Boa Viagem e a Igreja de Nossa Senhora de Boa Viagem. O forte está em ruínas, pois foi duramente bombardeado durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Em 1808, com a vinda da Família Real e o aumento da movimentação portuária no Rio de Janeiro devido à abertura às nações amigas, o forte servia como abrigo de quarentena a quem chegava ao país. De 1810 a 1876 o local sediou a Escola de Aprendizes de Marinheiros. Em 1938 o conjunto é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e hoje recebe visitas turísticas guiadas.

Construídos com finalidades diversas e estratégicas de defesa, os fortes e fortalezas são o monumento mais imponente de uma época de formação de países e delimitação de territórios. As histórias que se passaram por seus muros, masmorras e celas se transformam em um livro aberto a quem tiver a oportunidade de visitá-los. Aqui não estão listados todos eles, mas nenhum desmerece mais o outro, visto que eram todos de extrema importância nas defesas do Rio de Janeiro e do Brasil, formando uma rede protetora, cada um com seu papel estabelecido.

As muralhas de uma fortaleza desvendam paisagens esplêndidas e por si só já valem uma visita. Suas masmorras, muitas vezes sem qualquer tipo de ventilação só podem dar um vislumbre do horror por que passavam os prisioneiros a ela destinados. A forca, os fossos que se enchiam com as marés e as celas pequenas e úmidas de frente para eles são um capítulo a parte na questão dos castigos e execuções perpretados naqueles tempos. As baterias, alinhadas com seus canhões inativos e as minúsculas vigias que revelam um mar quase sempre calmo e azul, estão impregnadas de histórias nem sempre bonitas, nem sempre gloriosas ou heróicas, mas que contam as lutas externas e internas do país. Quem entra pelos portões de um forte sai de lá com um peso maior nas costas, com um brilho maior no olhar e com uma infinita sensação de ser pequeno diante do que aconteceu ali, enquanto o Brasil fazia sua história.


Baterias alinhadas na fortaleza de Santa Cruz

 

Esclarecendo:

A Questão Christie foi um incidente diplomático entre Brasil e Inglaterra. Ela dizia respeito a dois episódios distintos; um navio inglês que naufragou no litoral do Rio Grande do Sul, em 1861 tendo sua carga saqueada sem que o Brasil encontrasse a carga nem os culpados, foi uma delas. Um ano depois três oficiais da marinha inglesa foram presos embriagados, por perturbação da ordem e soltos logo depois. O diplomata britânico William Christie exigiu indenização para o primeiro caso e julgou o segundo como uma ofensa a marinha inglesa. Leopoldo I da Bélgica foi o mediador no caso e deu ganho de causa ao Brasil. Apesar disso a Inglaterra não aceitou a decisão e houve o rompimento das relações diplomáticas que só foram retomadas em 1865 quando a Inglaterra se desculpou com o Brasil.

A diferença entre Fortaleza e Forte é que a primeira possui duas ou mais baterias de artilharia localizadas em espaços independentes e com grande distância entre si e o segundo possui apenas uma ou duas baterias". (http://www.jornaleco.net/fatima/textos/fortesimpressoes.htm)

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Verbete da Wikipédia sobre uma das mais visitadas fortificações brasileiras [A Fortaleza "oferece visitas guiadas, dispõe de restaurante e loja de souvenirs. Tel(s).: (21) 2710-7840 ou 2711-0462 - r. 36", de acordo com

http://www.funceb.org.br/espacoCultural.asp?materia=265.]
 

"FORTALEZA DE SANTA CRUZ DA BARRA

Guanabara-bay.jpg
Fortaleza de Santa Cruz da Barra, Niterói (RJ), Brasil.
Brazilian States.PNG
 
Construção Filipe III de Espanha (1612)
Estilo Abaluartado
Conservação Bom
Aberto ao público Sim

A Fortaleza de Santa Cruz da Barra localiza-se no lado oriental da barra da baía de Guanabara, no bairro de Jurujuba, município de Niterói, no estado brasileiro do Rio de Janeiro.

