No dia em que acordei com a terrível notícia de que Philip Roth morrera e o dia ficou escuro para tanta gente que o lia e amava, o Público trazia a notícia da estreia de um filme assinado por Miguel Gonçalves Mendes (o realizador de Autografia, sobre Cesariny, e José e Pilar, sobre Saramago) intitulado O Labirinto da Saudade. Para quem não saiba, este é também o título do livro mais emblemático de Eduardo Lourenço sobre os traumas de Portugal (uma espécie de síntese das suas ideias sobre o País) e é, de resto, sobre este grande ensaísta e pensador que versa o filme. Quem não o viu no dia dos 95 anos de Eduardo Lourenço (quarta-feira passada) tem hoje a última oportunidade de o ver na televisão (naquele mecanismo de ir atrás), mas também tem a possibilidade de o ver no cinema, pois estreou na quinta-feira em algumas salas. Não esperem, porém, nada parecido com os filmes anteriores; embora se fale da vida e da obra do mestre e se possam encontrar amigos seus (Lídia Jorge, José Carlos Vasconcelos) e admiradores (Ricardo Araújo Pereira), este filme é uma espécie de sonho, um passeio pela cabeça de Lourenço, como dizia Luís Miguel Queirós no artigo do Público, e ao mesmo tempo um requiem (segundo as palavras do próprio Eduardo), já que termina com a subida de uma escadaria em direcção ao céu e uma despedida de quem ficou cá em baixo, como se a morte estivesse ali ao lado e fosse altura de o grande senhor ir ter com ela. Graças a Deus, ainda o tínhamos connosco no dia seguinte. Já bastava a morte do Roth.