(Miguel Carqueija)

Vocês assistiram MIB (Men in black), de Steven Spielberg? Então não deixem de ler esta história:
                                 

MULHERES DE BRANCO



     Numa noite tempestuosa de janeiro Ícaro Tambellini aproximou-se pingando de sua residência que era uma casa velha de subúrbio dando diretamente para a rua, mas ao entrar e acender a luz espantou-se ao deparar com dois homens completamente estranhos que se encontravam de pé e olhando para a porta, como se já o estivessem esperando no escuro e naquela atitude.  
     - O que é isso? Quem são vocês? – Ícaro voltou-se para a porta, que acabara de fechar a chave, mas um dos homens, o mais corpulento, falou:
     - Eu não faria isso. Temos de conversar sobre a revista.
     Só então ele percebeu que os dois usavam costumes negros, inclusive chapéus e sobretudos.
     Os temidos “men in black”... a revista já falara deles mas Ícaro, como um dos redatores, duvidava que realmente existissem.
     O mais baixo, como a sublinhar o ultimatum do colega, exibiu uma 38:
     - Afaste-se da porta, brother. Nós não viemos com intenções violentas.
     - Está se vendo... – balbuciou o jornalista, mirando o cano do “três-oitão”. – O que querem então?
     - Vamos sentar e conversar. Não precisa nos oferecer nada.
     Ícaro não tencionava mesmo oferecer nadinha a eles e anuiu silenciosamente.
     - Simplesmente – disse o homem maior, que permaneceu em pé enquanto o outro sentava numa poltrona – a sua revista não deve publicar a matéria sob a sua responsabilidade, a respeito dos etês de Laguna.
     - Ora essa! E por que não?
     - Senhor Tambellini. O senhor é um homem inteligente. Há muita coisa, nessa reportagem, muita inconveniência perturbadora, coisas incertas e perigosas que não devem ser tratadas em público.
     - E por que não? Vocês não representam o nosso governo. Não com esse sotaque.
     - Isso não importa – disse o homem sentado. – Nós representamos a humanidade inteira.
     - Isso eu duvido. Vocês simplesmente são aqueles que não desejam que a verdade venha à tona. Mas como diz o Chris Carter, “a verdade está lá fora” e vocês simplesmente não querem que ela chegue ao nosso planeta.
     - Não temos tempo para filosofar – disse o homem de pé. – O senhor, evidentemente, não está pronto para compreender a complexidade desse assunto. O senhor está pondo a mão num ninho de marimbondos.
     - Bush e Lula estão de acordo com vocês?
     - Isso é outra coisa irrelevante. Se esta reportagem vier a ser publicada as consequências poderão ser altamente desastrosas e o senhor não gostará de ter o resultado a seu débito. Portanto, a reportagem não sairá.
    - E se eu não obedecer e a publicar de qualquer maneira? Afinal, nem sei quais são as credenciais de vocês ou da sua agência.
     - Esqueça os filmes do Spielberg – falou o mais baixo, que se mantinha de arma em punho. – Não somos uma organização de palhaços; o senhor deverá nos levar a sério.
     Ícaro pensou, aflito, em como poderia ganhar algum tempo. Por que não ocorria alguma interrupção? Um celular que chama, uma campainha que toca...
     - O MESMO DIZEMOS NÓS!
     A interrupção almejada viera, milagrosamente! Brutal, de chofre. Ícaro olhou para o cortinado que ocultava o corredor que levava à cozinha e à copa; de trás dele haviam-se
materializado duas mulheres que à primeira vista pareciam médicas, com uniformes alvos. Porém médicas não costumavam portar armas pesadas, submetralhadoras.
     - Você, largue a arma! Ninguém se mova!
     O aturdimento tomara conta dos homens de preto. Aquele que portara a pistola teve de jogá-la no chão. Coberta pela loura, a coreana baixou-se e confiscou a 38.
     - Vocês de novo! – explodiu o homem alto. – Não podem desafiar o nosso poder!
     - Já estamos desafiando – ripostou a coreana. – Estrela, passe o pente fino!
     - É pra já, Ariel.
     - Como entraram aqui? – indagou o mais baixo.
     - Ora, da mesma forma que vocês!
     - Eu posso saber quem são? – perguntou timidamente Ícaro.
     - Ora! Eles não são os homens de preto? Pois nós somos as mulheres de branco! – esclareceu a sueca.
     - Deve estar gracejando – disse o rapaz, embasbacado.
     - O que! – exclamou aquela chamada Ariel. – É claro que nós existimos. Não somos tão antigas quanto os “men in black”, mas as “woman in white” são reais. Deve estar se perguntando o que nós somos. Bem, nós somos o reverso dos homens de preto. Somos contra ocultar a verdade e propagandear a mentira. A humanidade tem o direito de saber que disco voador existe e que as suas reais intenções são obscuras.
     Terminaram de “limpar” o arsenal particular dos homens e a coreana virou-se para o espantadíssimo Ícaro:
     - Preste atenção: você vai ser testemunha de um espetáculo raro!
     Estrela, sem deixar de empunhar a submetralhadora com a destra, retirou um objeto que parecia uma pequena luneta da algibeira peitoral de seu costume branco e apontou-o para os homens de preto. Estes, como em desespero de causa, avançaram de súbito; mas uma luz verde apanhou-os, imobilizou-os e rodeou-os com uma esfera transparente que ficou pairando a um metro do solo. Dentro eles se debatiam contra a película verde e gritavam a plenos pulmões, porém nada se escutava.
     - O que vocês fizeram? – indagou Ícaro, já no último grau de estupefação.
     - Nós os aprisionamos num campo de força – explicou Ariel, sorridente. – Temos um caminhão aí fora, na esquina, vamos estacioná-lo bem na sua porta e metê-los no compartimento de carga. Você não precisa se assustar: não vamos matar os dois sacripantas, vamos só provocar neles uma amnésia temporária e soltá-los lá pelo cais do porto. Eles não se lembrarão de você.
     - Se tudo isso é verdade eu terei muito que agradecer a vocês. Mas me digam: vocês acham que podem vencer essa gente? Eles representam os poderes oficiais do mundo!
     - Não se pode represar o oceano, meu caro. Mais dia, menos dia, a verdade toda virá à tona. Espere e verá.