Cruzando fogos com a Fortaleza de São João e com o Forte Tamandaré da Laje, constituiu a principal estrutura defensiva da barra da baía de Guanabara e da cidade e porto do Rio de Janeiro durante o período da Colônia e do Império. Encontra-se guarnecida até aos dias de hoje, atraindo uma média de dois mil visitantes por mês, em visitas guiadas, de hora em hora, com a duração de cerca de 45 minutos. Atualmente, é a sede da Artilharia Divisionária da 1ª Divisão de Exército.

Índice

História

Antecedentes

Alguns autores repetem, incorretamente, que a primitiva ocupação de seu sítio remonta a uma defesa improvisada por Nicolas Durand de Villegagnon à entrada da barra (1555), artilhada com duas peças e ocupada por forças portuguesas no contexto da campanha de 1565-1567, esquecidos de que as narrativas das fontes coevas se aplicam à tentativa de instalação de uma bateria na Ilha da Laje, fortificada pelos portugueses muito mais tarde.

Ver artigo principal: Bateria Ratier

A bateria de Nossa Senhora da Guia

 

Entrada da barra da baía de Guanabara: note-se a Fortaleza de Santa Cruz à direita.

Ver artigo principal: Bateria de Nossa Senhora da Guia

A posição foi efetivamente ocupada pelos portugueses a partir de 1584, quando foi erguida uma bateria, sob a invocação de Nossa Senhora da Guia, na segunda gestão de Salvador Correia de Sá, "o velho", enquanto governador da Capitania Real do Rio de Janeiro (1577-1599).

Em 1599, essa bateria repeliu a esquadra sob o comando do almirante neerlandês Olivier van Noort, indevidamente reputado por alguns autores como corsário. De acordo com os diários de bordo, a esquadra, vítima de escorbuto, buscava "refrescos" (suprimentos frescos e água potável), o que foi negado pelas autoridades coloniais portuguesas, receosas de um ataque (PEIXOTO, 1932:7-8).

A fortaleza de Santa Cruz da Barra

Em 1612, sob o reinado de Filipe III de Espanha, contando com vinte peças de artilharia de diversos calibres, passou a ser denominada como Fortaleza de Santa Cruz da Barra, tendo o seu regimento sido aprovado em 24 de Janeiro de 1613 pelo governador da Capitania, Afonso de Albuquerque (1608-1614) (em outras fontes, D. Álvaro Silveira e Albuquerque), que teria determinado a escavação de cinco celas na rocha viva, com as dimensões de dois metros de altura por sessenta centímetros de largura.

As invasões holandesas do Brasil

 

Fortaleza de Santa Cruz vista do Pão de Açúcar.

No início do século XVII, após a invasão holandesa de Salvador (1624-1625), a defesa da barra do Rio de Janeiro foi reforçada no segundo governo da Capitania do Rio de Janeiro por Martim Correia de Sá (1623-1632), conforme figurado por João Teixeira Albernaz, o velho ("Mapa da Capitania do Rio de Janeiro", 1631. Mapoteca do Itamaraty, Rio de Janeiro), onde se detalha em perspectiva a "A Fortaleza [de] Santa Cruz que o governador Martim de Sá fez à custa de sua fazenda depois que os rebeldes [neerlandeses] entraram na cidade da Bahia (...)", relacionando-lhe as defesas, a artilharia ("dezessete peças em função":

  • duas de bronze de nove libras de bala
  • duas de bronze de dez libras de bala
  • uma de bronze de dezoito libras de bala
  • uma de bronze, francesa, de dezoito libras de bala
  • uma de bronze de trinta e oito libras de bala
  • dois pedreiros de bronze
  • oito de ferro),

e a guarnição (um capitão e um alferes, vinte soldados e um bombardeiro).

Está representada como Fortaleza de Santa Cruz por Manuel Vaz Pereira ("Demonstrasão da barra do Rio de Janeiro e Planta da Laje", 1645. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa), por João Teixeira Albernaz, o moço ("Aparencia do Rio de Janeiro", 1666. Mapoteca do Itamaraty, Rio de Janeiro), e assinalado por Andreas Antonius Horaty ("Rio di Gennaro", c. século XVIII. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro).

