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Ser filho ou parente próximo de alguém importante e conhecido não deve ser nada fácil – e louvo a coragem daqueles que, tendo pais artistas ou escritores, por exemplo, lhes seguem as pisadas. Mas às vezes existem nomes simplesmente tão grandes e poderosos que ameaçam apagar tudo à sua volta. Todos sabemos quem foi Sigmund Freud, o pai da psicanálise, mas até haver outro Freud famoso (o pintor Lucian Freud), foi preciso, no fundo, deixar passar uma geração (e olhem que o primeiro Freud tinha montes de filhos). O problema é que havia uma talentosíssima sobrinha do senhor Sigmund que ficou por conhecer durante anos… Chamava-se Martha, estudou desenho e pintura e ilustrou belíssimos livros infantis, mas assinava com um pseudónimo masculino (Tom Seidmann Freud) porque achava que o facto de ser mulher poderia representar um empecilho. Martha teve uma vida trágica, acabando por se suicidar (o tio sempre a achou um pouco louca), mas deixou uma extensa obra que hoje os críticos de arte estão a ressuscitar, retirando-a do esquecimento. Uma justiça talvez tardia.

Maria do Rosário Pedreira