As invasões francesas do século XVIII

Tendo as suas defesas sido reforçadas no final do século XVII pelo governador da Capitania, Sebastião de Castro Caldas (1695-1697), o fogo da sua artilharia, com o apoio do da fronteira Fortaleza de São João, repeliu a esquadra de cinco navios e mil homens do corsário francês Jean-François Duclerc (1671-1711), em 6 de Agosto de 1710.

Se não impediu a invasão de 18 navios, 740 peças de artilharia, dez morteiros e 5.764 homens do corsário francês René Duguay-Trouin, em Setembro de 1711, foi por se encontrar desguarnecida por ordem do então governador, Francisco de Castro Morais (1710-1711) (GARRIDO, 1940:106). Contava então com quarenta e quatro peças e foi ocupada pelos franceses até à sua retirada, em 13 de Novembro de 1711 (BARRETTO, 1958:202).

O ouro das Minas e a transferência da Capital

A fortaleza encontra-se descrita, em meados do século XVIII, por um viajante francês:

"A Fortaleza de Santa Cruz, a mais importante do país, está situada sobre a ponta de um rochedo, num local onde todos os barcos que entram ou saem do porto são obrigados a passar a uma distância inferior ao alcance de um tiro de mosquete. A fortificação consiste numa compacta obra de alvenaria de 20 a 25 pés de altura, revestida por umas pedras brancas que parecem frágeis. Sua artilharia conta com 60 peças de canhão, de 18 e 24 polegadas de calibre, instaladas de modo a cobrir a parte externa da entrada do porto, a passagem e uma parte do interior da baía [de Guanabara]. Cada uma das peças referidas foi colocada no interior de uma canhoneira, o que gera um inconveniente: mesmo diante de um alvo móvel, como um barco à vela, elas só podem atirar numa única direção." (tradução livre do manuscrito Relâche du Vaisseau L'Arc-en-ciel à Rio de Janeiro, 1748. Biblioteca Nacional da Ajuda, Lisboa, apud: FRANÇA, 1997)

Com a transferência da Capital, do Salvador para o Rio de Janeiro (1763), uma de suas reformas mais importantes ocorreu no governo do vice-rei, D. António Álvares da Cunha, 1° conde da Cunha (1763-1767), que determinou a ampliação do seu poder de fogo, visando proteger o embarque do ouro e diamantes das Minas Gerais, então efetuado no porto do Rio de Janeiro para Lisboa.

É desta fase o Plano da Fortaleza de Santa Cruz, novamente reedificada, pelo Conde da Cunha, em o ano de 1765 (AHU, Lisboa) (IRIA, 1966:76). Segundo LAYTANO (1959), ao tempo do Vice-rei D. José Luís de Castro (1790-1801), este fez instalar vinte e nove peças de artilharia em uma nova Bateria baixa (à flor d'água), no mesmo nível de uma outra, que existira anteriormente. De acordo com planta no Arquivo Histórico do Exército (AHEx, Rio de Janeiro), esse e outros pequenos acréscimos foram introduzidos em 1793.

Império: da regência à Questão Christie

 

Fortaleza de Santa Cruz da Barra: "Salão de Pedra" (antigo paiol).

À época do Império, durante o Período regencial, o Decreto de 24 de Dezembro de 1831, determinou a redução do seu armamento à metade, ficando apenas uma peça de artilharia em bateria e outra sob abóbada ou rancho de palha (SOUZA, 1885:103). Em 1838 encontrava-se artilhada com 112 peças, e guarnecida por 1.568 homens, sob o comando do Coronel João Eduardo Pereira Colaço Amado (GARRIDO, 1940:106).

No contexto da Questão Christie (1862-1865), as suas defesas foram reforçadas com a construção de casamatas à Haxo sobre a antiga bateria ao nível do mar, em três pavimentos: 20 casamatas no inferior, 21 no intermédiário, e uma bateria à barbeta no superior (SOUZA, 1885:103), erguidas entre 1863 e 1870, ano em que se construíram os dois pontilhões que ligam a antiga "Bateria 25 de Março" ao segundo pavimento das novas casamatas. Recebeu moderno armamento estriado nas casamatas (1871), mantendo-se as peças antigas, de alma lisa, nas baterias descobertas. Iniciaram-se obras no Quartel da Tropa (1872), o paiol de pólvora, destruído por uma faísca elétrica, foi reconstruído (1875), concluindo-se a modernização da praça em 1877. Posteriormente foram instaladas Enfermaria, Farmácia e iluminação a gás carbônico (carbólico? 1882) (GARRIDO, 1940:106-107). Encontrava-se artilhada, em 1885, por cento e quarenta e cinco peças de grosso calibre (135 em 1831, cf. GARRIDO, 1940:106; 135 em 1730, cf. BARRETTO, 1958:202), guarnecida pelo 1º Batalhão de Artilharia a Pé (cf. Decreto de 18 de Abril de 1874), servindo ainda de Registro para os navios à entrada da baía (SOUZA, 1885:104).

A República Velha

Quando da eclosão da Revolta da Armada (1893-1894), trocou tiros com o Encouraçado Aquidabã (capitânea) e os Cruzadores Javari e Trajano, das 14 às 16h de 30 de Setembro de 1893. Posteriormente, na madrugada de 1 de Dezembro desse mesmo ano, as suas baterias abriram fogo contra o Encouraçado Aquidabã e o Cruzador auxiliar Esperança, enquanto o primeiro atraía o fogo da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de Villegagnon para proteger a saída do segundo pela barra. Fez fogo novamente sobre o Encouraçado Aquidabã e o Cruzador República, quando ambos forçaram a saída da barra a 21 de Fevereiro de 1894.

Passou a ser guarnecida pelo 1º Grupo de Artilharia de Posição (1910), sucedido pelo 1º Grupo de Artilharia de Costa (GACos) (BARRETTO, 1958:206), a partir de (1 de Agosto de 1917, ao final da Primeira Guerra Mundial.

Em 1922, no contexto das revoltas do Tenentismo, a sua artilharia abriu fogo contra o Forte de Copacabana (5 de Julho de 1922).

Disparou 33 tiros, no contexto dos levantes tenentistas de 1924, contra o Cruzador São Paulo, que, amotinado sob a liderança do tenente da Marinha Hercolino Cascardo (4 de Novembro), com o fogo de suas armas, forçou a barra da baía de Guanabara rumo a Montevidéu, onde os rebeldes obtiveram asilo político (Nosso Século, v. 2:223).

O último disparo de sua artilharia foi um tiro de advertência, por ordem dos militares legalistas sob o comando do marechal Teixeira Lott, contra o Cruzador Tamandaré, que forçou a barra na Novembrada (11 de Novembro de 1955), transportando Carlos Luz e alguns Ministros rumo a Santos.

Os nossos dias

 

Fortaleza de Santa Cruz: bateria de canhões.

De propriedade do Ministério da Defesa, sob a administração do Exército, a Fortaleza de Santa Cruz e todo o conjunto de edificações situadas após o portão contíguo ao canal (área construída de 7.153 m²), foram tombadas pelo Patrimônio Histórico Nacional desde 1939. A partir de 2002 vêm sendo procedidas obras de restauração, com recursos oriundos do BNDES, através de convênio com a Fundação Cultural do Exército (FunCEx), compreendendo obras de construção de esgoto sanitário, recuperação de telhados (atacados por cupins), restauro do emboço e pintura externa, impermeabilização da laje do Pátio de Comando e do Salão de Pedras (antigo paiol).

Atualmente, o visitante encontra quarenta e duas antigas peças de artilharia, de diversos períodos, distribuídas pelas três baterias.

Desde 2005 as suas instalações sediam o Quartel-general da Artilharia Divisionária da 1ª Divisão de Exército, ligada à 1ª Divisão de Exército e ao Comando Militar do Leste.

Características

Com uma área construída de 7.153 metros quadrados, o conjunto apresenta planta poligonal irregular, onde poder ser identificados três períodos de arquitetura militar:

  • O primeiro, remontando ao século XVII, com trechos das primitivas muralhas, a chamada Cova da Onça, as cumuas (sanitários) e a Capela de Santa Bárbara;
  • O segundo, caracterizado pela reconstrução no século XVIII, salientando-se trechos das muralhas, as guaritas, as celas dos calabouços, e a cisterna, inaugurada em 1738 no governo de Gomes Freire de Andrade (1733-1763);
  • O terceiro, da segunda metade do século XIX, representado pelo chamado Salão de Pedras (paiol de munição, 1875), pelos pátios e galerias (Galeria 2 de Dezembro, Galeria 25 de Março) e pelas baterias (Bateria de Santa Teresa, ou Bateria do Imperador), em cantaria de granito, guarnecidas por canhões.

Para o visitante recomenda-se apreciar o relógio de sol (em pedra de lioz, com algarismos romanos, datado de 1820), a Capela de Santa Bárbara, as masmorras, a chamada Cova da Onça (alegado local de torturas), o local de enforcamentos (no Pátio da Cisterna), o paredão de fuzilamentos (na Galeria 25 de Março), o Salão de Pedra (antigo paiol), as baterias de artilharia, a cisterna, o farol, o mastro da bandeira e a vista privilegiada da barra e da cidade do Rio de Janeiro.

Na escarpa percorrida pela trilha que liga a fortaleza ao Forte de São Luís, encontram-se ocultas pela vegetação as antigas baterias de canhões Krupp que batiam a costa atlântica na primeira metade do século XX.

A Capela de Santa Bárbara

 

Fortaleza de Santa Cruz: altar e imagem de Santa Bárbara.

Uma das mais antigas do Rio de Janeiro, remonta ao alvorecer do século XVII, sob o governo do Capitão Geral da Capitania Real do Rio de Janeiro, Martim Correia de Sá (1602-1608), tendo sido concluída em 1612. Assenta-se sobre a rocha viva, em posição dominante sobre a ponta de Santa Cruz, onde se erguia a bateria de Nossa Senhora da Guia, atualmente à esquerda de quem entra na fortaleza.

A capela foi reconstruída em 1912, por determinação do então comandante, coronel Inocêncio Ferreira de Oliveira, responsável ainda pela introdução da iluminação elétrica nas dependências da fortaleza.

Restaurada, conta com uma imagem original da santa, entalhada em madeira, em tamanho natural. Uma das lendas que cerca esta imagem, recorda as tentativas de transferi-la para outro local, no passado, sempre malogradas por inexplicáveis reviravoltas nas condições do mar, devido a mau tempo, primitivamente o único acesso aquele local isolado.

A lenda da filha do capitão

Reza a lenda local, acerca de um túmulo na parede da Capela de Santa Bárbara, que se trata do sepulcro da jovem Iracema, filha do capitão Potyguara, que, apaixonada por um cabo e impedida de viver o seu amor, atirou-se ao mar em Dezembro de 1906.

Curiosidades

Considerada como a principal defesa da barra da baía da Guanabara, foi personagem e palco de momentos importantes da história do Brasil:

Utilizada como presídio em diversas ocasiões da História do Brasil, no século XIX nela estiveram detidas figuras ilustres como o Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrade e Silva (1823), os líderes farroupilhas Onofre Pires e José de Almeida Corte Real (1836, que de lá se evadiram em 1837), Bento Gonçalves (1837) e Giuseppe Garibaldi (18??), o líder da Revolução Praieira, Pedro Ivo Veloso da Silveira (18??), o primeiro presidente uruguaio Fructuoso Rivera (1851), Euclides da Cunha (c. 1888?), o Capitão Juarez Távora, Alcides Teixeira e Estilac Leal (que dela escaparam com o auxílio de uma corda, a 28 de Fevereiro de 1930), o integralista Plínio Salgado (c. 1943?), o comunista Luís Carlos Prestes e o general Lott (c. 1955?), além de Juscelino Kubitschek e Darcy Ribeiro. Durante a Revolução de 1964, aí foram detidos Miguel Arraes e João Pinheiro Neto. A partir de 6 de Setembro de 1968 passou a sediar o Presídio do Exército, desativado em 1976.

Bibliografia

  • BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368 p.
  • FRANÇA, Jean M. Carvalho. Um visitante do Rio de Janeiro Colonial. Revista Brasileira de História. São Paulo: v. 17, n° 34, 1997.
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  • TINÉ, José Sales. História do Brasil (4a. ed.). Rio de Janeiro: Gráfica Muniz S/A, 1969. 140p. mapas.

Ver também

Ligações externas